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SÃO PAULO – O gerenciamento de risco socioambiental, que envolve conformidade ampla e irrestrita com leis ambientais, trabalhistas e fundiárias, tem que fazer parte do “DNA” da cadeia produtiva da carne bovina, assim como ocorreu com as questões relacionadas à sanidade animal. O produto que não apresentar este compromisso, gradativamente, perderá espaço no mercado, já que o “compliance” socioambiental é cada vez mais valorizado pelo consumidor.
A avaliação foi feita por diretores de entidades do agronegócio, executivos de frigoríficos, representantes do varejo e dirigentes de ONGs reunidos em evento, realizado pelo Walmart Brasil, nesta semana em São Paulo (SP). Na ocasião, o varejista apresentou sua nova política de compra para carnes provenientes do bioma amazônico.
Segundo Fernando Sampaio, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), o setor da carne bovina tem que cada vez mais promover o controle de seus riscos socioambientais, já que este cuidado se configura, na prática, em um atributo intrínseco à qualidade do produto final. “E neste desafio, os frigoríficos e o varejo precisam auxiliar o pecuarista.”
De acordo com Miguel Gularte, presidente do frigorífico JBS para o Mercosul, produzir com sustentabilidade é uma conduta fundamental para competitividade dos negócios, não sendo mais custo, e sim um ativo para se vender. Gularte ressaltou que o JBS tem cerca de 170 mil pecuaristas-fornecedores absolutamente monitorados do ponto de vista da conformidade socioambiental.
A preocupação com o “compliance” também pode ser evidenciada em pesquisas, como mostra, por exemplo, recente estudo da Amcham, o qual revela que 92% dos empresários consultados estão buscando capacitação para estruturarem em suas companhias programas de transparência nos negócios.
Carne monitorada
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E, a iniciativa do Walmart é uma ação concreta que corrobora esta tendência, que avança para se tornar exigência no mercado de alimentos. De acordo com Adriana Muratore, vice-presidente comercial e marketing do varejista, toda a carne bovina disponível na rede, que seja oriunda do bioma amazônico, tem conformidade socioambiental. E isso, no nosso caso, explicou a executiva, significa que o produto vem de fazendas com desmatamento ilegal zero, que não tenham trabalho escravo, não situadas em áreas embargadas pelo Ibama, e/ou consideradas indígenas, bem como fora de unidades de conservação. Segundo Adriana, esta política, que vale para todos os fornecedores do Walmart localizados no bioma amazônico – aproximadamente 32 plantas frigoríficas e 75 mil fazendas – será expandida para todo o País já em 2017.
Proprietária de uma destas fazendas, situada em São Félix do Xingu (PA), a pecuarista Solange Reusing Liebl, disse que ao tocar o seu negócio, levando em conta o “compliance” socioambiental, conseguiu dobrar a produtividade do seu rebanho, saltando de 18@ hectare/ano para cerca de 36/37@ ha/ano. Para Antônio Werneck, diretor-executivo da The Nature Conservancy (TNC), políticas públicas de incentivo são imprescindíveis para dar escala a este modelo de produção sustentável, sendo necessário o envolvimento real do Poder Público, não bastando apenas o mercado.