Marcopolo (POMO4) diz que processo inflacionário desafia recuperação das margens

Empresa afirma que há anos não enfrentava um processo inflacionário igual ao observado dos últimos dois

André Cabette Fábio

(Divulgação)
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O diretor financeiro (CFO) da Marcopolo (POMO4), José Antonio Valiati, afirmou nesta terça-feira (3) que a empresa não enfrentava havia muitos anos um processo inflacionário igual ao observado nos últimos dois – o que vem levando clientes a resistirem a aceitar repasses de custos.

Dessa forma, segundo o executivo, apesar da demanda forte, vem sendo difícil para a empresa recuperar margens por conta do impacto da inflação. Mesmo assim, afirmou que a rentabilidade caminha para um patamar mais próximo do histórico, anterior à pandemia.

As declarações foram dadas durante teleconferência com analistas para comentar os resultados do primeiro trimestre da empresa, quando a Marcopolo reverteu prejuízo e reportou lucro de R$ 98 milhões. O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado cresceu 118%, a R$ 51,3 milhões.

Após a divulgação do balanço, as ações da empresa valorizaram-se 2,24%, cotadas a R$ 2,74, enquanto o Ibovespa fechou em leve queda de 0,10%.

Concorrentes repassam custos

O CEO da empresa, James Bellini, afirmou que vê a concorrência repassando custos mais lentamente do que a Marcopolo, mas que não vê sentido em manter market share às custas de rentabilidade, acrescentando que a fabricante busca um equilíbrio entre os dois fatores.

Com isso, segundo ele, a Marcopolo vem abrindo mão de negócios menos rentáveis de forma a não prejudicar as margens.

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No balanço, a empresa afirmou que o desempenho foi afetado positivamente pelo “melhor mix de vendas, melhores margens a partir da recomposição de preços, maior diluição de despesas e pelo resultado da equivalência patrimonial”.

Falta de componentes prejudica produção

Segundo o balanço da Marcopolo, a produção total atingiu 3.084 unidades nos três primeiros meses de 2022, cifra 2,3% superior a do primeiro trimestre do ano passado. A analistas, os executivos da companhia ressaltaram que, no primeiro trimestre, a produção sofreu com variante Ômicron do coronavírus e falta de chassis.

Se não fosse a falta de componentes, a tendência seria uma adição maior do que de 15% na produção já a partir de abril. A diretoria disse que a expectativa é de que as entregas se acelerem a partir de junho, e ressaltou que as entregas foram postergadas, não canceladas, de forma que devem se acumular para mais tarde neste ano.

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Bellini afirmou que dentre as 3.850 unidades previstas na licitação do programa Caminho da Escola, realizada em abril, 1.200 são carrocerias de ônibus urbanos. Ele afirmou ainda que a expectativa é de que a licitação seja homologada em qualquer momento, e que depois disso as entregas deverão ocorrer dentro de um ano.

Avaliações dos resultados de Marcopolo

Em uma avaliação divulgada após a teleconferência, o Bradesco BBI afirmou que a Marcopolo “parece ter atingido um ponto de inflexão e deve apresentar recuperação de volume e lucratividade nos próximos trimestres, aproveitando a recuperação das viagens de ônibus no Brasil, aliviando a escassez de chassis de ônibus no 1S22 e os volumes retornando para o ‘Programa Caminho da Escola”.

O programa foi barrado por suspeitas de superfaturamento e direcionamento, mas a Marcopolo espera que o leilão seja homologado pelo TCU nas próximas semanas: “com isso, a Marcopolo teria capacidade suficiente para entregar 3.850 ônibus até março de 2023”.

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Assim, o BBI mantém classificação outperform (desempenho acima da média de mercado), com preço-alvo de R$ 4,00 e upside de 49%. No momento, o ativo é negociado a R$ 2,72, alta de 1,49%.

Margens

Em avaliação divulgada antes da teleconferência, a XP observou que as margens da Marcopolo foram positivamente afetadas por maiores preços unitários e melhor mix de vendas, porém, prejudicadas pela recente valorização do real.

Os analistas destacam que a produção de 3,1 mil unidades foi atingida por gargalos relacionados à cadeia de suprimentos, com indicativos dados pela companhia de uma aceleração no ramp-up de produção a partir de março de 2022, como uma leitura positiva para a demanda adjacente do setor. A XP reitera recomendação neutra para a Marcopolo.

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Fatia de mercado

O Bradesco BBI ressaltou que a Marcopolo alcançou market share de 35% para ônibus rodoviários pesados ​​no mercado doméstico, que apresenta maiores margens de lucro. Na visão do banco, essa tendência deve continuar nos próximos trimestres com a retomada do turismo no Brasil, combinada com o aumento das passagens aéreas e a melhora gradual da escassez de chassis de ônibus.

Além disso, o banco ressaltou o novo leilão do Caminho da Escola, avaliando que este em breve deve ser ratificado pelo Tribunal de Contas do Brasil (TCU). Segundo o Bradesco, um resultado positivo deve desencadear uma revisão do consenso de receita de 2022 de aproximadamente R$ 1 bilhão.

O banco mantém classificação outperform para o papel, e preço-alvo de R$ 4 frente a cotação de segunda-feira (02) de R$ 2,68.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney