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O Magazine Luiza (MGLU3) e a Via (VIIA3) divulgaram resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) que trouxeram pontos positivos, como uma forte geração de caixa devido à sazonalidade do negócio, contribuindo para redução de suas alavancagens financeiras.
Contudo, as duas companhias também fizeram dois respectivos fatos relevantes que trouxeram fortes ruídos para as ações nessa sexta-feira (10), conforme já projetavam analistas antes da abertura do mercado. As ações do Magalu chegaram a cair 11,50%, para R$ 3, mas zeraram as perdas no início da tarde, enquanto VIIA3 chegou a cair 13,40% e fechou em baixa. MGLU3 fechou em alta de 0,29%, a R$ 3,40, enquanto VIIA3 encerrou o pregão em queda de 6,19%, a R$ 1,82.
O Magalu publicou fato relevante a respeito de uma denúncia anônima alegando desvios de conduta em práticas comerciais, especificamente envolvendo bônus relacionados a compras de fornecedores, o que a empresa agora buscará apurar. A denúncia menciona três distribuidores, os quais ao longo do exercício de 2022 representaram, aproximadamente, 3,5% do valor total de compra de mercadorias da empresa, destaca o comunicado.
“Dessa forma, acreditamos que há espaço para uma reação negativa das ações no pregão, apesar dos resultados positivos do 4T22”, avaliou o Credit Suisse em análise no início da manhã. A XP também avaliou que o fato relevante poderia ofuscar os resultados, levantando preocupações quanto às políticas comerciais da companhia. O Itaú BBA também apontou temer que os investidores possam se concentrar nessas notícias negativas, criando alguns ventos contrários para as ações durante o pregão desta sexta.
Para a Genial, o Magalu reportou uma importante recuperação sequencial nesse trimestre, afastando o risco de liquidez que se alastrou no varejo ao longo dos últimos meses, mas a denúncia anônima tinha potencial de trazer ruído para os papéis.
Foi o que aconteceu durante boa parte da manhã, com a baixa também sendo intensificada por um dado de inflação medido pelo IPCA acima do esperado em fevereiro, o que pressiona empresas de consumo. Contudo, os papéis amenizaram as perdas ao longo do dia.
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Em teleconferência, Frederico Trajano, CEO do Magalu, disse que “uma denúncia anônima ainda não investigada não deveria tirar o brilho do resultado apresentado no quarto trimestre”. “Fizemos um trabalho árduo e tem indicadores claros e concretos de que a empresa fez um bom trabalho no período”, apontou.
Já no caso da Via, os analistas destacam que a melhor geração de caixa merece destaque, sendo positiva em R$ 792 milhões, por conta da melhor dinâmica de estoques e fornecedores, ainda que haja mais controvérsias sobre o balanço em relação ao do Magalu (que foi visto como majoritariamente bom pelos analistas).
Porém, junto com os resultados, a companhia anunciou que Helisson Lemos, VP de Inovação Digital, renunciou ao cargo. “Enxergamos o anúncio como negativo, uma vez que Helisson era um executivo chave para o desenvolvimento do marketplace da Via, o que pode ofuscar os resultados”, avalia a XP.
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Na mesma linha, a Genial destaca que o executivo estava na casa desde 2019 e foi uma peça-chave para o desenvolvimento do 3P da empresa. Assim, conforme define a casa, “entraram dois elefantes na sala”, que impactaram as ações na sessão.
Sobre o tema, Roberto Fulcherberguer, CEO da Via, disse em teleconferência que a saída de Lemos é “o amadurecimento de um ciclo”. “Ele cumpriu sua função”, apontou.
Os números das companhias
Magalu: expansão das margens
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Voltando aos resultados registrados pelas companhias, o Credit Suisse ressalta que o Magalu registrou vendas totais recorde de R$ 18 bilhões (+15,5% na base anual), impulsionadas pelo comércio eletrônico (+15,9%) e lojas físicas (+14,7%).
O mix de serviços, comissões de mercado e repasse de inflação aos preços sustentaram uma expansão de margem bruta de 250 pontos-base na comparação anual, para atingir 27,8% das vendas.
Além disso, apesar dos maiores investimentos por conta da Black Friday e da Copa do Mundo, as despesas operacionais melhoraram 100 pontos-base na comparação anual, para 21,6% das vendas, atribuídas a despesas otimizadas de marketing e logística, bem como menores despesas fixas.
