Medidas para reduzir preços de alimentos podem afetar empresas da B3; veja quais

Em relatórios, XP destaca ver impactos limitados para varejistas alimentares, mas atuação sobre óleo de palma pode beneficiar Natura&Co, além de afetar Camil e M.Dias Branco

Lara Rizério

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O governo brasileiro anunciou na noite da última quinta-feira (6) medidas para conter a inflação de alimentos, principalmente voltadas para a redução da carga tributária, enquanto a isenção do ICMS sobre a cesta básica ainda está pendente de negociações.

As medidas são as seguintes: (i) isenção de impostos de importação sobre itens como café, açúcar e proteínas; (ii) aumento da cota de importação isenta de óleo de palma, de 65 mil toneladas para 150 mil toneladas; (iii) estímulo para itens da cesta básica no Plano Safra do Brasil; (iv) aumento nos estoques regulatórios da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); (v) Supermercados farão publicidade dos melhores preços; entre outros.

Em termos de cronograma, o Governo espera que as medidas sejam aprovadas pela Câmara de Comércio Exterior do Brasil (Camex) e, assim, entrem em vigor nos próximos dias. Além disso, o vice-presidente Geraldo Alckmin também observou que irão negociar com os Estados brasileiros a isenção do ICMS (IVA) sobre a cesta básica, que atualmente possui alguns itens tributados em certos estados.

Em relatório, Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, analistas de varejo da XP Investimentos, veem impacto limitado para os varejistas alimentares (como Grupo Mateus GMAT3, Assaí ASAI3, Carrefour Brasil CRFB3 e GPA PCAR3).

A equipe de Agro, Alimentos e Bebidas da casa espera que o impacto mais relevante das medidas anunciadas seja sobre o óleo de palma, cuja cota de importação isenta foi mais que dobrada.

Quanto aos outros produtos, pode-se ver algum alívio nos preços, embora essa movimentação já era esperada (e já estava acontecendo) dada a sazonalidade e as safras abundantes.

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“Nesse sentido, enquanto preços mais baixos pressionariam o SSS, ou vendas nas mesmas lojas, (como visto durante períodos recentes de deflação alimentar), isso também pode levar a volumes melhores, potencialmente compensando esse impacto na dinâmica de SSS”, apontam os analistas.

No entanto, o impacto líquido sobre a inflação alimentar deve ser limitado e, assim, os analistas da XP não esperam uma mudança material no poder de compra dos consumidores, o que limita a recuperação dos volumes.

Para os analistas, quanto à potencial isenção do ICMS sobre certos itens da cesta básica em estados específicos, se ocorrer, deve levar a um efeito neutro do ponto de vista de lucro bruto/margem, embora o SSS deva cair (se os volumes permanecerem inalterados), uma vez que as vendas brutas devem ser menores, mas com deduções fiscais equivalentes menores.

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Os analistas, por sua vez, também veem um vento favorável para a Natura (NTCO3), uma vez que o óleo de palma pode ser o item mais beneficiado pelas medidas anunciadas.

“Nesse sentido, observamos que é uma matéria-prima utilizada na fabricação de cosméticos, embora represente uma pequena porcentagem dos custos de vendas da empresa”, avalia a equipe de análise.

Também devido à exposição ao óleo de palma, também poderá haver impacto para M. Dias Branco (MDIA3) e Camil (CAML3), avalia a equipe de agro da XP, formada por Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, em outro relatório.

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“A medida do governo em expandir a cota é positiva, na nossa visão, e deve ajudar a frear o aumento de custos com o óleo. No entanto, não deve ser suficiente para compensar o aumento dos preços do óleo em virtude do cenário global mais apertado de oferta e demanda, na nossa visão”, apontam os analistas.

O Goldman Sachs ressalta as medidas de remoção das tarifas de importação sobre certos produtos agrícolas, como carne (de 10,8% antes), milho (7,2%) e óleo de girassol (9,0%).

Alckmin destacou esforços como uma medida para controlar a inflação atual dos alimentos (atualmente em 7,2%), mas o Goldman também nota externalidades comerciais potencialmente positivas sob as novas políticas de reciprocidade do presidente dos EUA, Donald Trump.

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O Brasil é autossuficiente na maioria desses produtos, e apenas 1-2% de seu suprimento de milho e carne bovina é proveniente de importações, portanto, o banco não espera um grande impacto de curto prazo nos preços das commodities.

Tudo o mais constante, na margem, o Goldman prevê que essas medidas se traduzirão em preços mais baixos para o milho – cerca de 1,3%, o que seria positivo para a BRF (BRFS3), pois estima que representa 31% de seus custos – e para a carne bovina, cerca de 0,5%, o que seria negativo para a Minerva (BEEF3), que deriva 20% de seus volumes do Brasil.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.