Mercado ainda vê emergentes como “Peste Negra”, mas melhora avaliação do Brasil

Analistas do Citi Research mostram reduziram recomendação para o México e seguem com baixa exposição à América Latina

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em um cenário em que os mercados desenvolvidos parecem estar bem mais atrativos que os emergentes, é difícil encontrar um investidor que tenha algo positivo a dizer sobre as nações não desenvolvidas. Só que para muitos investidores, o cenário atual para este grupo de países é similar a um grande desastre histórico, avalia a equipe de análise do Citi Research.

Em relatório datado em 13 de janeiro, os estrategistas Markus Rosgen e Yue Hin Pong deixaram evidente os temores do mercado em relação aos emergentes logo na primeira frase do documento: “ouvindo os comentários dos investidores sobre estes mercados, pode-se pensar que eles estejam se referindo à Grande Praga de 1665”, fazendo referência à epidemia recorrente da Peste Negra do século XIV que atingiu Londres e provocou cerca de um quinto da população da cidade.

Rosgen e Pong afirmam que mesmo com problemas, os emergentes respondem por 30% da capitalização de mercado e não pelo mercado de ações como um todo. “O que nos surpreende é a diferença entre o sentimento sobre os mercados desenvolvidos, especialmente os EUA, e o sentimento sobre os emergentes. Se a opinião predominante sobre os emergentes vier a estar correta, de que esta classe de ativos é problemática, os desenvolvidos também terão problemas”, afirmam. 

Assim, na avaliação dos estrategistas, os emergentes deixaram de ter prêmios e passaram de caros a baratos devido ao forte “sell-off” (venda maciça). E Rosgen e Pong recorrem a estatísticas, avaliando que, no pico, os emergentes eram negociados a três vezes o valor patrimonial, um recorde depois de 1990, múltiplos estes que agora estão pela metade. Desta forma, o prêmio deixou de existir para os menos desenvolvidos. Agora, há um desconto de 27% em relação aos desenvolvidos, enquanto o ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) dos emergentes continua sendo superior. 

E, desde 2010, as revisões nas projeções do lucro por ação tiveram um desempenho inferior aos desenvolvidos chegando, no final do ano passado, aos mesmos níveis observados durante a crise de 1997 e 1998 e a probabilidade de que a situação possa piorar ainda mais é pequena.

“O otimismo dos analistas dos emergentes foi eliminado por nocaute. O ciclo de liquidez tão favorável para os desenvolvidos está aparentemente começando a voltar-se para os emergentes, especialmente para a Ásia. Portanto, os catalisadores dos emergentes devem ser o valor, surpresas positivas, maior liquidez e poucos detentores da classe de ativos”, ressaltam.

México piora, enquanto Brasil melhora classificação
Dentre as atualizações dos modelos, Rosgen e Pong avaliam que, dentre as escorregadas mais notáveis, está o da Coreia do Sul – com revisões fracas de lucro por ação – e do México, enquanto o Brasil apresentando uma melhor posição com relação à perspectiva anterior. Neste cenário, eles rebaixaram a recomendação para o México de overweight (exposição acima da média do mercado) para neutra e reduziram o underweight (exposição abaixo da média do mercado) para o Brasil. Contudo, dentre os emergentes, a América Latina continua sendo a região em que o Citi recomenda menor exposição.

Assim, de um lado, eles se mantêm overweight na Ásia, como China, Coreia do Sul e Taiwan, enquanto a região EMEA (Europa, Oriente Médio e África) permanece com recomendação neutra. A Rússia segue sendo o único país com overweight e a Turquia e a África do Sul com underweight.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.