MGLU3: Por que o Magazine Luiza subiu mais de 70% apenas em novembro e o que esperar para as ações?

De alívio na curva de juros à manutenção no MSCI, ações registram recuperação expressiva no mês, mas analistas seguem cautelosos

Lara Rizério

(Shutterstock)
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Em um mês bastante positivo para o Ibovespa em geral, com o índice subindo cerca de 11% no acumulado de novembro (até o dia 20), a ação de uma empresa tem chamado a atenção dos investidores. Isso por ter apresentado expressiva recuperação mesmo com as dificuldades do setor e após meses figurando entre as maiores quedas do benchmark da Bolsa. Trata-se do Magazine Luiza (MGLU3), cujos papéis acumulam expressivos ganhos de 71,42% no mês.

Alguns fatores contribuem para esse forte desempenho dos ativos. Cabe lembrar que, não muito tempo atrás, no começo deste mês, a ação tinha renovado mínimas de 2023, atingindo R$ 1,33 e ficando perto de tornar-se uma penny stock (ou um ativo de centavos). Com os papéis em uma cotação tão baixa, quaisquer variações de centavos levam a mudanças percentuais expressivas, o que aconteceu com os ativos, que encerraram a sessão da véspera a R$ 2,28 (levando a uma variação de menos de R$ 1 dos papéis, mas mais de 70% em termos percentuais).

Apesar da forte alta percentual, o ativo não zerou as perdas do ano (ainda caindo 16,79%), sendo necessária ainda uma alta de cerca de 20,2% para tanto. Já para atingir as máximas desde 5 de novembro de 2020, quando MGLU3 atingiu a marca impressionante de R$ 27,40 (valores ajustados por proventos), os papéis ainda teriam que saltar impressionantes 1.101%.

Porém, não se pode negar uma recuperação recente dos ativos do Magalu, ocasionada por diversos fatores – com destaque para os macroeconômicos.

Cabe ressaltar que, em menos de três anos, o Magazine Luiza viu seu valor de mercado derreter mais de 90%. Competição acirrada no e-commerce, juros elevados e uma pressão extra relacionada a aluguel de ações estão entre os principais fatores para tanto.

O movimento de queda dos papéis ganhou força quando o Comitê de Política Monetária (Copom) deu início ao ciclo de alta de juros. De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis e que reverberou em um “esfriamento” do consumo e encarecimento do crédito. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas. Os cortes dos juros tiveram início em agosto deste ano, com a a taxa atualmente a 12,25%, níveis ainda considerados bastante restritivos.

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Assim, as ações foram perdendo força uma vez que juros mais altos significam um crédito mais caro ao consumidor, levando a uma menor demanda pelos produtos da companhia (principalmente da linha branca, de maior valor agregado), ao mesmo tempo em que as taxas mais altas também levam a uma maior pressão das despesas financeiras, levando a empresa a apresentar sucessivos prejuízos nos trimestres passados.

Desta forma, a expectativa era por recuperação os papéis com o início do ciclo de queda de juros. Contudo, essa projeção foi ofuscada pela pressão por juros altos por mais tempo lá fora (especialmente nos Estados Unidos, pelo Federal Reserve) com os dados da atividade ainda fortes, inflação resiliente e falas de importantes integrantes do Fed de que não descartavam nova alta de juros. Essa visão acabou afetando os juros também por aqui, com a expectativa de que o ciclo de queda poderia ser mais limitado do que anteriormente esperado (o que também afetou as varejistas entre agosto e outubro, apesar dos cortes da Selic).

O alívio no mercado, contudo, se deu recentemente, com maior força neste mês após novos dados da economia americana mostrarem desaceleração da inflação e da atividade, fazendo com que o mercado veja uma probabilidade quase nula de o Fed ir além da atual faixa de 5,25% a 5,50% dos juros. Enquanto isso, a ferramenta FedWatch do CME Group coloca as chances de um corte em cerca de 60% para a reunião do Fed de 30 de abril a 1º de maio de 2024.

