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Os temores do mercado do início do mês não se concretizaram ou foi apenas um movimento de recuperação depois das fortes quedas registradas nas duas últimas semanas?
As ações da Mahle Metal Leve (LEVE3) registraram na véspera uma sessão de forte alta, com ganhos de 7,37%, a R$ 40,80, após o anúncio de oferta de ações junto com um robusto dividendo de R$ 711 milhões, ou R$ 5,54 por ação (dividend yield de 14,6%), condicionado à realização dessa operação.
Contudo, cabe destacar que, desde que a companhia de autopeças anunciou ter contratado bancos para a possível oferta de ações, no dia 8 de outubro, até o fechamento da última segunda-feira (23), as ações caíram 18,80%. No ano, porém, as ações sobem mais de 50%.
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Naquela ocasião, a empresa não divulgou detalhes específicos sobre o montante da transação, a alocação dos recursos ou um cronograma associado à operação. A notícia gerou muita especulação no mercado, dada a baixa necessidade da companhia fazer o follow-on dada a sua baixa alavancagem (com uma relação de 0,2 vez a dívida líquida sobre o Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações).
Para o Bradesco BBI, o anúncio de uma potencial oferta primária e/ou secundária de ações e não uma oferta pública para deslistar (OPA) a subsidiária brasileira surpreendeu.
O banco também ressaltou que, no acumulado do ano, a Mahle Metal Leve já tinha distribuído R$ 451 milhões em dividendos, sugerindo assim que a operação levaria os acionistas controladores a fazerem uma venda direta (oferta secundária) e indireta (oferta primária) da subsidiária 100% focada no produção de componentes para veículos à combustão.
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Também não havia a expectativa de que a Mahle Metal Leve utilizasse os recursos para diversificar sua tecnologia no país, uma vez que a Mahle Behr no Brasil é de propriedade integral da Mahle GmbH e tem esse objetivo. Além disso, lembrou que, em 2014, a Mahle Metal Leve suspendeu os planos de incorporação e/ou exploração de sinergias operacionais com esta unidade de negócios no país.
Com isso, a sinalização inicial foi a de que o controlador estaria reduzindo sua exposição ao negócio de combustão, que tende a sofrer com o crescimento dos veículos elétricos (apesar dos bons resultados recentes na operação atual da companhia).
Assim, a projeção da casa no início do mês era por uma oferta subsequente seria principalmente secundária, atingindo um volume de negócio de R$ 1,1 bilhão, permitindo à Mahle GmbH manter o controle (atualmente uma participação de 70%), o que levaria a uma grande pressão vendedora para os ativos.
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“A perspectiva de uma oferta secundária expressiva, bastante superior ao volume médio negociado para as ações, gerou pessimismo no mercado, resultando em uma considerável reação negativa nas cotações”, destacou Chrystian Matias de Oliveira, analista de Logística e Indústrias na Levante Corp.
O anúncio da oferta, mesmo com a forte queda das ações, veio na manhã da última terça-feira e trouxe elementos que tranquilizaram os investidores.
A companhia planeja oferecer um total de 20.061.350 ações ordinárias, divididas em 7.230.500 ações a serem emitidas (oferta primária) e 12.830.850 ações a serem vendidas pela Mahle GmbH, a controladora da empresa.
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Até a data de conclusão do Procedimento de Bookbuilding, programada para encerrar em 31 de outubro, a quantidade inicialmente ofertada de ações poderá ser aumentada em até 45,87% do total de ações originalmente oferecidas, o que corresponde a um máximo de 9.202.079 ações ordinárias adicionais, as quais também serão provenientes do grupo controlador.
A companhia tem a intenção de direcionar os recursos líquidos provenientes da Oferta Primária integral e exclusivamente para o pagamento de dividendos.
Considerando a cotação da véspera e descontados os dividendos previstos, a emissão seria feita no montante de R$ 32,46. Com esse valor, o montante total da oferta seria de R$ 651,2 milhões, ou de R$ 949,9 milhões, considerando o lote adicional.
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Para Oliveira, da Levante, a estrutura da oferta, que inclui um pagamento significativo de dividendos, foi projetada para tornar a oferta mais atrativa para o mercado. “O anúncio anterior de estudo de oferta não foi bem recebido, levando a uma queda substancial nas ações, o que poderia ter colocado o grupo controlador em uma posição desfavorável para a venda de seus papéis, em comparação com as expectativas iniciais”, reforça.
O analista ressalta que a estrutura do dividendo parece ter sido concebida para aprimorar as condições da oferta e incentivar uma maior procura pelos títulos, especialmente considerando a sólida posição de caixa da empresa, seu nível de endividamento confortável e sua capacidade robusta de gerar caixa operacional. Em sua avaliação, isso sugere que a empresa não tem uma necessidade iminente de captação de recursos para sustentar seu histórico de pagamento de dividendos substanciais.
“Tanto o anúncio dos dividendos substanciais quanto a realização de uma oferta um pouco menos agressiva do que o inicialmente previsto parecem ter aliviado as preocupações dos investidores, refletindo-se no aumento das cotações. Isso, por sua vez, pode facilitar para o grupo controlador a venda de suas ações em condições mais vantajosas, aproveitando o forte desempenho das ações ao longo do último ano”, avalia.
Conflito de interesses com minoritários?
Para analistas do Bradesco BBI, contudo, a empresa não precisaria de uma oferta primária para fazer essa distribuição de dividendos, já que conta com uma alavancagem financeira baixa.
“Mesmo considerando que este dividendo especial está sujeito à precificação bem-sucedida desta oferta, em nossa opinião, a empresa poderia pagar este dividendo especial com ou sem esta oferta de ações. Sem os recursos da oferta secundária, a Mahle Metal Leve precisaria acelerar a distribuição de dividendos”, aponta.
A oferta básica reduzirá a participação da Mahle GmbH de 70% do total de ações para 57%. “Observamos que, também levando em conta um valuation esticado de 5,9 vezes o valor da empresa/Ebitda esperado para 2024, a Mahle GmbH pode reduzir a sua participação para 50,01% se assumirmos o exercício total da operação”, aponta.
Na visão do BBI, esta estrutura pode aumentar o conflito de interesses com os acionistas minoritários, uma vez que a Mahle Metal Leve continuará focada na produção de componentes para motores de combustão interna. Já a produção de componentes para veículos elétricos exigiria uma reformulação completa ou a construção de uma nova fábrica no Brasil, que na sua visão pode não ser executada pela Mahle Metal Leve.
O banco, assim, mantém recomendação underperform (desempenho abaixo do mercado, equivalente à venda) para a ação, com preço-alvo para o fim de 2024 de R$ 21, ou queda de 48% em relação ao fechamento de segunda-feira.