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Enquanto a Black Friday foi considerada decepcionante de uma forma geral para as companhias de e-commerce, o que levou a uma baixa generalizada das principais ações do setor na véspera, outros nomes de mercado foram considerados vencedores.
Em comunicado, o Mercado Livre (MELI34), que possui BDRs negociados na B3 e ações negociadas na Nasdaq, informou ter registrado a melhor Black Friday de sua história. Considerando a semana promocional de segunda (21) a domingo (27), a companhia atingiu um aumento de 19% em vendas brutas, com crescimento acima da expectativa da companhia nas principais categorias.
Eletrônicos e moda foram os destaques do período. “Embora essas categorias tenham sido destaque em todo o comércio eletrônico brasileiro, a performance do Mercado Livre se descolou do mercado, que sofreu queda de 23%, durante a sexta-feira (25), em relação a 2021, segundo análise da NielsenIQ|Ebit. No mesmo dia, o avanço do Mercado Livre foi de 10%. O grande destaque, no entanto, foi o fim de semana, que registrou um incremento acima dos 30%”, destacou a empresa em release.
Ao comentar os números divulgados pela companhia de e-commerce, o Morgan Stanley apontou os ganhos contínuos de participação de mercado do Mercado Livre versus seus pares de comércio eletrônico do Brasil. Os analistas destacam que, após o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) do Mercado Livre no Brasil ter crescimento de 20% na base anual no terceiro trimestre (3T22), agora projetam um crescimento de 18% no 4T22.
Os analistas lembram que, em toda a indústria de e-commerce do Brasil, as empresas estão cada vez mais fazendo promoções além do dia da Black Friday em si – em parte refletindo a sobreposição entre a Copa do Mundo.
Olhando para as empresas, os analistas Andrew Ruben e Alexandre Namioka, que assinam o relatório do Morgan, destacam que o curto prazo para as empresas multicanais e que operam em diferentes segmentos, – o que inclui Americanas (AMER3) Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) – permanece difícil em uma combinação de exposição a categorias mais cíclicas (ou seja, eletrônicos) e abordagem mais racional com relação à rentabilidade. Um exemplo deste último ponto é o recente aumento do take rate, ou taxas de comissão (cobradas dos comerciantes em seu marketplace na categoria de produtos que vendem).
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“No entanto, em parte devido ao impacto do prolongamento dos períodos promocionais, não acreditamos que as condições da indústria sejam tão pressionadas quanto as quedas nas vendas de mais de 20% na sexta-feira 25 (Black Friday )podem sugerir”, apontam os analistas.
Para o 3T22, o GMV online agregado de Americanas, Magalu e Via caiu 11% na base de comparação anual e os analistas projetam uma queda mais modesta, de 3%, no 4T22, apontando também não levarem em consideração neste recorte as previsões para as lojas físicas.
Neste cenário, os analistas reiteraram recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) e top pick (preferência) para as ações da líder de mercado Mercado Livre, com preço-alvo de US$ 1.550 para os ativos negociados na Nasdaq, ou potencial de valorização de 68,2% em relação ao fechamento da véspera. Os analistas veem um suporte para crescimento e tese de monetização: “à medida que o desempenho superior do GMV continua, vemos o MELI cada vez mais
bem posicionado para capturar oportunidades de receita, incluindo taxas de publicidade e logística”.
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Dentre as ações de companhias negociadas na B3, AMER3 continua com recomendação overweight, com um caminho de melhoria para 2023 apesar da pressão de curto prazo, apontam os analistas. Contudo, o preço-alvo foi cortado de R$ 24 para R$ 21, o que ainda corresponde a um potencial de valorização de 112,3% em relação ao fechamento da véspera.
“Os nossos indicadores apontam para uma possível inflexão positiva à frente para 2023”, apesar de não verem um alívio no curto prazo com pressão de altas taxas de juros e de consumo cíclico menor. Assim, não acreditam que o 4T22 possa mudar a narrativa do trimestre anterior, em que os números de Americanas pouco empolgaram. “No entanto, nós ficaremos atentos às atualizações estratégicas do novo CEO Sergio Rial (a partir de janeiro de 2023), que poderiam servir como um catalisador positivo se um plano de recuperação confiável for colocado”, complementam.