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Já por aqui, dados de inflação abaixo do esperado – como o IPCA de outubro, que teve variação positiva de 0,24% em outubro, ante projeção de 0,29% do consenso LSEG – reforçaram a visão de pelo menos manutenção do ciclo de corte de juros, assim como as notícias de manutenção da meta de déficit primário zero para 2024.

MSCI e pós-resultados

Ao mesmo tempo, notícias envolvendo a própria companhia também impulsionaram as ações. Em primeiro lugar, havia uma grande expectativa, como destacado pelo Morgan Stanley, de que o Magalu saísse do MSCI Brazil em sua revisão trimestral.

O MSCI elabora índices para acompanhar o desempenho das principais bolsas internacionais e é seguido por vários fundos passivos. Existem atualmente US$ 6,5 bilhões em ativos sob gestão (AUM) indexados ao MSCI Latin America e US$ 6,2 bilhões indexados ao MSCI Brasil, segundo dados da Bloomberg. Além disso, estimam US$ 500 bilhões em ativos passivos sob gestão (AUM) indexados aos mercados emergentes do MSCI.

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Assim, a saída dos ativos poderia levar a uma pressão vendedora para os papéis, já que diversos fundos passivos acompanham o índice. Porém, a prévia da carteira (cujas alterações serão efetivadas em 1 de dezembro) não trouxe a saída do Magalu, o que surpreendeu os analistas e fizeram com que investidores com posição vendida (short, apostando na queda) cobrissem suas posições e impulsionassem os ativos.

O mês de novembro também trouxe a divulgação dos resultados do terceiro trimestre. Ela trouxe uma surpresa negativa com a divulgação do ajuste contábil levando a um efeito patrimonial negativo de R$ 830 milhões devido à contabilização imprecisa das receitas relacionadas a bônus de fornecedores.

Porém, na sessão pós-balanço (14 de novembro), as ações tiveram um dia de volatilidade, abrindo em forte queda (que chegou a 10,4%), mas conseguindo fechar em alta também por ter sido uma sessão de queda da curva de juros.

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Mas, além disso, analistas, como o do Bradesco BBI, saudaram a transparência do Magalu no processo de correção dos balanços, “demonstrando o compromisso da gestão e do Conselho em manter os bons padrões de governança corporativa”.

Já sobre os resultados em si, eles foram considerados fracos no geral, mas com algumas tendências de melhora nas margens, que tem sido o foco da varejista.

O BBI ressalta que as tendências fracas do setor persistiram ao longo do 3T23, com o Magalu entregando crescimento anual de 5,7% do volume (GMV) do e-commerce, o que ficou amplamente em linha com o esperado. O número foi melhor que a queda de 4,5% vista nas Casas Bahia (BHIA3), e abaixo do crescimento do MercadoLibre (MELI34; 28% no Brasil), este último visto como “queridinho” dos analistas no segmento de e-commerce.

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A margem bruta expandiu 2,50 ponto percentual (pp) e foi vista como um ponto positivo, devido principalmente às maiores receitas de serviços alimentadas pelo crescimento do 3P, que contribuiu com 1,90 pp e ao repasse total do imposto DIFAL. Essa expansão da margem bruta não foi observada na margem Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações/receita líquida) ajustada, que contraiu 0,30 pp, devido principalmente a despesas associadas ao crescimento do mercado do 3P e investimentos em aquisição de clientes.

Por sua vez, o prejuízo ajustado também foi um pouco melhor do que o esperado (R$ 143 milhões contra R$ 171 milhões), principalmente devido ao Ebitda pressionado, parcialmente compensado por menores despesas financeiras líquidas (queda de 22% em um ano), mas não direcionalmente diferente do que o banco esperava. Já o lucro líquido reportado de R$ 331 milhões foi impactado positivamente principalmente por um efeito não recorrente de um PIS/COFINS de R$ 507 milhões sobre o reconhecimento de crédito fiscal de bônus de fornecedores, após uma decisão recente do Supremo Tribunal de Justiça.

“Já o consumo de caixa de R$ 258 milhões foi ligeiramente melhor que o consumo de R$ 303 milhões do 3T22 devido a menores estoques (recuo de 12 dias em um ano)”, avalia o banco, sendo este também um ponto positivo.

