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SÃO PAULO – A tendência continua. Depois de brilharem em 2020, as ações das empresas varejistas com exposição ao e-commerce tiveram mais um fechamento de mês negativo em 2021.
Via (VIIA3, R$ 7,71, -25,79%), Americanas (AMER3, R$ 30,92, -25,24%) e Magazine Luiza (MGLU3, R$ 14,34, -21,38%) fecharam setembro em baixa de mais de 20%. No acumulado do ano, as ações do Magalu caem cerca de 42%, Americanas tem baixa de 58%, enquanto Via tem queda de 52%.
Mas o que explica esse movimento e o que esperar para as ações?
O aumento das incertezas relacionadas ao cenário macroeconômico e político, além do aumento da taxa básica de juros, têm contribuído para uma penalização de ações de crescimento, como é o caso das varejistas.
Isso porque com o aumento dos juros, há um aumento no custo de capital das empresas e no custo de oportunidade dos investidores, impactando negativamente o valor dessas empresas, reforça Danniela Eiger, head de varejo da XP.
Durante o programa Radar, do InfoMoney, de quinta-feira (confira o vídeo abaixo), Danniela citou ainda o peso de um cenário mais desafiador em termos de renda, poder de compra e de menor confiança do consumidor, que contribui para um consumo menor no varejo.
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Além disso, enquanto em 2020 a pandemia forçava a maior parte do consumo ser de forma online, dadas as restrições, neste ano, dado o avanço da vacinação contra a Covid-19, o varejo físico tem voltado para o jogo.
“Empresas como Magalu, Via e Americanas, por exemplo, são multicanais. Elas também têm varejo físico, mas enfrentam mais concorrência do que no modelo digital, por serem melhor estruturadas no e-commerce que outros players”, disse.
Danniela chama atenção ainda para o aumento da concorrência no segmento, com a chegada de players agressivos, com cupom de desconto, frete grátis, cashback etc., caso de Shopee (veja mais sobre a última empresa clicando aqui).
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“Os papéis de varejistas foram muito beneficiados (em preço) na pandemia, apresentando fortes resultados. Agora, contudo, investidores têm feito um movimento para empresas que foram mais prejudicadas ao longo da pandemia, como varejistas físicas, ou exportadoras, por exemplo”, diz. Danniela destaca que o quarto trimestre é muito importante para o varejo, de forma geral, devido a datas como Black Friday e festas de fim de ano, somado ao pagamento do 13º salário.
Por outro lado, contudo, a especialista da XP diz estar cautelosa por conta do cenário de concorrência, em que as empresas devem usar estratégias como desconto e frete grátis, que afetam as margens.
No caso do Magazine Luiza, algumas sessões foram particularmente negativas para a empresa. Na sessão do dia 10 de setembro, os ativos chegaram a cair quase 9%.
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Na ocasião, segundo a Bloomberg, citando uma fonte, o motivo para as perdas seria um relatório da consultoria americana YipitData, que apura dados de vendas no comércio eletrônico de empresas como o Magalu e o Mercado Livre. “Houve um crescimento mais lento das vendas da Magalu em agosto na comparação com julho, e o mercado está tomando isso como uma tendência para o resultado do terceiro trimestre de Magalu, que sai só em outubro”, disse a fonte.
Após a notícia, o Magalu realizou uma teleconferência com analistas para trazer novas sinalizações. Segundo o Bradesco BBI, que participou do encontro online, a empresa passou um tom positivo aos analistas, reiterando que agosto foi um dos meses mais difíceis de comparação em relação a 2020 e que os planos de crescimento da companhia para 2021 seguem no caminho certo.
Os analistas apontaram que o movimento de preço das ações pareceu exagerado em um contexto de crescimento que se manteve melhor do que esperávamos no início do ano, mas as preocupações de curto prazo em relação à concorrência eram válidas.
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Danniela, da XP, ressalta que o Magalu é uma companhia de qualidade. Contudo, a analista possui recomendação neutra para o papel, destacando o cenário mais desafiador de curto prazo. Porém, destaca que a ação da companhia, ainda que bastante afetada, acaba sendo mais resiliente em comparação a empresas como a Via e a Americanas.
