Movimento do dólar impacta (e muito) as ações brasileiras; veja principais afetadas

Analistas do Bradesco BBI fizeram estudo comparativo e destacam que o câmbio afeta mais o mercado de ações doméstico do que no México, com as aéreas entre as mais impactadas com dólar alto

Lara Rizério

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Em meio à forte volatilidade no mercado de câmbio e com o dólar chegando a superar os R$ 5,70 neste ano para depois amenizar os ganhos nas últimas semanas, o Bradesco BBI destacou o efeito também para o mercado de ações brasileiro (assim como o mexicano).

O BBI avalia que as moedas têm sido o principal impulsionador dos retornos das ações da América Latina este ano, com o peso mexicano e o real aparecendo como duas das moedas globais mais fracas este ano.

A fraqueza foi desencadeada por preocupações políticas, de políticas domésticas e pelo desenrolar do carry trade (tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas), pois o Japão começou a normalizar a sua política. Mais recentemente, o enfraquecimento do dólar americano seguiu a perspectiva crescente do investidor para um corte dos juros de 200 pontos-base (bps) nos EUA no próximo ano e forneceu algum suporte recente para moedas de mercados emergentes.

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Para o banco, o real é visto como mais forte, vendo a recente divergência cambial entre uma moeda em recuperação e uma contínua fraqueza do peso mexicano.

Já o real mais forte seria ajudado por cinco fatores. São os seguintes: 1) altas taxas de juros por mais tempo, com a Selic em 10,50% ao longo do próximo ano, e investidores precificando 100 bps mais alto no curto prazo; 2) carry trade diminuindo, mas não fora do radar, ​​já que o diferencial da taxa de juros do Brasil com as taxas de juros dos mercados desenvolvidos permanece alto e sua volatilidade cambial menor do que pares como o peso mexicano; 3) valuation mais barato, com a avaliação da taxa de câmbio efetiva real (REER) de longo prazo do real perto de um desvio padrão abaixo da média; 4) reancoragem gradual da política fiscal e monetária, enquanto o governo se prepara para enviar sua proposta de orçamento de 2025 e nomear um novo chefe do Banco Central e 5) perspectiva de mercado para 200 bps de cortes na taxa de política do Fed, restringindo o já caro dólar americano. Os economistas do Bradesco preveem que o dólar terminará este ano em R$ 5,30 e se valorizará ainda mais no ano que vem, para terminar em R$ 5,10.

O peso mexicano é visto como modestamente mais fraco, pois navega por alguns obstáculos como a reforma judicial tripla, mudança na presidência e preocupações com as eleições dos EUA no curto prazo.

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“Os cortes de taxas dos EUA são um suporte duplo de macro e rotação de mercado para mercados emergentes”, avalia o BBI, que é neutro em Brasil, pois vê necessidade de catalisadores de política fiscal e monetária.

Setores mais sensíveis

Os estrategistas do BBI apontam que, relativamente, o mercado de ações do Brasil parece isolado aos movimentos cambiais. Tem uma economia fechada com baixo comércio na relação com PIB e com empresas listadas no Ibovespa gerando apenas cerca de um quarto de suas vendas totais do exterior. Em contraste, as empresas mexicanas geram uma proporção maior de vendas do exterior em média, e o comércio é uma proporção maior da economia, enquanto ambos os países ficam significativamente atrás das economias exportadoras europeias e do leste asiático, mais abertas.

No Brasil, os setores discricionários e industriais são os mais sensíveis ao câmbio. Ao observarem as reações dos investidores à fraqueza da moeda, calculando o beta (medida de volatilidade) do preço das ações para a moeda desde 2017, as ações do Brasil têm um beta médio de 0,9 vez e as ações do México possuem um beta menor, de 0,6 vez.

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Os setores discricionários de consumo, liderados pelas companhias aéreas, e industriais, pelos automóveis, são os mais sensíveis, enquanto os bens de consumo básicos são os menos sensíveis. Materiais e Serviços de Comunicação são os setores onde as ações mexicanas são mais impactadas do que seus pares brasileiros pelo câmbio.

Enquanto isso, as ações brasileiras são muito mais afetadas pelos movimentos do câmbio do que as ações mexicanas. Como seu beta de mercado de ações mais alto e a dinâmica de contágio do câmbio sobrecarregam os fundamentos de um mercado de ações e economia mais “fechados”.

O banco aponta que um real mais fraco alimentou um “ciclo de destruição” de maiores expectativas de inflação e taxa de juros, piorando a dinâmica da dívida e uma economia mais fraca. Enquanto isso, o México é uma economia e mercado de ações mais abertos, apresentando: menor alavancagem, contas fiscais que apresentam melhoria em dólares (dadas as exportações de petróleo), entradas de remessas e uma “âncora” mais firme do banco central.

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Ações mais sensíveis à moeda

Os estrategistas do BBI observaram como as ações reagiram às mudanças cambiais historicamente, observando dados de preços semanais desde 2017 para o Brasil e México. Esta metodologia analisa como as ações realmente reagiram, em vez da análise fundamental mais típica dos níveis de dívida e métricas de receita no exterior que analisam como as ações devem reagir.

De acordo com as suas estimativas, uma queda de 10% no real brasileiro historicamente levou a uma queda de 9% no Ibovespa, enquanto para o Mexbol, o impacto seria um pouco menor, com um declínio de 6%.

Quem são os vencedores e os perdedores?

Vencedores – As companhias aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), CVC (CVCB3), educacionais, nomes sensíveis à taxa de juros, Eletrobras (ELET3;ELET6) e distribuidoras de combustível são todos desproporcionalmente beneficiados por um real mais forte e devem ganhar no cenário das previsões dos economistas do BBI.

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Perdedores – As ações de celulose são as únicas com beta positivo para um real mais fraco, seguidas por agricultura, proteína e os setores defensivos de telecomunicações e serviços públicos (como concessionárias). Assim, eles sofreriam relativamente com a previsão de força adicional do real.

“Em geral, os bancos são mais sensíveis às mudanças cambiais do que presumimos, potencialmente dada sua exposição a uma desaceleração do PIB compensando margens de juros líquidas (NIM) mais altas, por exemplo”, avalia o banco.

Confira abaixo o gráfico que mede o impacto de 10% de queda do real frente o dólar no desempenho das ações (2007-2023):

Fonte: Refinitiv Workspace, Bloomberg, Bradesco BBI

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.