Minerva (BEEF3) deve ser destaque no 3º tri, com JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) impactadas por operações nos EUA

Mudança de ciclo do gado no Brasil e nos Estados Unidos explicam diferença de resultados dos frigoríficos entre julho e setembro

Vitor Azevedo

(Shutterstock)
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A Minerva (BEEF3) será o primeiro frigorífico brasileiro a divulgar seu resultado nesta quarta-feira (9) e, para analistas, deve ser também o que trará o melhor resultado entre seus pares JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3), que trazem seus números na próxima quinta (10).

“Esperamos resultados mistos para os frigoríficos brasileiros devido à sua diversificação geográfica e de proteínas”, explicam os analistas da XP Investimentos.

É justamente por conta da diversidade geográfica, de acordo com várias casas, que a Minerva deve trazer os melhores números para o período entre julho e setembro deste ano.

“Para carne bovina no Brasil, projetamos margens aumentando devido a preços resilientes, principalmente no mercado de exportação, aliados a custos mais baixos em função do aumento do abate e, portanto, da oferta de gado. Para a carne bovina dos Estados Unidos, esperamos que a compressão das margens continue no trimestre como resultado da acomodação dos preços e devido à crescente restrição de oferta de gado no país, o que está aumentando significativamente os custos para os frigoríficos e, consequentemente, afetando negativamente as margens”, acrescentam os especialistas da corretora.

A companhia que divulga resultado hoje é a que, entre as três, tem a maior exposição ao Brasil, com a maior parte da sua produção concentrada no país – a JBS e a Marfrig têm, ambas, parte relevante das suas operações localizadas na América do Norte.

Brasil e Estados Unidos estão, segundo os comentários, em diferentes partes do ciclo do gado – com a cabeça ficando mais barata para os frigoríficos por aqui, com aumento do rebanho nacional, e mais cara lá fora.

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“Esperamos que a melhora no Brasil mais do que compense, para a Minerva, uma perspectiva desafiadora na Colômbia, devido à crise entre Rússia e Ucrânia, e margens menores no Uruguai, após a queda na oferta de gado por lá”, explica a XP.

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A corretora vê que a receita da Minerva deve saltar 14% no ano, para R$ 8,4 bilhões, e projeta um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 793 milhões, com alta de 22% na mesma base.

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O JPMorgan e o Bank of America vão na mesma direção.

“O Brasil deve ser o destaque positivo, em função da mudança no ciclo do gado, com os preços dos animais apontando para baixo, se estabilizando em níveis confortáveis, junto com uma aceleração do volume de exportações”, expõe os analistas do JP. “As exportações brasileiras manterão uma dinâmica positiva de preços mais altos e custos mais baixos”, destaca o Bank of America.

O JP espera que a Minerva trará uma receita de R$ 8,4 bilhões e um Ebitda de R$ 795 milhões. O BofA projeta um lucro operacional de R$ 800 milhões. A Eleven, por fim, espera que a companhia traga uma receita de R$ 7,3 bilhões e um Ebitda de R$ 648,1 milhões.

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JBS e Marfrig têm margens comprimidas nos EUA

Se a oferta de gado está crescendo no Brasil, nos Estados Unidos a tendência vai na direção oposta.

“A redução do corte de carne bovina e os preços mais altos do gado podem pesar nas margens dos Estados Unidos, que estimamos que serão um pouco tímidas”, diz o Bank of America sobre o resultado da JBS.

O JPMorgan, de forma parecida, estima que as divisões americana e australiana do maior frigorífico brasileiro terão as receitas caindo em até 7% na base anual, dado os fracos preços da carne bovina. “Além disso, os preços do gado nos EUA continuam subindo, em meio à notável inelasticidade da demanda por carne bovina no trimestre, o que está realmente beneficiando os varejistas”, acrescentam.

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A JBS, para a Eleven, deve surfar um pouco na mudança do ciclo brasileiro, bem como nas recuperações da Seara e da Pilgrim’s Pride – mas estas não devem ser suficientes para remediar totalmente o recuo operacional do exterior.

A XP Investimentos tem opinião semelhante.