Isso porque, nesses cenários de incerteza, as ações de empresas que ainda estão passando por um processo de reestruturação de operações, ainda que estejam entregando resultados, são mais afetadas.
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“Na Via, há um processo de reconstrução que tem sido feito desde 2019, com um ótimo trabalho sendo feito, mas ainda é processo a ser construído, sendo que ainda tem que enfrentar uma dinâmica de setor conturbada”, aponta. No caso da Americanas, o cenário é parecido uma vez que, ainda que a companhia tenha saído na frente no e-commerce, ela demorou para integrar as suas operações (físicas e online), com a união das operações da Lojas Americanas e da B2W somente em julho desse ano.
Assim, dado o atual cenário, a analista da XP destaca a preferência por outros segmentos no setor de varejo. “Preferimos a exposição a nomes de alta qualidade com um histórico sólido de entregas e um forte posicionamento. Olhando para os segmentos, vemos o atacarejo como um combo de proteção contra inflação, resiliência e crescimento com Assaí (ASAI3) sendo nossa preferência”, aponta.
Já no segmento do consumo discricionário, ela espera que os resultados continuem a melhorar com a reabertura da economia, enquanto empresas focadas em classes mais altas oferecem uma resiliência maior. “Aqui, Arezzo (ARZZ3) e Vivara (VIVA3) são nossas preferências”, avaliando ainda que o e-commerce deve continuar enfrentando maior volatilidade.
Otimistas com Magalu
Mas há quem esteja mais otimista com as ações do Magazine Luiza. O Goldman Sachs reiterou na última quinta-feira (30) recomendação de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 25 – ou potencial de alta de 74% em relação ao fechamento da véspera -, atualizando a tese de investimentos em meio às novas perspectivas macroeconômicas e a estratégia Parceiro Magalu, que visa trazer varejistas off-line para sua plataforma digital.
Na avaliação dos analistas do banco americano, mesmo havendo preocupações com os indicadores de curto prazo, como uma comparação de vendas mesmas lojas, além da perspectiva macroeconômica e de maior concorrência, o preço da ação está em um ponto de entrada interessante.
Já em relatório bastante extenso sobre as oportunidades com a aceleração do e-commerce na América Latina, o Morgan Stanley ressalta que a digitalização continua na região, com o Brasil sendo um dos destaques.
“Vemos um mercado indo de US$ 80 bilhões para 2020 (penetração de 8%), aumentando para cerca de US$ 200 bilhões em 2025 (17% de penetração)”, ressaltando que há oportunidades em diversos segmentos.
“Através das lentes da entrada do varejo online e da fragmentação da participação de mercado em toda a região, vemos o Brasil mais adiantado no movimento de prestação de serviços no ecossistema; mais importante, vemos impulsionadores para o e-commerce superando quaisquer potenciais de ventos contrários cíclicos ou macroeconômicos”, apontam os analistas.
Para eles, essas oportunidades não estão precificadas nem para as ações de Magazine Luiza nem para os papéis do Mercado Livre (negociado na Nasdaq, mas com o BDR MELI34 negociado na B3). Os analistas possuem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para esses dois papéis, enquanto têm recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para Americanas e Via.
Olhando para os preços-alvos projetados em doze meses para as ações, segundo compilação feita pela Refinitiv com casas de análise (veja no quadro abaixo), o potencial de valorização para os ativos é bem expressivo, ainda mais considerando a forte queda dos ativos no ano.
Com uma perspectiva de horizonte mais longo, o cenário é mais positivo.
Porém, Danniela, da XP, alertou durante o programa Radar que esse é um setor de forte volatilidade e que ainda promete muitos altos e baixos em decorrência do cenário macro e de concorrência.
Confira abaixo as recomendações de analistas para as ações de e-commerce:
Empresa | Ticker | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda | Preço-alvo médio | Potencial de valorização (%)* |
Magazine Luiza | (MGLU3) | 9 | 5 | 0 | R$ 25,53 | +78% |
Americanas | (AMER3) | 10 | 6 | 0 | R$ 83,27 | +169% |
Via | (VIIA3) | 9 | 7 | 1 | R$ 17,50 | +127% |
*com relação ao fechamento de quinta-feira (30)
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