Marfrig e Minerva: por que o JPMorgan passou a ter recomendação neutra para as ações

JP Morgan mantém avaliação neutra para Marfrig e Minerva, destacando impactos da oferta de gado estável e preços elevados no mercado brasileiro

Murilo Melo

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A Marfrig (MRFG3) e a Minerva (BEEF3), duas gigantes do setor de proteína animal, receberam classificação neutra do JPMorgan após período sem classificação para as ações, com preços-alvo para dezembro de 2025 de R$ 19,50 e R$ 5,50 por ação, respectivamente, após os analistas avaliarem que a oferta de gado deve permanecer estável ou cair entre os principais países produtores, como Estados Unidos, Brasil, China e Argentina.

O mercado de exportação de carne bovina do Brasil para a Minerva, segundo os analistas do banco, tem se beneficiado de uma combinação de preços moderados na Ásia e preços mais fortes na América do Norte. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) apontam que a demanda global por carne bovina deve permanecer relativamente estável neste ano, enquanto a oferta global deve cair em 0,8%.

Nos últimos três meses, os preços de exportação da carne bovina brasileira subiram 8%, alcançando US$ 4,9/kg, com volumes aumentando cerca de 37% em comparação ao ano anterior. Esse crescimento, diz o relatório do JP Morgan, é principalmente impulsionado pelo aumento das exportações para os Estados Unidos e outros mercados. Em contraste, os preços na China, um dos principais destinos da carne bovina brasileira, permaneceram estáveis nos últimos seis meses, partindo de uma base baixa.

Nos EUA, a produção de carne bovina deve encolher 5% até o fim deste ano, de acordo com projeções da Usda. A menor oferta de gado deve manter os preços elevados, com estimativas de US$ 272 por 45,36 kg (100 libras), acima do preço atual de US$ 252,8.

Essa dinâmica deve manter os preços elevados, pressionando as margens dos frigoríficos. A pressão quanto ao aumento das despesas financeiras pode levar ambas as empresas a registrar fluxo de caixa livre negativo. “O motivo para não adotar uma classificação underweight (abaixo da média) neste momento é que a desvalorização do real e o aumento dos preços da carne bovina podem trazer um risco positivo às nossas estimativas”, afirmam os analistas.

Para o JP Morgan, a alavancagem continuará elevada nos próximos dois a três anos, e as relações entre dívida e valor de mercado estão entre as mais altas do setor, com 80% para a Minerva e 70% para a Marfrig. Esse fator deve resultar em maior volatilidade nas ações. Por outro lado, a depreciação do real e a alta nos preços da carne bovina podem trazer ganhos potenciais às estimativas de curto prazo.

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No caso da Marfrig, sua participação de 50% na BRF (BRFS3) desempenha um papel relevante, segundo o banco. “A exposição à BRF pode ajudar tanto no momento de ganhos quanto na disponibilidade de caixa”, diz o relatório. Essa participação equivale a cerca de 80% do valor patrimonial da empresa e representa mais de 100% do fluxo de caixa livre projetado para os próximos dois anos.

Os estrategistas observam que a empresa busca suavizar os custos mais altos do gado com um foco maior em produtos de maior valor agregado, como cortes de marca e hambúrgueres. Atualmente, as margens nos Estados Unidos permanecem positivas devido a preços elevados da carne bovina e à comercialização de animais ainda lucrativa para os pecuaristas.

Já a Minerva, que adquiriu recentemente ativos da Marfrig, enfrenta um momento de integração que deve aumentar seus volumes em 35%. Apesar disso, o aumento dos preços do gado pode superar o crescimento modesto nos preços globais da carne bovina, o que deve pressionar as margens de lucro nos próximos anos.

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A empresa negocia a um múltiplo de 5,3 vezes o valor total da empresa com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EV/Ebitda) estimado para 2025, levemente acima da média dos pares, que está em 4,9 vezes.