Eles veem uma relação risco-recompensa enviesada para cima – especialmente se as margens líquidas começarem uma tendência de melhoria ao longo do próximo ano.
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Por outro lado, os analistas reduziram o preço-alvo para os ativos da Americanas principalmente após o resultado do 3T22, reduzindo a estimativa para o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado em 12% para 2022 e em 10% para 2023, principalmente por previsões de receita mais baixas para lojas e operações de comércio eletrônico 1P (estoque próprio). Para a receita, a projeção para 2022 foi cortada em 10%, enquanto para o ano que vem foi cortada em 8%, refletindo uma menor base de vendas neste ano; a receita de 3t22 ficou 16% abaixo da estimativa do Morgan, com vendas mais fracas nas lojas e no 1p.
Já para o Magazine Luiza, a recomendação foi mantida em equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra), enquanto o preço-alvo também seguiu em R$ 4 (ou potencial de valorização de 20,5% frente o fechamento de segunda-feira).
Por outro lado, os analistas também revisaram para baixo, em 6%, as estimativas para o Ebitda ajustado para 2022 e em 8% para 2023, em grande parte por previsões de receita mais baixas para operações de mercado e lojas físicas.
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A Via, por sua vez, teve a recomendação mantida em underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), com preço-alvo sendo cortado de R$ 2,50 para R$ 2,25, ainda uma alta de 7,7% frente o fechamento de segunda.
Os analistas cortaram em 13% sua projeção de Ebitda ajustado para este ano e em 11% para o ano que vem, com menores
previsões de receita e margem, de forma a incorporar os resultados do 3T22, quando a receita ficou 2% abaixo da estimativa do banco. “Com nossa expectativa de continuidade de ventos contrários em linha branca, reduzimos nossas previsões gerais de GMV para a Via, com projeções para o online em queda de 3% para 20222 e de 11% para 2023. Nossas previsões de vendas nas lojas diminuíram de forma mais modesta – em 3% em 2022 e inalterados em 2023”, apontam os analistas. Eles veem as iniciativas de redução de despesas como um fator positivo, mas a empresa ainda sofre com as reduções de GMV, aliado a uma revisão desfavorável da despesa financeira (incorporando maior previsão de taxas de juros 2023), o que também impacta negativamente as previsões de margem líquida.
Cabe ressaltar que o Itaú BBA, na semana passada, atualizou suas estimativas para o Mercado Livre, com recomendação de compra e preço-alvo de US$ 1.260 para 2023, ou um potencial de alta de 37% frente o fechamento da véspera na Nasdaq.
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“Continuamos confiantes que a empresa sustentará a forte performance operacional e continuará superando seus pares, e destacamos o potencial de ganhos de rentabilidade a partir da monetização da sua plataforma de e-commerce”, avalia o BBA.
“Os ganhos marginais de rentabilidade: a trajetória acelerada de expansão no negócio de Ads (serviços de publicidade para vendedores) foi responsável por destravar um ganho de margem bruta nos últimos trimestres e ainda enxergamos um grande potencial de expansão destes serviços (que hoje representam 1,3% do volume de vendas). Além disso, os serviços de fulfillment (serviços de logística e gestão de estoque para os vendedores) também representam um potencial de monetização no longo prazo. Reconhecemos, entretanto, que esses ganhos marginais estão sujeitos a investimentos adicionais por
parte da empresa”, avaliam.
Já sobre a carteira de crédito, o BBA mantém uma postura conservadora, considerando o cenário macroeconômico
ainda repleto de incertezas. As projeções consideram ainda uma redução na concessão de crédito (ainda que possamos ver um aumento na carteira no quarto trimestre por sazonalidade) e uma perspectiva cautelosa para a melhora da inadimplência.