Aumento de casos de Covid-19 confronta esperanças por reabertura na China, mas por que minério de ferro segue em alta?

Analistas destacam tanto movimento técnico quanto indicação positiva, ainda que inicial, de que China está disposta a flexibilizar políticas

Lara Rizério

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De um lado, notícias (que ganharam força no final da semana passada) de que a China finalmente flexibilizará a sua política de Covid-zero. Do outro, informações divulgadas no fim de semana de alta de casos no gigante asiático e de que o país, segundo autoridades, seguirá com o  seu compromisso com medidas rígidas de contenção do Covid.

Enquanto isso, o minério de ferro, notoriamente o contrato futuro para janeiro negociado na Bolsa chinesa de Dalian, seguiu em alta nesta terça-feira (8), nas máximas em duas semanas, após uma última semana de recuperação expressiva.

Nesta terça, o contrato do minério mais negociado em Dalian encerrou as negociações diurnas com alta de 2,6%, a 680 iuanes (US$ 93,80) a tonelada, depois de atingir seu maior nível desde 24 de outubro nas negociações intradiárias, a 683 iuanes.

Desta forma, mineradoras e siderúrgicas também registravam ganhos na B3 nesta sessão, com Vale (VALE3) subindo 1,96%, a R$ 73,28, por volta dasd 10h50 (horário de Brasília), enquanto CSN Mineração (CMIN3) subia mais de 7%, esta última também por conta da divulgação de dividendos e juros sobre capital próprio no valor de R$ 2,44 bilhões. Usiminas (USIM5) avançava mais de 1%, enquanto CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4) operavam próximas à estabilidade.

Na última semana, notoriamente na sexta, o minério teve forte alta, impulsionando as empresas do setor de mineração, siderurgia e também as petroleiras na B3,

A Bloomberg News publicou ainda na última sexta que a a China estaria trabalhando em um plano para encerrar um sistema que proibia a entrada de voos com passageiros infectados com o vírus da Covid-19. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse no dia, porém, que não estava ciente da reportagem. As políticas de Covid da China são consistentes e claras, afirmou Zhao a repórteres em um briefing diário em Pequim.

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Assim, a China reafirmou sua adesão a uma abordagem de “limpeza dinâmica” para os casos de Covid-19 assim que surgirem, frustrando as esperanças de uma rápida reabertura da economia.

Neste sentido, novos casos de coronavírus foram reportados em Guangzhou e outras cidades chinesas, com o centro de manufatura global se tornando o mais recente epicentro da Covid-19 da China.

As novas infecções transmitidas localmente na China subiram para 7.475 em 7 de novembro, ante 5.496 no dia anterior, no maior nível desde 1º de maio.

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Contudo, o que explica a persistência da alta do minério de ferro?

O rali da commodity parece carecer de apoio dos fundamentos, já que as restrições da Covid-19 e os próximos cortes na produção de aço no inverno provavelmente reduzirão a demanda.

O Wall Street Journal reforçou em matéria que os líderes chineses estavam considerando medidas para a reabertura após quase três anos de duras restrições devido à pandemia, mas estavam avançando lentamente e não estabeleceram cronograma.

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Neste sentido, as expectativas de analistas do mercado, mesmo com as notícias da semana passada de reabertura, eram de que o movimento seria lento, com a reabertura ganhando força apenas no ano que vem.

“Acreditamos que o relaxamento das medidas existentes é mais provável após 2022”, disseram economistas do ING.

O Bradesco BBI reforça que a incerteza permanece em relação à estratégia de contenção da Covid.

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“De fato, houve alguns indícios de que as autoridades chinesas pelo menos iniciaram um diálogo sobre como começar a flexibilizar. Autoridades estão debatendo como podem reduzir a quarentena obrigatória de hotéis para viajantes que chegam, enquanto o regulador do setor de aviação também incentivou empresas estatais a aumentar osvoos. Na frente da vacina, o chanceler alemão Olaf Scholz deu a primeira indicação de que a China pode estar disposta a usar vacinas estrangeiras mais eficazes, quando disse na sexta-feira que o país concordou em disponibilizar a vacina da BioNTech SE para estrangeiros que vivem lá. Por enquanto, no entanto, as restrições permanecem em vigor”, aponta o banco.

Um lockdown de sete dias foi ordenado na maior fábrica de iPhone do mundo em Zhengzhou, centro da China, enquanto um distrito do centro manufatureiro do sul, Guangzhou, ficará fechado até sexta-feira. Cidades do noroeste têm restrições há meses.

Contudo, avaliam os analistas do BBI, ao menos houve os primeiros sinais de que o governo está considerando algumas medidas de flexibilização, o que é uma sinalização positiva. “Nós esperamos que a a política de Covid-zero seja flexibilizada gradualmente ao longo de 2023, o que deve ajudar a apoiar o crescimento econômico chinês e os preços das commodities”, reforçam.

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O Goldman Sachs, por sua vez, cita que o Diário do Povo da China, um dos veículos que faz a comunicação estatal, indicou também na última semana que a maior parte dos casos de Covid registrados ultimamente é leve.

“Alterar a comunicação oficial para aliviar os temores da população em relação ao coronavírus é uma das condições necessárias para a reabertura,  entre outros preparativos médicos. No entanto, conforme sinalizado pela própria China, o governo ainda precisa manter sua política de zero Covid até que todos esses preparativos sejam feitos. Isso pode levar alguns meses, em nossa opinião, e continuamos esperando a reabertura para o segundo trimestre de 2023, em linha com nosso cenário-base anterior”, ressaltou o banco.

Assim, analistas de mercado já esperavam que a reabertura fosse se dar em passos bastante lentos e monitorarão de perto as próximas sinalizações do governo chinês.

Sobre o minério de ferro, analistas internacionais destacam  ainda que a alta também pode ser atribuída a um movimento “técnico” dos contratos futuros da commodity, uma vez que em Dalian rompeu a resistência nos 673 yuans, segundo a corretora de commodities Marex, significando um ponto de entrada para compra, caso haja força dos preços.

Ainda assim, muitos analistas seguem cautelosos. “O recente rali de ativos e moedas ligado às perspectivas da economia da China na expectativa de que as autoridades chinesas relaxem sua política de ‘Covid zero’ provavelmente não durará”, disse a Capital Economics em nota.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.