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Como resultado, a margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, sobre receita líquida) ajustada subiu 340 pontos-base na comparação anual, para atingir 6%. O Ebitda ajustado foi de R$ 674 milhões, ou avanço de 176,7% na base anual, superou as estimativas do mercado em 10%.
Além dos fortes resultados operacionais, as melhorias no capital de giro (estoque melhorado em 30 dias) sustentaram uma geração de caixa operacional de R$ 2,2 bilhões no trimestre. No entanto, resultados financeiros ainda “pesados” levaram a um prejuízo líquido ajustado de R$ 15,2 milhões (versus R$ 93 milhões de lucro ajustado no 4T21).
“Em suma, o Magazine Luiza conseguiu remar contra a maré e apresentar um forte conjunto de resultados, com crescimento acelerado, melhoria dos níveis de rentabilidade, geração de caixa operacional e ganhos de market share [participação de mercado]”, aponta o Credit Suisse.
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O banco avalia ainda que o MGLU superou a Via em todos os aspectos, com exceção de um crescimento em lojas físicas ligeiramente menor ano a ano, embora ainda forte.
Para a XP, o Magazine Luiza reportou resultados do 4T22 em linha com o esperado, com crescimento de receita e geração de caixa positiva, mas margens ainda pressionadas, ainda que apresentando melhora – além das potenciais irregularidades em operações comerciais podendo levantar preocupações.
Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt também destacam que, quanto à rentabilidade, a margem bruta se expandiu 2,5 pontos percentuais (p.p.) por conta de aumentos de preços de de taxas de comissão, enquanto a margem Ebitda ajustada cresceu 3,4 pontos no ano, mas ficou estável no trimestre por conta de menores investimentos em marketing e logística.
“Interessante notar que a companhia indicou que o ano de 2023 começou bem, com uma Liquidação Fantástica recorde, reforçando que esperam continuar crescendo com rentabilidade”, apontam os analistas.
Além disso, a empresa deu mais detalhes no avanço das novas categorias: i) KabuM! alcançou R$ 4 bilhões em vendas em 2022, com entregas já habilitadas em 600 lojas; ii) Netshoes reportou um lucro líquido de R$ 56 milhões em 2022; e iii) a inadimplência da Luizacred aumentou 1 ponto, para 10,2%.
“O Magalu reportou uma importante recuperação sequencial nesse trimestre, afastando o risco de liquidez que se alastrou no varejo ao longo dos últimos meses. Em nossa visão, avaliamos o resultado do 4T22 também como positivo, apresentando um prejuízo líquido muito menor do que o nosso estimado”, aponta a Genial Investimentos.
Diante de uma maior margem operacional e otimização das linhas de capital de giro, principalmente em relação ao giro de estoques, que melhorou de 117 dias para 87 dias, a companhia apresentou uma geração de caixa operacional de R$ 2,2 bilhões, reduzindo sua alavancagem financeira para 3,8 vezes (visão IFRS 16, incluindo arrendamento e excetuando recebíveis). Em visão do fluxo de caixa livre para o acionista (FCFE, “Free Cash Flow to Equity”) anual, houve uma geração de caixa livre de R$ 1,6 bilhão em 2022.
A Genial destaca ainda que o Magalu enxugou o seu parque de lojas em 2022, “uma correção perfeitamente natural para a saúde financeira do setor de varejo”. A diminuição em suas despesas fixas somada a otimização de despesas variáveis (marketing e logística) e à maior alavancagem operacional do período fez com que as despesas gerais e administrativas do Magalu ficasse em R$ 2,4 bilhões no trimestre (-4,4% ao ano), apresentando uma diluição importante na visão anual.
Para Itaú BBA, o Magazine Luiza reportou números positivos e ligeiramente acima de suas expectativas, com sólido desempenho em todos os canais de vendas, o que a reforça a recuperação no trimestre. Além disso, destacou a expansão de da margem Ebitda (Ebitda sobre receita), apoiada pela aceleração da margem bruta e despesas gerais e administrativas menores.
Via: geração de caixa em destaque
A Via, por sua vez, informou que o volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) do quarto trimestre subiu 5,7% na comparação anual, para atingir R$ 12,5 bilhões, impulsionado pelo desempenho sólido das lojas físicas (+16%), com recuperação do fluxo e conversão das vendas, que mais do que compensou o declínio no 1P (-6%), com o 3P (marketplace) estável.
Assim, a receita bruta cresceu 9% ao ano, atingindo R$ 10,4 bilhões, beneficiado por uma receita não recorrente de R$ 350 milhões relacionada à renovação da parceria com o banco Bradesco (+4,5% no ano excluindo este efeito), e pela recuperação do canal físico.