De qualquer modo, o banco aponta que os resultados ainda não indicam um ponto de inflexão nas tendências operacionais/financeiras, mas vê alguns progressos nos números da companhia.

“Esperamos que o Magalu siga em um ritmo gradual de melhora da sua margem Ebitda , enquanto uma taxa de juros em queda deverá ajudar gradualmente a diminuir as perdas. Daqui para frente, todos os olhares estão voltados para a temporada de descontos da Black Friday, mais relevante para itens de alto ticket como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, momento chave do ano para geração de caixa”, avalia.

Por enquanto, segue com recomendação neutra para as ações da Magalu (com preço-alvo de R$ 4,50 por ação, ainda um upside relevante de 97%) diante de um ambiente ainda desafiador.

Para a XP, a entrada de players asiáticos continuam a ser um obstáculo. Para o setor em geral, os analistas da casa veem dinâmicas melhores, mas ainda é cedo para definir o tom para o quarto trimestre,  com as empresas destacando tendências melhores ao longo do trimestre e em outubro, embora os resultados do quarto trimestre dependam fortemente do desempenho das vendas da Black Friday e de dezembro.

De olho também nos resultados do terceiro trimestre e nos próximos eventos importantes do setor, o JPMorgan revisou as suas projeções para o Magazine Luiza após os balanços.

O banco reiterou recomendação neutra (sem preço-alvo) após o balanço do terceiro trimestre, considerado fraco, mas dentro do esperado, além da reformulação dos resultados financeiros de 2022/23 após a conclusão das investigações internas.

“No geral, continuamos a presenciar um ambiente desafiador para a empresa, especialmente em suas principais categorias 1P (estoque próprio)”, aponta.

De acordo com o banco, isso é ressaltado pelos primeiros dados de vendas da Black Friday, que registram até o momento uma queda anual de cerca de 7% de acordo com a empresa de dados com foco em operações digitais Neotrust.

A campanha deste ano começou no início de novembro e os dados da Neotrust mostram que as vendas on-line entre 1º e 15 de novembro estavam em R$ 6,92 bilhões, 6,7% a menos em relação ao ano anterior, com uma combinação de um número 13,5% menor de pedidos (16,4 milhões) e alta de 8% de ticket médio na base anual (R$ 421,3).

“Por outro lado, a Neotrust destaca que o aumento das vendas ao longo de novembro foi mais forte este ano em relação a 2022, o que pode ajudar a fechar a campanha completa com números melhores”, avaliam os analistas.

“Semelhante aos trimestres anteriores, esperamos que o Magalu supere o mercado, mas a impressão geral ressalta o fraco impulso de receita para o mercado, especialmente SKUs (unidades, sendo código para identificar produtos) de alto valor”, pondera.

Do lado positivo, o mercado da empresa deverá continuar a crescer a um ritmo sólido, alimentando receitas de serviços com margens mais elevadas.

“Como resultado, estamos aumentando a projeção para o Ebitda de 2024 em 2% principalmente devido à maior margem bruta após os resultados dos primeiros seis meses serem reformulados. Por outro lado, estamos incluindo no modelo o adicional de aproximadamente R$ 1,3 bilhão em contas a pagar da atualização do balanço patrimonial e normalizando o capital de giro daqui para frente. Vendo um balanço patrimonial altamente alavancado e com perspectiva operacional ainda desafiadora, mantemos nossa classificação neutra para o Magazine Luiza, com nosso modelo de fluxo de caixa descontado implicando um valor justo entre R$ 2,00 e R$ 2,50”, avalia o banco.

A visão de cautela se repete para boa parte do mercado. De acordo com compilação feita pela LSEG com analistas de mercado que cobrem o papel, de 13 casas, 9 recomendam compra, enquanto 3 recomendam manutenção e 1 possui recomendação de venda. Vale destacar que o preço-médio é de R$ 3,86, um avanço de 69% frente o fechamento da véspera.

Assim, os analistas seguem cautelosos e preveem volatilidade das ações, como observado nesta terça-feira, com os ativos caindo cerca de 5% – ainda que vejam tendência de melhora com queda de juros e foco em margens, o cenário desafiador deve seguir afetando a companhia, que deve se recuperar ainda a passos lentos.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.