MRV (MRVE3) endereça preocupações sobre subsidiária nos EUA, mas analistas divergem sobre anúncio de projeções

XP considera o anúncio positivo, embora tenha ressalvas sobre as taxas para o negócio; BBI recebeu como negativo e abaixo de projeções

Camille Bocanegra

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Após a MRV&Co (MRVE3) divulgar prévia operacional do terceiro trimestre de 2023 (3T23) que não agradou muito o mercado por conta da expressiva queima de caixa (a ação caiu 10% na quarta-feira após prévia), a companhia deu mais informações sobre o futuro das suas operações em comunicado na noite de quinta-feira.

A companhia divulgou estimativas de  valor geral de vendas (VGV) da sua subsidiária americana, a Resia, que inclusive tinha queimado R$ 443 milhões em caixa no 3T23, abaixo da queima de R$ 969 milhões um ano antes, mas bem acima dos R$  71 milhões de reais consumidos no segundo trimestre. A subsidiária não relatou vendas no trimestre.

Já no comunicado de quinta-feira, foi destacada estimativa de um valor geral de vendas de R$ 2 bilhões até o fim de 2024 com os empreendimentos concluídos e em processo de locação da subsidiária.

Dos cinco empreendimentos da Resia já concluídos e em processo de locação, Biscayne Drive e Hutto Square estão com locação de 98% e 57%, respectivamente. Quanto a outros três empreendimentos, a empresa disse somente que já foi iniciada a locação.

“A Resia venderá o empreendimento Biscayne Drive no quarto trimestre de 2023 e as demais propriedades ao longo de 2024”, disse a construtora em comunicado. A MRV estimou “cap rate” de 5,8% com os empreendimentos, que somam 1.579 unidades para locação.

As visões do mercado sobre as novas informações sobre a Resia foram mistas.

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O Bradesco BBI viu o comunicado como negativo, mas considera que está “em grande parte precificado” para os papéis de MRV. Assim, mesmo com os números melhorados para a Resia, ainda assim a expectativa está 22% abaixo das projeções do banco, “o que pode resultar em revisões negativas para nossas estimativas para 2024, a menos que as operações de desenvolvimento no Brasil melhorem mais cedo do que o esperado”, entende.

O banco mantém a ação da construtora com recomendação de compra, ainda mais levando em conta potencial de alta na operação do Brasil. O preço-alvo estabelecido é de R$ 20,00, considerando R$ 15 da MRV. “Continuamos vendo a Resia como uma opção a longo prazo, apesar do cenário desafiador a curto e médio prazo”, esclarece.

Para o BBI, a notícia não deveria ser mal recebida, uma vez que “já atribui valor zero à Resia a preços atuais”.

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A XP está entre os nomes que consideram o anúncio como positivo, porque a ausência de informações sobre operações de curto prazo era mais prejudicial. A corretora também tem recomendação de compra para MRVE3, com preço-alvo de R$ 17,00.

“Em nossa opinião, o anúncio traz um impacto positivo em termos de melhoria da visibilidade de curto prazo das operações da Resia, reafirmando o compromisso da MRV em executar uma agenda de reciclagem de projetos”, considera a XP.

Ygor Altero e Ruan Argenton, head e analista de setor imobiliário do Research da XP, comentam que é importante observar que a necessidade de geração de liquidez por parte da Resia poderia exercer pressão sobre os preços de venda.

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“Isso é especialmente relevante considerando o desafiador cenário de aumento das taxas de cap-rate (capitalização) nos EUA, afetado por incertezas em relação ao término do ciclo de alta das taxas de juros. Para enfrentar esses desafios, avaliamos o valor potencial de vendas do portfólio de curto prazo da Resia sob diferentes cenários de taxa de capitalização”, apontam os analistas.

Assim, no cenário base considerado no relatório, há consideração de um valor de vendas de cerca de US$ 417 milhões, com uma taxa de capitação de 5,8%.

(com Reuters)