Já a rentabilidade foi o destaque negativo na visão da XP, com a margem bruta caindo 0,6 ponto percentual na base anual, e margem Ebitda caindo 4,6 pontos devido à forte base de comparação do 4T21 por conta de créditos fiscais e desalavancagem operacional. O prejuízo líquido totalizou R$ 163 milhões por conta de um resultado financeiro e impostos melhores que o esperado, enquanto a geração de caixa ficou positiva em R$ 792 milhões, por conta da melhor dinâmica de estoques e fornecedores.
A XP destaca alguns pontos a serem notados: i) o GMV do 3P cresceu 20% na base anual em dezembro e início do 1T23; ii) as perdas de crédito diminuíram 1,2 ponto no trimestre (para 4,6%), levando os níveis de provisão da carteira de crédito ativa para 11,4% (-0,3 ponto no trimestre e -1,7 ponto no ano) e iii) os desembolsos de caixa de processos trabalhistas foram menores do que o guidance da companhia para 2022 (-R$ 1,2 bilhão versus o esperado na casa de -R$ 1,5 a -2,0 bilhões).
Sobre o terceiro ponto, para 2023, a empresa prevê R$ 600 milhões a R$ 700 milhões em ações trabalhistas e R$ 2,5 bilhões em monetização de impostos.
“No geral, a Via apresentou resultados mistos no 4T, embora mais inclinados para o lado positivo, em nossa opinião. Apesar do ambiente macroeconômico desafiador, a Via passou de um consumo de caixa de R$ 910 milhões em 2021 para uma geração de caixa de R$ 2,6 bilhões em 2022”, aponta o Credit.
Para a Genial, em uma visão sequencial, a Via consolidou uma importante recuperação nesse trimestre, com um grande impacto positivo do “efeito não recorrente” da renovação da parceria com o Bradesco por mais 15 anos.
“No todo, avaliamos o resultado como positivo. Diante de uma maior margem operacional, otimização das linhas de capital de giro (R$ 1,2 bilhão) e renovação do acordo com o Bradesco, a companhia apresentou uma forte geração de caixa operacional de R$ 3,4 bilhão, fundamental para reduzir sua alavancagem financeira para 2,4 vezes”, aponta a casa.
Assim, em visão de FCFE anual, houve uma geração de caixa livre de R$ 238 milhões em 2022, revertendo o consumo de R$ 1,2 bilhão em 2021, impulsionada por reversões de provisões e otimização da linha de estoques.
Além de também ver como destaque positivo o dispêndio de caixa em causas trabalhistas – consolidando-se 20% abaixo da banda inferior do guidance apresentado em novembro de 2021 -, outro ponto que chamou a atenção foi o plano de monetização de créditos tributários em ritmo acelerado, monetizando R$ 2,2 bilhões, ante expectativa de R$ 1,8 bilhão em 2022. Para 2023, a expectativa é reconhecer um montante de R$ 2,5 bilhões.
Recomendações
Com todos esses acontecimentos no radar das companhias, os analistas seguem com suas recomendações para as empresas no momento. A XP e a Genial têm ambas recomendação neutra para Magalu, com preço-alvo de R$ 5 (potencial de valorização de 47% em relação ao fechamento de quinta-feira), e também para a Via, com preço-alvo de R$ 3 (upside de 55%), destacando o cenário macroeconômico desafiador e caráter discricionário das teses.
Diante de uma Selic a 13,75% e um crédito corporativo mais restrito e após o evento Americanas (AMER3), o ano de 2023 será pautado em controle de caixa, aponta a Genial.
O Bradesco BBI também reiterou recomendação neutra tanto para MGLU3 quanto para VIIA3, mesmo com uma melhora dos balanços patrimoniais das empresas e de suas receitas. “Reiteramos nossa preferência por Mercado Livre (negociada na Nasdaq, com recibo de ações BDR MELI34 negociado na B3) no espaço de e-commerce, o que pensamos ser justificado por um melhor momento operacional relativo e lucratividade”, avalia o BBI.
Já o Itaú BBA manteve recomendação market perform (desempenho igual a média do mercado, equivalente à neutro) para Magalu, com preço-alvo de R$ 3,20 (valor 5,6% em relação ao fechamento da véspera).
Já o Credit Suisse tem visões distintas para as ações, com recomendação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para a ação do Magalu, com preço-alvo de R$ 8 (upside de 136%) e recomendação neutra para Via, com preço-alvo de R$ 4 (upside de 106%).