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SÃO PAULO – Partindo do princípio que os mercados antecipam o movimento da economia, assistir ao rali das bolsas desde março inevitavelmente traz a sensação de recuperação. O fôlego dos mercados realmente inspira confiança, sugere que o pior pode ter passado, ou que a economia deve encaminhar sua retomada nos moldes da movimentação das bolsas. Por outro lado, ofusca um fator fundamental.
Por mais que o rali das bolsas pareça uma vitória, o maior avanço até aqui vem de uma das raízes da crise, o crédito. Pouco a pouco, alguns parâmetros de liquidez dos mercados retornam à normalidade. É essencial acompanhar estes indicadores, como Libor e TED Spread, de perto.
O que mais impressiona não é o fato que estas taxas apresentaram melhora significativa, mas por se apresentarem em patamares pré-crise.
Libor quase lá
A London Interbank Offered Rate (Libor
) é a taxa referencial de juros que é oferecida para grandes empréstimos entre os bancos internacionais que operam no mercado londrino. Para se ter uma ideia, é a taxa utilizada como base de remuneração para outros empréstimos em dólares a empresas e instituições governamentais.
Considerando a taxa em dólares de um mês, a atual taxa gira em torno de 0,30%. Para se ter uma ideia, esta referência atingiu 4,58% em seu pico. O padrão considerado normal de comportamento deste indicador, pré-crise, deve rondar os níveis da Fed Funds Rate, atualmente entre 0% e 0,25% ao ano.
TED Spread no alvo
A TED Spread nada mais é que a diferença de retorno entre a taxa interbancária Libor de três meses em dólares e os títulos do Tesouro norte-americano – Treasuries – com vencimento em três meses.
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Geralmente, com o estresse do mercado em alta, os bancos passam a segurar mais os empréstimos, mostram menor confiança para emprestar. A tendência é que as taxas interbancárias subam. Como os Treasuries são considerados uma aplicação livre de risco, quanto maior este spread entre os yields interbancários e as notas do Tesouro, maior a probabilidade de colapso no sistema financeiro.
Atualmente, a TED Spread contorna 58 pontos-base. Já bateu em 465 pontos-base com a crise. Seu padrão de normalidade varia de 30 a 50 pontos-base; muito próximo do visto nos últimos dias.
Encorajador
De olho nestes termômetros da liquidez, o portal MotleyFool ressaltou que estes sinais recentes são encorajadores por dois fatores básicos: mexem com confiança e eficácia das medidas do governo.
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Quando a crise estourou, evidências mostravam que a liquidez sumiu do sistema financeiro. Faltava confiança de uma instituição com a outra; não faltava dinheiro, apenas um banco não queria emprestar para o outro.
Assistindo a liquidez “secar”, o Federal Reserve lançou diversas medidas para estimular as condições de crédito, entre elas, compra de Treasuries, injeções de moeda na economia, medidas de afrouxamento quantitativo e redução na Fed Funds Rate.
Sintomas e raízes
De fato, a melhora destes indicadores sugere confiança e eficácia da política do Fed em conduzir a crise. Mas há um porém. O MotleyFool lembra que os bancos não emprestavam um para o outro por falta de confiança; porque o problema era de solvência das instituições do setor. Passado os testes de estresse e a onda de consolidação dos bancos, ainda falta clareza sobre a solvência de cada companhia do segmento.
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“Em outras palavras, atacaram os sintomas (falta de liquidez) mais do que as causas (insolvência)”, completa.