Mercado mostra ceticismo e CCR recua na Bolsa após arrematar concessões no Paraná

Ações caem após vitória no leilão que inclui R$ 10 bi em investimentos e expansão de 569 km, com mercado duvidando de lucratividade

Murilo Melo

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O mercado reage com ceticismo após a CCR (CCRO3) vencer o leilão do lote 3 de concessões rodoviárias no Paraná, superando concorrentes de peso como Pátria, EPR e 4UM em uma disputa acirrada. A prova dessa cautela por parte dos investidores é que as ações da companhia caem 0,19%, nesta sexta-feira (13), a R$ 10,72. Na quinta-feira (12), dia da oferta, os papéis da empresa registraram queda de 3%. Analistas dizem que esse comportamento é reflexo da desconfiança em relação à rentabilidade do empreendimento.

Com um desconto tarifário de 26,6%, a oferta da CCR ficou ligeiramente à frente do Pátria, que apresentou 26,5%. O contrato inclui compromissos de investimento (capex) de aproximadamente R$ 10 bilhões e representa uma expansão na presença da empresa no Estado.

O Lote 3 abrange 569 quilômetros de rodovias que conectam 17 cidades no Paraná, região importante para o agronegócio brasileiro, com um Produto Interno Bruto (PIB) superior ao do Uruguai. Essa concessão inclui 56% do sistema Rodonorte, atualmente operado pela CCR, e oferece oportunidades de sinergias operacionais e otimização de investimentos. O projeto é estratégico para a infraestrutura logística e competitividade das exportações agrícolas do Paraná.

Segundo análise do BTG Pactual, a oferta vencedora deve gerar uma taxa interna de retorno (TIR) real não alavancada de cerca de 10%, podendo chegar a 15% com alavancagem. O valor presente líquido (VPL) do projeto é estimado em R$ 900 milhões, representando 4% do valor de mercado da CCR. O Bradesco BBI calcula, no entanto, que o VPL deve atingir R$ 1,2 bilhão, o equivalente a R$ 0,60 por ação.

A CCR argumenta que sua longa experiência na operação da Rodonorte proporciona vantagem competitiva na avaliação de riscos de tráfego, despesas operacionais (opex) e investimentos (capex). Além disso, a empresa diz que aposta em eficiência operacional e mecanismos de mitigação de riscos, projetando economias e um aumento de 5% na receita, mesmo após o desconto tarifário.

O Bradesco BBI mantém uma perspectiva positiva para a CCR, com recomendação de outperform e preço-alvo de R$ 18 para o final de 2025. O BTG, por outro lado, recomenda compra, também com preço-alvo de R$ 18.

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Próximo leilão

O próximo grande evento no setor será o leilão do lote 6, marcado para 19 de dezembro. Localizado também no Paraná, esse trecho abrange uma concessão de 30 anos que demandará cerca de R$ 13 bilhões em investimentos e oferece uma TIR não alavancada de 10,64%. O modelo de concessão será baseado no maior desconto sobre a tarifa máxima de pedágio.

A CCR demonstrou menos interesse pelo lote 6. Durante teleconferência com analistas, a empresa disse que os dois ativos prioritários para 2024 eram o lote 3 e a concessão Sorocabana, indicando que sua estratégia no próximo leilão será mais cautelosa. Por outro lado, empresas como Pátria Investimentos e EPR, que operam os lotes 1 e 2, despontam como favoritas para disputar o lote 6.