Movida (MOVI3): ação vai de queda à disparada após resultado fraco, mas com ponto positivo sobre alavancagem

Movida reportou uma queda  sequencial de R$ 742 milhões na dívida líquida no trimestre, para R$ 10,8 bilhões, com “cessão de direitos creditórios”

Lara Rizério

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As ações da Movida (MOVI3) registraram uma sessão de volatilidade nesta terça-feira (7), após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22). Após abrirem em queda (que chegou a ser de 3,37%, a R$ 6,31), as ações zeraram as perdas ainda na primeira meia hora do pregão, digerindo o balanço impactado por uma depreciação do seu imobilizado e alta despesa financeira, mas com uma visão dos analistas positiva sobre a empresa. Ainda de manhã, as ações viraram para ganhos e fecharam com alta de 8,88%, a R$ 7,11.

A locadora de veículos teve uma queda do lucro de 93,6% no quarto trimestre de 2022 em relação ao mesmo intervalo de 2021, para R$ 17,8 milhões. No release de resultados, a empresa aponta que o aumento da taxa básica de juros gerou uma maior despesa financeira, levando a cifra a recuar 32,1% no acumulado do ano passado, para R$ 556 milhões.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) consolidado alcançou R$ 858,2 milhões de outubro a dezembro, alta de 10,5% sobre igual intervalo de 2022. A margem Ebitda (sobre receita líquida total) foi de 31,7% no período, queda de 12,9 pontos na comparação anual.

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Conforme destaca a Eleven Financial, a Movida registrou resultados mais fracos do que as suas estimativas no 4T22,
impactada por maiores despesas no aluguel de carros (RAC), e pela contínua normalização das margens de
seminovos que encerrou o trimestre em 7,5% (ainda assim acima da projeção da casa, de 6,2%).

O Ebitda apresentou uma redução de cerca de 9% na base trimestral, mas uma elevação anual , influenciado positivamente pela demanda aquecida de locação que ainda aceita elevação de tarifas (+4% no RAC e +6% no GTF, ou Gestão de Frotas, no trimestre), e negativamente pela elevação dos custos com manutenção dos veículos, gastos com pessoal, e do início do provisionamento para perdas de crédito de PIS/COFINS em excesso aos débitos no RAC.

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Devido a esse efeito, aponta a casa, o Ebitda por carro do RAC apresentou uma redução de cerca de 3% versus o 4T21, o que
a Eleven entende ser um efeito pontual. O lucro líquido apresentou uma pressão maior que o projetado, devido às menores margens de locação, maior nível de depreciação do RAC, e crescimento expressivo da despesa financeira. O aumento da dívida líquida e do patamar de juros no país culminaram em pressões no resultado financeiro, que foi uma despesa de R$ 501 milhões, piora de 140,7% ao ano.

O lucro líquido  ficou 44% abaixo da projeção da XP, principalmente devido (i) às fracas margens Ebitda de aluguel, depreciação acima do esperado no RAC e GTF; e (iii) custos financeiros ainda elevados pressionando o lucro líquido.

O Credit Suisse também reforça a visão de que a Movida apresentou maior depreciação por carro no quarto trimestre em RAC e GTF. No RAC, a depreciação por carro atingiu R$ 10,2 mil por carro (acima de R$ 8,2 mil no 3T22 e 13% superior à estimativa do Credit de R$ 9 mil), enquanto no GTF a depreciação aumentou em um ritmo mais lento, para R$ 3,8 mil por carro (acima de R$ 2,9 mil/carro no 3T22 e -12% inferior ao esperado pelo Credit, de R$ 4,3 mil/carro).

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“Essa depreciação  repete o que vimos nos resultados do 3Q22, adicionando incerteza sobre o retorno da frota atual da Movida”, apontam os analistas.

Para a Levante, ainda que a organização tenha conseguido combinar expansão de volumes e preços, isso não foi suficiente para compensar as pressões de custos com manutenção, depreciação e renovação, culminando em queda das margens de RAC e GFT. Já a margem de seminovos segue em trajetória de normalização, com o arrefecimento dos preços de veículos neste mercado. Além disso, em um contexto de juros elevados e alta da dívida, a companhia continua apresentando pressões em seu resultado financeiro.

Redução da alavancagem

Já do lado positivo,  a Movida reportou uma queda  sequencial de R$ 742 milhões na dívida líquida no trimestre, para R$ 10,8 bilhões. O Credit avalia que alguns ajustes devam ser feitos, levando a um aumento ligeiro da dívida em R$ 74 milhões.

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A XP também destaca a redução da alavancagem, de 3,1 vezes para 2,8 vezes a relação entre a dívida líquida e o Ebitda, o que ocorreu com a entrada de caixa de R$ 774 milhões no 4T22 de “cessão de direitos creditórios”. “Notamos que esta é a mesma estrutura utilizada pela Vamos (empresa também do grupo Simpar SIMH3) em que a carteira de receitas contratuais é antecipada como financiamento adicional (provavelmente idealizada pelo recém-nomeado CFO, que saiu da Vamos VAMO3)”, apontaram os analistas.

Para a Eleven, apesar dos resultados mais fracos, vê um ano em que a Movida deverá começar a gerar mais caixa com a compra de carros mais baratos/básicos e venda de carros mais caros/premium, com uma redução importante no capex (investimentos em capital) pois já possui uma frota mais nova, e deve focar mais na redução da alavancagem e consequentemente gerar menores pressões no lucro. Assim, mantém recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 25 por ação, ou um potencial de valorização de 283% frente o fechamento da véspera.

Apesar das pressões nas margens, a Levante também segue confiante com a tese de Movida para o longo prazo. “A empresa continua apresentando uma combinação de expansão de preços e volumes em RAC e GFT, e vem crescendo sobretudo neste último (+49,9% ao ano nas diárias). Ademais, também é possível notar os reflexos positivos da mudança do CFO promovida pela Simpar, que destravou uma nova fonte de financiamento para a companhia no trimestre, em linha com as práticas da Vamos”, apontam os analistas da casa.

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O Credit Suisse, por sua vez, tem recomendação neutra para os ativos, com preço-alvo de R$ 8, ou potencial de valorização de 22,5%.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.