MRV (MRVE3) afirma que o pior já passou, mas vendas do passado ainda pressionam margens; ação sobe 6,3% após balanço

Números do trimestre foram considerados fracos, mas já precificados; analistas também ficam de olho em gatilhos que podem impulsionar operações

Augusto Diniz

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Rafael Menin, copresidente da MRV (MRVE3), abriu a teleconferência dos resultados do 4T22 nesta quinta (9), dizendo que a “fotografia do trimestre e do ano não é uma fotografia bonita”. De fato, os resultados da empresa no período foram considerados ruins pelos analistas de mercado, ainda que as ações tenham uma sessão positiva pós-balanço.

Contudo, ressalta, a MRV tem feito um esforço para separar as vendas mais antigas com as mais recentes. Nesse contexto, as margens das novas vendas tem apresentado um resultado positivo crescente. A questão é que as vendas mais antigas – a chamada safra de 2020 e 2021 – ainda passam pelos resultados trimestrais da empresa.

“A margem bruta contábil da companhia ainda tem sido negativamente impactada pelas safras de 2020 e 2021 – 60 a 70% passando pela DRE (Demonstrativo do Resultado do Exercício) -, que tiveram um volume de vendas mais alto e possuem margem bruta mais baixa, devido à forte pressão inflacionária enfrentada pelo setor nos últimos anos”, explica Ricardo Paixão, CFO da MRV.

“A gente enfrentou uma enorme inflação no período, o fluxo de caixa deteriorou parte pela operação da MRV com rentabilidade muito menor, mas também pelos pesados investimentos feitos na Resia, principalmente, em landing bank, na Lugo e na Urba. Esses investimentos aconteceram num cenário de juros crescentes e isso fez com que a companhia tivesse impacto no DRE, mas também na alavancagem da empresa”, disse Menin.

Após os resultados do quarto trimestre, as ações MRVE3 avançaram 6,38%, a R$ 6,34, nesta quinta-feira. Isso apesar da companhia ter registrado prejuízo de R$ 333 milhões, revertendo lucro de igual período do ano anterior.

A companhia, maior construtora de imóveis residenciais do Brasil, porém, reduziu o consumo de caixa para R$ 535 milhões nos três meses encerrados em dezembro ante o montante de R$ 1,2 bilhão consumido no terceiro trimestre, o que foi visto como um ponto positivo. Além disso, novidades sobre o Minha Casa Minha Vida também ajudaram a impulsionar os papéis.

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De acordo com o Bradesco BBI, os números financeiros apresentados foram muito fracos, mas amplamente esperados e já refletidos no desempenho das ações (queda acumulada de 19% no ano até a véspera).

“Vemos a ação MRVE3 profundamente descontada, mas após grandes decepções nos últimos trimestres, acreditamos que uma recuperação dependerá de uma clara indicação de um ponto de virada na geração de caixa. Para suas operações Minha Casa Minha Vida (MCMV) tradicionais, não esperamos que isso aconteça antes do segundo semestre, mesmo apesar da margem de novas vendas apontando na direção certa”, avaliam os analistas.

Uma surpresa positiva poderia vir, a nosso ver, do recém-lançado programa de habitação social na cidade de SP (Pode Entrar), que poderia aliviar os covenants da MRV se a empresa ganhar a licitação, com resultados esperados nas próximas semanas, apontam os analistas da casa.

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Ao comentar os destaques da teleconferência, o Itaú BBA ressalta que a administração enfatizou o compromisso da empresa com a recuperação da margem bruta e geração de caixa, além de expressar confiança de que o pior já passou.

“Suas declarações no release e durante a teleconferência de resultados não implicam, contudo, em mudanças em nossa postura conservadora em relação à empresa”, apontam os analistas da casa, que possuem recomendação equivalente à neutra (marketperform, desempenho em linha com o mercado) para a ação, com preço-alvo de R$ 9. Mais cedo, o banco destacou que os números da companhia não foram tão ruins quanto esperado, mas ainda não são convidativos para os analistas ficarem mais positivos com a tese de investimento na empresa.

Margem consolidada apertada

Ricardo Paixão explicou que a meta é alcançar margem bruta com novas vendas em 33% no 4T23 – o 4T22 fechou em 29%. Ele prevê subida maior das margens no segundo semestre de 2023. “A nossa métrica e que a gente vai ter mais um pouco de queima de caixa até o meio do ano e o segundo será um semestre que geração caixa”, disse.

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No entanto, a projeção da margem bruta consolidada da empresa, com a chamada safra de vendas de 2020 e 2021, deve fechar esse ano em 25 a 26% – no 4T22, a margem bruta fechou em 20,2%.

“Por outro lado a gente vê com otimismo o futuro da empresa porque os ajustes de rota feitos a partir do meio do ano passado já começaram a aparecer na operação da companhia”, complementou.

Ele exemplifica que o investimento em landing bank em 2023 e nos próximos dois anos será muito menor do que o tamanho da companhia e as subsidiárias também não demandarão mais capital.

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“Estamos começando novo ciclo a partir de 2023. A gente continua enxergando o preço de venda subindo, o custo estável e volume de venda aumentando”, comentou Menin. Segundo a empresa, o ano começou forte em vendas. “Tenho a convicção absoluta que o pior já passou e iremos entregar no mínimo o que prometemos”, declarou.

“Conquistamos ao longo dos últimos meses um ganho muito importante de preços. Não está em nossa estratégia recuar em preço”, pontuou Menin. Ele relacionou a redução da alavancagem, geração de caixa, maior volume de vendas com preço mais alto mês a mês são objetivos centrais da empresa.

Minha Casa Minha Vida

Durante a teleconferência, Eduardo Fischer, co-presidente da MRV, disse que as discussões do Minha Casa Minha Vida estão ainda em andamento. ”O governo atual está demorado em apontar quem vai de fato sentar e decidir. Então, essas discussões ainda não estão maduras, mas há um cheiro do caminho que vai apontar”, disse.

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“O governo tem uma visão do plano habitacional de qualquer forma, o que é bom. Pela primeira vez nestes últimos quatro anos a gente deve ter sim uma parte do orçamento da União para dar suporte aos subsídios. A gente entende que a maior parte desse dinheiro vai ser alocado no faixa 1 no modelo que existia no passado. A princípio, a MRV não tem interesse em participar desse modelo”, comentou.

Mas Fischer esclareceu que existem estudos do governo para atender rendas mais baixas, pouco acima da faixa 1, que estão dentro do portfólio da MRV, que seria benéfico para a empresa. Ele crê que as diretrizes do novo programa habitacional devem sair até o final do semestre.

O município de São Paulo lançou o programa habitacional Pode Entrar, buscando oferecer 40 mil unidades às famílias de menor renda, a serem contratadas ainda no ano de 2023. Eduardo Fischer disse que a MRV entrou com mais de 6 mil unidades para participar do programa.

“A gente está bem situado para ganhar uma parte de dessas unidades que a gente protocolou”, citou. Ele disse que são obras com margem bruta menor, mas com margem líquida maior, fora antecipação de recursos previstos. A MRV elogiou o modelo do programa que é favorável na geração de caixa.

“O ano começa muito bem. Demanda forte. A venda vem bem. A gente continua com a estratégia de evolução de preço. A gente começa o ano de 2023 bem melhor do que começamos o ano de 2022”, finalizou Fischer.