Méliuz prestes a virar banco digital? Empresa expande atuação e ação salta 10%, mas analistas veem um risco no radar

Compra do Acesso Bank foi vista como positiva, mas analistas da XP destacam que há risco de parceiros bancários começarem a ver o Méliuz como um concorrente

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O anúncio feito pelo Méliuz (CASH3) nesta segunda-feira (3) representa mais um passo em sua estratégia de expansão, mostra o grande potencial de abrir novas frentes de negócios com forte geração de valor e destaca uma excelente oportunidade para a Méliuz se expandir no ecossistema financeiro mais rapidamente. Assim, cada vez mais, está se tornando um banco digital, o que também traz alguns pontos de atenção para a companhia.

Foi assim que os analistas avaliaram a aquisição do banco digital Acesso Bank por um valor de R$ 324,5 milhões.

O Acesso Bank foi fundado há oito anos por Sérgio Kulikovsky e deu início às operações apenas como um cartão pré-pago, que era comercializado em supermercados. Em 2018, a empresa criou seu banco digital e o Bankly, serviço de banking as a service, com a ajuda de Davi Holanda, atual CEO, que veio do PagSeguro.  O Acesso Bank conta com produtos como conta, pagamentos, cartõe e saque de dinheiro e tem uma equipe de 178 funcionários e R$ 54 milhões de faturamento em 2020; apenas em março, movimentou R$ 1,3 bilhão em volume total de pagamentos (TPV, na sigla em inglês). A operação ainda aguarda aprovação do Banco Central.

A transação consiste em uma troca de ações, em que os acionistas do banco vão passar a deter uma participação de 8% nas ações da Méliuz em troca do banco digital.

Na avaliação de Marcel Campos e Matheus Odaguil, analistas da XP, embora o mercado esperasse uma aquisição de banco digital, a notícia é positiva devido à estrutura do negócio e ao banco específico adquirido.

Conforme apontam os analistas, o Méliuz não está pagando pelos clientes, algo que sua própria plataforma deveria adquirir ao longo do tempo, nem pelo valor da marca, já que sua marca é forte.

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Pelo contrário, a companhia adquiriu o que, na visão dos analistas, é o mais importante: i) uma experiência bancária digital completa para sua base de mais de 16 milhões de usuários; ii) uma infraestrutura tecnológica já em funcionamento que facilite a manutenção e o desenvolvimento por parte de sua equipe de tecnologia; iii) licenças regulatórias e requisitos cumpridos, o que deve poupar tempo para a Méliuz avançar em sua estratégia de ecossistema financeiro.

Como alguns participantes do mercado avaliam os bancos na base de US$ 1 mil por cliente, uma métrica que parece ser o caso para bancos digitais como Inter e Nubank, o Méliuz se beneficiou de um mercado onde pode ser comparado, como dificilmente é comparado a outras empresas locais listadas.

Além disso, a companhia pode ter uma reavaliação na Bolsa, pois a plataforma poderia engajar clientes em seu banco digital, tornando sua ação fortemente desvalorizada na métrica descrita anteriormente.

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“Como proxy, se usarmos o número de solicitações de cartão de crédito Méliuz ao Pan como proxy para possíveis contas criadas no banco digital Méliuz, o banco sozinho poderia valer mais de R$ 15 bilhões”, apontam. Ou seja um valor 275% maior ante os R$ 4 bilhões de valor de mercado atualmente. “Porém, lembre-se de que os clientes devem ser ativos e engajados. Finalmente, o baixo custo de aquisição de clientes pelo Méliuz poderia beneficiar o banco adquirido de maneira significativa”, avaliam.

A base de clientes mais ampla e engajada pode levar o Méliuz a se tornar mais atraente para parceiros, mais eficiente em analisar dados e, por consequência, aumentar o engajamento com os usuários.

“Como o negócio bancário é por natureza um segmento onde os usuários têm maior frequência de uso, para pagar contas, receber salários e outros, acreditamos que o ecossistema da Méliuz poderia se beneficiar de uma experiência ainda mais envolvente ao incorporar uma operação bancária em sua plataforma. Dito isso, a aquisição da Acesso poderia ajudar a Méliuz a se tornar uma empresa grande o suficiente para que os parceiros ignorem e para que os clientes não percebam seus benefícios”, projetam.

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Para a Guide Investimentos, a companhia segue com um processo aquecido de aquisições, o que resulta na continuidade de um crescimento robusto. O analista Luis Sales também avalia que a transação é bastante estratégica para a Meliuz pela possibilidade de entregar aos seus 16 milhões de usuários uma conta digital completa que vai servir de plataforma para entrada em outros serviços financeiros (de empréstimos e investimentos até seguros).

Além de facilitar o lançamento de novos produtos financeiros como investimentos e seguros em parcerias com outras instituições financeiras, o Bradesco BBI também aponta que a transação também pode aumentar a venda de produtos e serviços já existentes, como Cartão Méliuz, Marketplace e Méliuz Nota Fiscal. “Há um grande potencial de expansão em novas frentes de negócios (financeiras) com forte geração de valor”, apontam Fred Mendes, Cristian Faria e Gustavo Tiseo, analistas do banco.

Riscos a serem monitorados

Por outro lado, também há riscos na operação, avalia a XP. Isso porque, como o Méliuz está se tornando um banco digital por meio da transação, há o risco de os parceiros bancários da empresa começarem a ver o Méliuz como um concorrente.

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Assim, caso isso aconteça, a empresa pode perder a oportunidade de prestar serviços a um setor com um enorme mercado endereçável e com competição cada vez maior para se tornar um concorrente em um negócio com Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE, na sigla em inglês) em declínio e difícil de monetizar.

Mesmo com alguns pontos de atenção no radar, a avaliação da aquisição foi vista como bastante positiva pelos analistas e investidores em geral, o que levou as ações CASH3 a fecharem em alta de 10,37%, a R$ 36,49.

O BBI reitera a Méliuz como a principal escolha em três setores em que os analistas da companhia cobrem (tecnologia, saúde e educação), com um preço-alvo de R$ 42,00 para a ação ao final de 2021, o que configura um potencial de valorização de 26,39% para os ativos em relação ao fechamento de sexta, reforçando assim a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado). Os analistas avaliam que a empresa vem apresentando consecutivamente resultados melhores do que o esperado e continua no caminho certo em sua estratégia de expansão, o que leva a ver uma perspectiva de revisão para cima das expectativas para o preço-alvo.

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A XP também reitera recomendação de compra e preço alvo de R$ 41 (ou uma alta de 23,38% frente o fechamento de sexta), pois avalia que a Méliuz é o melhor veículo para capturar a concorrência agressiva no mercado de e-commerce e financeiro, ao mesmo tempo em que ganha exposição a uma série de opcionalidades não precificadas que poderia ser um divisor de águas em termos de valuation. As quatro casas de análise que cobrem o papel, segundo o consenso Refinitiv, possuem recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo médio de R$ 38 (alta de 14,35% em relação ao último fechamento).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.