Mercado Livre (MELI34): lucro líquido e participação do e-commerce no 3º tri impressionam analistas

Avanços no Brasil com a Remessa Conforme e melhora em inadimplência foram destaques das análises sobre balanço

Camille Bocanegra

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O Mercado Livre (MELI34) apresentou lucro líquido de 359 milhões de dólares no terceiro trimestre. A cifra representa um salto de 178,2%, em dólar, em relação ao mesmo período do ano passado. O resultado superou o consenso e impressionou analistas.

Os recibos de BDRs da companhia reagiram bem à divulgação, avançando 1,8%, cotados a R$ 55,41, por volta das 11h50. Entretanto, todo o setor de e-commerce tem sessão de fortes ganhos hoje na Bolsa: Magazine Luiza (MGLU3) salta 11,2%; e Casas Bahia (BHIA3) avança 8,7%.

“Os resultados do 3T23 continuaram a confirmar que o MELI sabe como gerenciar uma plataforma genuína, com uma poderosa combinação de consolidação de participação de mercado e monetização de múltiplos verticais de negócios”, considera o Bradesco BBI, destacando que o balanço divulgado abre caminho para uma revisão ascendente adicional nos lucros.

“O lucro por ação de US$ 7,16 aumentou 2,8 vezes em relação ao ano anterior, superando o consenso de US$ 5,15, devido a receitas mais fortes (+5.8% em relação às estimativas) e expansão da margem, além de uma reversão de impostos no México de US$ 2,.81 por ação”, destacou o Bank of America (BofA).

A margem EBITDA também surpreendeu, uma vez que a indicação do trimestre anterior seria de uso de margem para reinvestimentos na posição competitiva de longo prazo do nome. Ainda assim, a empresa entregou 18,2%, que corresponde a “+190 pontos-base em relação ao trimestre anterior e cerca de 400 pontos-base acima das expectativas do consenso e da BBI, impulsionada pela alavancagem operacional e melhor monetização da plataforma”, explica o BBI.

Na visão do BofA, o resultado foi motivado por fortes receitas, alavancagem operacional e reversão de impostos. Os pontos teriam impulsionado o lucro para patamar acima das expectativas. Além disso, a disrupção de transações fronteiriças e as pressões sobre concorrentes, em especial no Brasil, marcaram também o forte trimestre do nome.

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Participação no e-commerce

No Brasil, o comércio eletrônico, especialmente envolvendo importações, teve sua dinâmica alterada a partir da implementação do programa Remessa Conforme. Com a adesão por gigantes, como o próprio Mercado Livre e Shein, concorrentes aumentaram preços e saíram de categorias. Além disso, “os altos custos de financiamento e a fraqueza nas principais categorias de produtos de alto valor afetaram os concorrentes omnichannel“, destaca o BofA.

“O MELI continua a se destacar em todas as regiões e unidades de negócios, indo contra a maré que afetou o restante de nossa cobertura à luz das ainda desafiadoras condições de consumo no Brasil”, considera o BBI.

O momento de crédito no Brasil foi definidor para a condição atual apresentada pelo Mercado Livre, de acordo com o BTG Pactual.

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“O custo mais elevado de financiamento impediu a maioria dos players de manter o crescimento dos anos anteriores, abrindo caminho para mais consolidação, enquanto a concorrência e/ou a inflação continuarão prejudicando a economia unitária”, considerou. Assim, a empresa se destaca como “um vencedor no comércio eletrônico e pagamentos na América Latina.

O Itaú BBA tem visão similar e destacou que o resultado final se apresentou 15% acima das projeções do banco.

“A temporada de resultados do 3T23 reforça nossa percepção da posição privilegiada do MercadoLibre para continuar consolidando o espaço de comércio eletrônico na América Latina em um momento em que os concorrentes estão enfraquecidos”, considera o BBA.

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Melhoria de inadimplência no Brasil

A operação voltada para o crédito representou cerca de 24% do Ebitda, explicado pelo aumento na carteira de empréstimos em 23% em comparação com o ano passado e 5% em relação ao trimestre anterior. Como observado por outros players nacionais, a qualidade de crédito tem melhorado no Brasil.

No geral, o BofA observou que a qualidade de crédito apresentado pelo Mercado Livre foi mista, com com inadimplência de menos de 90 dias de 10,6%, um aumento de 70 pontos-base em relação ao trimestre anterior, e inadimplência de mais de 90 dias diminuindo 480 pontos-base em relação ao trimestre anterior, para 20,3%.

“Vemos o aumento na cobertura de mais de 90 dias (+120 pontos-base em relação ao trimestre anterior) como tranquilizador, embora o desempenho da inadimplência nos próximos trimestres seja fundamental para determinar as perspectivas de lucratividade deste vertical”, acrescenta o BBI.

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O BofA destaca, ainda, que os avanços em frentes como marketplace, fintech, anúncios, programa de fidelidade e até mesmo o segmento de logística “são impressionantes e devem se manter”. Em julho, o BofA reduziu a classificação para “neutro”, motivado principalmente pelo comércio eletrônico transfronteiriço no Brasil, e segue monitorando os desenvolvimentos nesse campo.

O BBI considera o papel como preferência no setor e aumentou o preço alvo para final de 2024 para US$ 2.000 por ação (a meta anterior estava fixada em US$ 1.850).

“Temos consistentemente superado o consenso nas estimativas do MELI e, agora, após incorporar o 3T23 em nossos números, ajustamos ainda mais nossas estimativas de lucro para 2024 em 11% (30% acima do consenso)”, destaca.

O consenso fixa lucro líquido de US$ 1,4 bilhão para 2024, o que corresponde ao número anualizado observado já no terceiro trimestre de 2023. O valor sugere que não haveria nenhum crescimento do EPS (lucro por ação) nos próximos cinco trimestres, o que é considerado “excessivamente conservador à luz do forte momento e poder de execução da empresa” para o BBI.

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O Itaú BBA avalia o nome como outperform (performance acima da média, similar a compra), com preço alvo de US$ 1.628,00 para 2024.

Argentina tem redução de risco

Outro ponto destacado foi que a taxa de câmbio favoreceu todos os mercados, com exceção da Argentina. Mas, mesmo no país vizinho, o aumento da receita de juros sobre depósitos argentinos já teria compensado as perdas cambiais em recompras e contabilidade hiperinflacionária.

“Em resposta à contínua desvalorização do peso argentino (ARS), a empresa realizou uma simulação para avaliar o impacto de uma desvalorização de 100% em relação ao dólar americano (USD) em seus resultados para o 3T23, o que indicou um efeito neutro a ligeiramente positivo no lucro líquido” observou o BBA.

Ainda que a flutuação cambial e a instabilidade macroeconômica se apresentem como riscos no país para o papel no futuro, de acordo com o BBI, os perigos inerentes à operação na Argentina seguem diminuindo.

No atual balanço, a contribuição direta do país cresceu 28% na comparação anual. Contudo, na análise do banco, a participação se diluiu na composição total, em -16 p.p. em relação ao ano anterior na contribuição direta consolidada.