“Projetamos fortes operações de aves, principalmente por conta de preços expressivos no mercado externo aliados à acomodação nos preços dos grão”, explicam os analistas da corretora brasileira. “Embora a carne de frango esteja melhor, contudo, não deve compensar a acomodação da carne bovina na América do Norte, em nossa visão”.

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O Bank of America espera que a JBS trará um Ebitda de R$ 9 bilhões, com 9% de margem. O JP Morgan tem para o lucro operacional um consenso de R$ 9,5 bilhões e de uma receita de R$ 97,3 bilhões. A Eleven projeta um faturamento de R$ 92,6 bilhões e um Ebitda de R$ 13,9 bilhões. A XP tem projeção de receita de R$ 91,01 bilhões e de Ebitda de R$ 8,5 bilhões.

Para a Marfrig, as explicações para um balanço mais fraco na base anual são iguais.

“A alta exposição da companhia ao mercado norte americano, região que apresentou queda nos preços de corte bovino, deve impactar negativamente a sua margem no trimestre”, diz a Eleven. “O mercado doméstico deve apresentar uma melhora sequencial de margens devido aos bons preços de exportação, mas ainda não deve atingir a casa dos dois dígitos devido ao custo do gado ainda elevado”, complementam.

O JP Morgan diz esperar da Marfrig “resultados pouco inspiradores”, com as duas principais regiões, Estados Unidos e América Latina desacelerando.

“Na América do Sul, os bons resultados do Brasil devem ser parcialmente compensados por uma dinâmica mais fraca no Uruguai, levando os resultados a ficarem estáveis trimestralmente. Em linhas gerais, esses números não devem contribuir para alterar o clima negativo de contração das margens norte-americanas”, debate o banco americano.

A Eleven espera que a Marfrig traga uma receita de R$ 23,6 bilhões, com Ebitda de R$ 4,6 bilhões. As projeções da XP, na mesma ordem, são de R$ 22,3 bilhões e R$ 2,3 bilhões. O JP Morgan tem um consenso de R$ 21,9 bilhões para a receita e de R$ 2,3 bilhões para o Ebitda. O BofA prevê um lucro operacional de R$ 2,4 bilhões para o terceiro trimestre do frigorífico.

BRF entre Halal e Brasil

A BRF (BRFS3) é uma companhia que atua, principalmente, no ramo de carnes processadas e de frango – tendo, com isso, uma dinâmica diferente da que é apresentada pelo grupo composto por Minerva, JBS e Marfrig. A companhia divulgará seus resultados no mesmo dia da Minerva, na próxima quarta, também após o fechamento dos mercados.

“Acreditamos que os negócios no Brasil devem mostrar pouca melhora devido à recuperação econômica instável, mercado superabastecido e preços internos em queda”, diz o JPMorgan. “Além disso, o preço menor do milho não deve ter impactos na margem vistos neste trimestre, mas sim, eventualmente, apenas no final do quarto trimestre”, contextualizam, apontando que “a fraca dinâmica do Brasil não deve ser compensada pelas operações internacionais”.

Nos últimos trimestres, o desempenho da BRF no segmento Halal (para consumo em países muçulmanos) foi destaque positivo, por conta de margens mais altas – que devem, entretanto, recuar um pouco neste trimestre.

“O Mercado Halal ainda segue positivo, mas deve apresentar leve queda de margens em relação ao último trimestre que foram recordes, enquanto as margens na Ásia devem apresentar melhora sequencial com a alta dos preços dos suínos”, explica a Eleven. “No Halal, estamos prevendo margens de volta à média após a acomodação dos preços na região juntamente com uma Turquia desafiadora”, destaca a XP.

O JP Morgan espera que a BRF traga um Ebitda de R$ 1,3 bilhão e uma receita de R$ 13,5 bilhões. A XP espera o mesmo Ebitda e uma receita um pouco maior, de R$ 13,7 bilhões. A Eleven vê a companhia vindo com um faturamento de R$ 12,8 bilhões e um lucro operacional de R$ 1,3 bilhão. O BofA espera que a empresa traga um Ebitda de R$ 1,4 bilhão.