Méliuz (CASH3): entre receita forte e Ebitda negativo no 4º tri, ação fecha em alta após sessão volátil

Debate sobre rentabilidade versus crescimento deve seguir no radar dos investidores em Méliuz

Lara Rizério André Cabette Fábio

Méliuz (Reprodução: Instagram)
Méliuz (Reprodução: Instagram)

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Fortes tendências de receita, mas preocupações com rentabilidade seguindo no radar levam a uma sessão volátil para as ações do Méliuz (CASH3) após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2021, na noite da última terça-feira (29). 

Nesta quarta (30), as ações abriram em queda, chegando a totalizarem perdas de 5,68%, a R$ 2,49, mas viraram para ganhos ao longo do dia, em meio a diferentes percepções sobre o resultado da companhia. Os papéis fecharam no positivo, com alta de 2,65%, a R$ 2,71.

O Bradesco BBI destacou que o Méliuz reportou um 4T21 com receita de R$ 98 milhões, alta de 126% em base anual (em linha com o trimestre anterior), mais uma vez impulsionada principalmente pela receita do marketplace.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), entretanto, caiu em território profundamente negativo para -R$ 52 milhões no 4T21 (ou -R$ 30 milhões ajustado para impactos pontuais), versus -R$ 9 milhões no 3T21, uma vez que a empresa aumentou materialmente as despesas de cashback para fomentar o engajamento dos clientes, e o opex (despesas operacionais) continuou a subir.

Assim, avalia que a preocupação com a rentabilidade deve continuar a pesar no curto prazo, à medida que a empresa começa com novos produtos.

Já o total do volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) ficou em R$ 2,0 bilhões, 46% acima do trimestre anterior e 113% acima em base anual, com R$ 1,7 bilhão relacionados à Méliuz e R$ 300 milhões provenientes de operações internacionais.

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Consequentemente, a receita de marketplace aumentou para R$ 97,7 milhões, alta de 66% no trimestre e de 126% em base anual, implicando em take rate (taxa de comissão) de 4,2% (contra 3,4% no trimestre anterior e 3,7% no 4T20).

Em teleconferência de apresentação de resultados, Luciano Valle, CFO do Méliuz afirmou que a empresa vinha observando no terceiro trimestre campanhas mais agressivas por conta da aproximação da Black Friday, e que parte da alta da receita se deve à incorporação desse resultado.

Já “em uma nota negativa, as despesas de cashback ficaram em 3,3% da GMV (versus 2,0% no 3T21 e 2,3% no 4T21), implicando em uma compressão de spread da receita líquida de cashback”, afirma o BBI.

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Recompensas aos clientes como estratégia

De acordo com a administração da companhia, a estratégia de promover o crescimento (aumentando as recompensas aos clientes) foi específica para este trimestre, e eles mencionaram a “take rate líquida ” (ou seja, comissões recebidas dos vendedores líquidas de cashback pagas aos usuários) recuperada para 2% da GMV no 1T22 (versus 0,4% no 3T21 e 2,3% no 1T21). Enquanto isso, o crescimento do GMV deveria estar próximo de 60% em base anual, o que implica uma margem de contribuição (receitas líquidas de despesas de cashback) de cerca de R$ 30 milhões no 1T22, no geral estável no trimestre.

“Acreditamos que o mercado deve considerar os resultados como negativos, considerando que a forte linha de receita foi um pouco antecipada pelos números preliminares previamente divulgados, e a principal surpresa estava relacionada ao número inferior ao consenso sobre o Ebitda. Embora a empresa deva continuar a seguir sua estratégia de crescimento nos próximos trimestres, acreditamos que os investidores podem estar preocupados com a rentabilidade no curto prazo, o que deve, em última instância, pesar no desempenho das ações”, destacaram os analistas do BBI, antes da abertura do mercado.

A XP, por sua vez, viu os números da companhia de forma positiva.

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“Apesar do resultado abaixo do esperado, pressionado por maiores despesas de cashback e desembolsos atribuíveis às suas recentes aquisições, a empresa manteve um ritmo de crescimento robusto e superou nossas estimativas de receita para o trimestre”, afirmaram os analistas da casa.

Além disso, destacam, os investimentos em M&A [fusões e aquisições] estão alinhados com sua estratégia de alocação de capital, que visam ampliar seus serviços e produtos financeiros para sua crescente base de clientes. “Como resultado, não esperamos uma reação negativa das ações e mantemos nossa visão positiva de longo prazo sobre a empresa”, destacou.

Os analistas da XP veem esse aumento nas despesas de cashback como momentâneo, esperando que se normalize nos próximos trimestres.

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Tanto o BBI quanto a XP possuem recomendação de compra ou equivalente para os ativos CASH3, com preços-alvo respectivos de R$ 3,90 (upside de 48%) e de R$ 8 (upside de 203%). O UBS BB, por sua vez, tem recomendação neutra para o papel, com preço-alvo de R$ 3 (upside de 14%) enquanto que o Itaú BBA, que avaliou o balanço como neutro, tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) com preço-alvo de R$ 10,70 (305% de upside).

Monetização é destaque em teleconferência

Questionado sobre monetização dos serviços durante teleconferência de apresentação dos resultados, Luciano Valle, CFO da companhia, afirmou que a linha de cartões de créditos fornece uma captura maior de volume e receita com novas tarifas. Também citou as margens com a compra de Bitcoins.

Sobre financiamento para o produto de crédito, apontou que a empresa tem uma postura muito conservadora, já que o setor é pressionado por inflação, que leva a menor poder de compra da população. Ele afirmou que a empresa pretende ser cautelosa, de forma a manter o custo de capital baixo, e que não tem pressa em avançar nesta frente.

Já o CEO do Méliuz, Israel Salmen, ressaltou que mais de 680 mil usuários únicos usaram em 2021 o aplicativo Méliuz Nota Fiscal, que permite “cashback” para quem usa notas fiscais, mas reconheceu que ainda há “desafios de monetização” no aplicativo.

Olhando para a internacionalização da companhia, Salmen afirmou que 100% daquilo que é desenvolvido no Brasil poderá ser aplicado em sua aplicação internacional.

Mas disse que, no momento, não é isso o que ocorre. O executivo disse que a equipe estabelecida vem focando no novo app no Brasil, enquanto que uma equipe polonesa cuida das aplicações internacionalmente. Segundo o executivo, o objetivo é que todas as funções do Méliuz possam ser utilizadas também em suas operações internacionais.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.