Entre as empresas do setor de proteínas, a ordem de preferência atual do JP Morgan é JBS (JBSS3), seguida por BRF, Marfrig e Minerva. A JBS, classificada como overweight (desempenho superior), se destaca como a principal escolha, seguida pela BRF também com overweight, enquanto as demais estão com classificações neutras.

Novos mercados

Na China, o mercado de carne bovina continua sobrecarregado de estoques, atingindo novos recordes, mesmo após a reversão no ciclo do gado. A recuperação dos preços é limitada e sazonal, sem expectativas de ultrapassar consistentemente US$ 5/kg. Além disso, o país está considerando a imposição de novos impostos sobre a carne bovina importada, como parte de uma investigação em andamento.

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A ideia, segundo o governo, é proteger o mercado interno, que enfrenta um rebanho em declínio. Isso se relaciona com o aumento dos preços nos principais fornecedores, como Brasil, Austrália e Argentina. Neste ano, o Brasil planeja expandir suas exportações para novos mercados, como Japão, Vietnã, Turquia e Coreia do Sul, que juntos representam 30% das importações globais de carne bovina, com o Japão em estágio avançado de negociações.

Curto prazo

No curto prazo, o mercado se surpreende com a estabilidade no número de gado confinado, que permanece no mesmo patamar do ano anterior. Os analistas pontuam que os pecuaristas estão colhendo bons lucros, favorecidos por custos baixos de ração e pela valorização dos animais. O peso médio do gado também atingiu níveis recordes, reforçando o momento positivo para os criadores.

Os cortes de carne seguem com preços elevados, em torno de US$ 315 por 45,36 kg, com o consumo de carne moída e cortes do quarto dianteiro liderando o crescimento. Segundo as empresas do setor, os consumidores continuam aceitando bem os preços altos, que têm se mantido estáveis. Mesmo assim, o JP Morgan deixa claro que essa dinâmica reduz as margens das empresas, que podem enfrentar ainda mais compressão em 2025.

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A expectativa para o próximo ano, segundo o banco, é de margens mais estreitas, acompanhando a queda nos abates ao longo do ano passado e deste. Já os valores residuais (como couro e gordura), que historicamente contribuem com até 15% da margem bruta, continuam enfraquecidos devido aos baixos preços do óleo de soja.

Por precaução

A Marfrig está investindo em modernização, aumento de produtividade e ampliação de mercados premium para enfrentar, por precaução, o ciclo de baixa na carne bovina. Entre as medidas, segundo informações do JP Morgan, estão a mecanização das operações e a intensificação das exportações para a Ásia, buscando manter margens em níveis sustentáveis, mesmo em um período de maior pressão nos custos.

A margem Ebitda da National Beef, subsidiária da Marfrig nos Estados Unidos, deve chegar a 2% em 2025, uma redução de 0,3 ponto percentual frente ao ano anterior. Na América do Sul, o crescimento esperado na receita pode ser acompanhado por custos mais altos com gado, comprimindo as margens operacionais.

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De acordo com os analistas, após uma reestruturação de ativos, a Marfrig prevê que metade de sua receita em 2025 virá de produtos de maior valor agregado, como cortes premium e hambúrgueres. A capacidade de abate deve passar de 5,1 mil para 8,4 mil cabeças por dia, enquanto a desossa deve dobrar para 11,9 mil cabeças diárias. A produção de itens industrializados deve crescer 20%, alcançando 22,3 mil toneladas mensais.

Com essa expansão, a produção na América do Sul pode atingir 900 mil toneladas de carne bovina este ano, gerando uma receita de R$ 19,2 bilhões, crescimento de 20% em relação ao ano anterior. Mesmo com o aumento, a margem operacional pode cair para 10,1%, o que resultaria em um Ebitda de R$ 1,937 bilhão.

A Marfrig deve ter consumido R$ 593 milhões em caixa até dezembro do ano passado, sem considerar as contribuições da BRF. O retorno ao fluxo de caixa positivo está previsto para 2027.