Publicidade
O conselho de administração do Méliuz (CASH3) aprovou a criação de uma nova estratégia de tesouraria, voltada para a aplicação de recursos e realização de investimento em bitcoin, o que fez as ações da empresa de cashback dispararem 26%.
Nesse contexto, o colegiado da companhia aprovou a aplicação de até 10% do caixa total do Méliuz na maior moeda digital do mundo, buscando um retorno de longo prazo, bem como solicitou análise para tornar o bitcoin o principal ativo estratégico da sua tesouraria.
A companhia também aprovou a constituição de um comitê estratégico de bitcoin para apoiar a análise da viabilidade da ampliação da estratégia, a operacionalização das compras e apoio na criação de diretrizes e governança específicas e afins para tal assunto. O Méliuz disse que comprou 45,72 bitcoins por aproximadamente US$ 4,1 milhões a um preço médio de US$ 90.296,11 cada.
Os analistas da XP Investimentos mostram uma postura cautelosa em relação à decisão do Méliuz. Eles dizem que a medida levanta preocupações sobre como isso pode afetar a gestão financeira da empresa. Para os analistas, a movimentação pode gerar inquietação entre os investidores, que questionam a aplicação de recursos em um ativo tão volátil, especialmente quando a operação principal do Méliuz, voltada ao cashback e serviços financeiros, não envolve o mercado de criptomoedas.
A recomendação do conselho de criar um estudo aprofundado sobre a viabilidade de tornar o bitcoin um ativo estratégico também gerou dúvidas. Isso porque, para os analistas, não há uma conexão clara entre esse investimento e os objetivos operacionais do Méliuz. A mudança na política de caixa parece estar desconectada da lógica de expansão e crescimento do core business da empresa, o que gera incertezas sobre como a medida pode beneficiar seus resultados a longo prazo. O foco da companhia ainda está em expandir sua atuação no setor de cashback, serviços bancários e investimentos digitais, e a entrada no universo das criptomoedas pode não alinhar-se a essas metas.
De acordo com analistas do UBS BB, embora essa diversificação em bitcoin seja relativamente nova entre as empresas brasileiras, ela se alinha com uma tendência global crescente de empresas que buscam reservas alternativas de valor e retornos potenciais. “Se bem-sucedida, a estratégia pode diferenciar o Méliuz na atração de investidores interessados em exposição à criptomoeda”, afirmaram em relatório a clientes, ponderando, contudo, que pode criar mais volatilidade nos resultados da empresa.
Continua depois da publicidade
A XP Investimentos reconhece que o bitcoin tem ganhado cada vez mais espaço como uma possível reserva de valor, o que pode vir a justificar a aposta do Méliuz no futuro. Se bem estruturada, essa alocação de recursos pode se tornar uma estratégia de longo prazo, caso o mercado de criptomoedas evolua favoravelmente. No entanto, para que essa decisão seja bem recebida pelos investidores, a empresa precisará demonstrar como essa alocação de recursos se encaixa em sua estratégia geral e como os riscos associados ao bitcoin serão administrados.
A expectativa dos analistas da XP é que o Méliuz realize uma análise mais profunda sobre os efeitos dessa estratégia e esclareça como ela se relaciona com sua operação principal. Eles também observam que a execução de um comitê estratégico de bitcoin será fundamental para orientar a empresa nesse novo caminho, mas ressaltam que o êxito dessa iniciativa depende de uma integração mais clara entre a gestão financeira e as operações de negócio. Em síntese, a XP Investimentos acredita que, embora o investimento em bitcoin possa ter um potencial de retorno, ele precisa ser cuidadosamente integrado à estratégia da empresa para não desviar o foco do crescimento de suas operações principais.
O conselho da empresa também pediu análise detalhada sobre possíveis formas de geração incremental de bitcoin para os acionistas, seja por meio da alocação de caixa, do fluxo de caixa operacional ou de outras iniciativas estratégicas; e avaliação de alterações necessárias em seus documentos societários, políticas e procedimentos internos, incluindo estruturas e política de gerenciamento de riscos para fins de ampliação de limites para investimento em bitcoin.
Continua depois da publicidade
O Méliuz estima ter definições sobre a estratégia em aproximadamente 45 a 60 dias. “Acreditamos que essa estratégia não apenas protegerá e fortalecerá a posição financeira do Méliuz, mas também tem o potencial de nos posicionar como pioneiros em uma transformação financeira que já está em curso globalmente”, afirmou o presidente do conselho de administração e fundador da companhia, Israel Salmen, em comunicado. “Além disso, acreditamos também que tal estratégia é complementar à operação do Méliuz, que seguirá focada em crescer, gerar caixa e valor para nossos mais de 35 milhões de usuários”, acrescentou.
O bitcoin atingiu o valor mais baixo desde novembro na semana passada, a US$ 78.273, em meio a dúvidas sobre a política dos Estados Unidos para o setor, mas nesta semana ensaiava uma recuperação, voltando a ser negociado acima de US$ 91 mil. Mais cedo no ano, porém, chegou a superar US$100 mil.
(com Reuters)