Movida (MOVI3): a mensagem clara que faz a ação disparar mais de 7% após o resultado do 1º trimestre

Apesar da forte queda do lucro na base anual, sinalização de foco maior nas margens anima o mercado

Lara Rizério

(divulgação)
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Apesar da forte queda do lucro no primeiro trimestre de 2023 (1T23) na comparação anual, as ações da locadora de carros Movida (MOVI3) registraram uma sessão de fortes ganhos na Bolsa brasileira, com os analistas de mercado apontando que a empresa apresentou um foco claro a partir de agora, de melhora nas margens. O papel MOVI3 fechou em alta de 7,39%, a R$ 8,43, nesta quarta-feira (26).

A companhia de locação de veículos e venda de seminovos registrou um lucro líquido de R$ 21,0 milhões no primeiro trimestre de 2023, apresentando queda de 91,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com a companhia, o lucro foi impactado pelo aumento das despesas financeiras em decorrência da elevação das taxas de juros e do nível da dívida bruta da companhia.

A receita líquida foi de R$ 2,7 bilhões no 1T23, apresentando alta de 41,9% na comparação com o 1T22. A alta é justificada pelo aumento da frota em aluguel de carros (RAC) e gestão de frotas (GTF), do maior volume de carros vendidos e da evolução do ticket médio em todas as linhas de negócios.

O Bradesco BBI destaca que, durante o 1T23, a companhia: (i) reduziu a frota em 10.995 carros, ou 63% da redução esperada da frota de 15.000 a 20.000 carros em 2023; (ii) registrou forte geração de caixa de R$ 407 milhões; (iii) aumentou a taxa de utilização, o que compensou o redução da frota de aluguel de carros; e (iv) reduziu o spread de crédito para novas dívidas em 0,85 ponto percentual (p.p.). Com resultado, a empresa reportou Ebitda de R$ 875 milhões, marcando um crescimento anual de 1%, ainda assim superando as expectativas do Bradesco BBI em 7% – embora em linha com o consenso de mercado.

“A Movida atingiu a escala necessária de 200 mil carros para se consolidar como a segunda maior locadora do país. Esta missão foi cumprida e agora, a nova equipe de gestão está focada em melhorar as margens. A decisão de reduzir o tamanho da frota confirma esse reposicionamento estratégico, a nosso ver”, avalia o banco, em relatório chamado “A mensagem é clara –agora o foco está nas margens!”.

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Em relatório, a XP destacou que a Movida reportou resultados fracos, embora o lucro líquido tenha surpreendido positivamente, uma vez que a projeção da casa era de prejuízo de R$ 26 milhões.

As principais surpresas foram: (i) margem Ebitda de Seminovos acima do esperado (ambos nos níveis de Custo de Produtos Vendidas e despesas administrativas) de 5,9% (+3,9 pontos percentuais versus sua estimativa de 2,0%, caindo apenas 1,6 ponto na base trimestral); e (ii) cerca de R$ 14 milhões de exclusões fiscais que resultaram em alíquota de impostos positiva.

“Embora a alta depreciação e os resultados financeiros líquidos continuem prejudicando os resultados, damos as boas-vindas aos esforços de recuperação anunciados recentemente pela empresa e reiteramos nossa classificação de compra”, apontaram os analistas da casa.

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A XP aponta também entre os destaques positivos: (i) RaC, que apresentou melhor margem Ebitda no trimestre (+3,5 p.p. ante o 4T22) apesar de receita mais fraca (receita líquida -3% ao ano, com volumes estáveis ​​e tarifas em queda em sazonalidade mais fraca); (ii) forte desempenho operacional em Aluguel de Frotas (receita +9% ante 4T22) com: (a) tarifas +9%  após a continuidade da estratégia de reprecificação; e (b) volumes estáveis no trimestre; (iii) Margem Ebitda de Seminovos normalizando de forma mais gradual do que esperavam, atingindo 5,9% (+3,9 pontos versus estimativa da casa de 2,0% e caindo apenas 1,6 p.p. na base trimestral); e (iv) a posição de dívida líquida geral diminuiu como consequência da estratégia de redução de frota da empresa (dívida líquida + fornecedores caiu R$ 736 milhões, queda de 5,6% no trimestre, para R$ 12,3 bilhões).

Entre os pontos negativos, o (i) menor crescimento implica em escala relativa menor em relação à concorrência (redução líquida da frota de – 11 mil carros na base trimestral, com RaC respondendo por -13 mil carros), em um esforço para ajustar o desempenho operacional; (ii) fraco desempenho de receita no RaC (-3% no trimestre), com (a) crescimento de volume de 2%, em parte devido ao aumento de 1,8 p.p. nas taxas de utilização. T/T; e (b) redução tarifária de 5% (parcialmente em linha com a sazonalidade do trimestre); (iii) níveis de depreciação ainda elevados (a) para RaC, estável versus níveis recordes do 4T22 (em R$ 10,2 mil/carro ao ano); e (b) para Aluguel de Frotas, +12% no trimestre (R$ 4,2 mil/carro ao ano).

Assim como a XP, após esses resultados e as mensagens da administração, o Bradesco BBI manteve recomendação de compra para MOVI3 e o preço-alvo de R$ 12,00.

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“Essa recomendação é baseada: (i) em um atraente retorno sobre o capital aplicado na operação (RoIC), de 14,5%; (ii) na ação estar negociando a 3 vezes o múltiplo P/L para 2024, resultando em um desconto excessivo de 78% em relação à média do setor; e (iii) um múltiplo de 0,9 vezes o valor da firma (EV) sobre o valor da frota”, aponta o banco.

O JPMorgan, por sua vez, tem recomendação neutra para os ativos. O banco aponta que a companhia apresentou resultados decentes no 1T23, com Ebitda consolidado de R$ 875 milhões – de acordo com o consenso do JP e Bloomberg – e lucro melhor que o esperado.

“Mais importante ainda, a empresa vem implementando seu plano de recuperação, evidenciado por uma redução líquida da frota de 13 mil veículos, ajuste de mix no segmento de aluguel e gestão de passivos (liquidação antecipada de R$ 2,2 bilhões em dívidas), que devem ser bem recebidos pelo mercado e superam os dados do balanço financeiro trimestral”, apontam os analistas.

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Em relatório após a teleconferência de resultados, o Bradesco BBI reiterou que a Movida está focada em melhorar sua estrutura de capital e eficiência operacional, por meio de: 1) substituição de sua dívida por novas dívidas a um custo menor, e 2) redução da frota em rent-a-car e melhoria das taxas de utilização. Enquanto isso, a depreciação parece já ter atingido o pico e deve começar a cair nos próximos trimestres.

“Esperamos que o empresa a começar a ver os resultados dessas medidas no lucro com mais clareza no segundo semestre, o que pode resultar em crescimento significativo de lucro por ação para 2024. As ações subiram 7% até agora, e esperamos o desconto para média da indústria de aluguel de carros continue a encolher”, aponta o BBI.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.