Lojistas brasileiros obtêm R$ 25 milhões em empréstimos usando DeFi sem saber

Dona da maquininha InfinitePay cria ponte para o DeFi em blockchain própria que já conta com meio milhão de carteiras ativas

Paulo Barros

(Luis Silva, fundador e CEO da CloudWalk/Divulgação)
(Luis Silva, fundador e CEO da CloudWalk/Divulgação)

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O mundo das finanças descentralizadas (DeFi) é famoso por ser de difícil acesso, mas isso não impediu que lojistas tomassem R$ 25 milhões em empréstimos no Brasil em cerca de um mês por meio de contratos inteligentes, programas de computador que automatizam transações financeiras eliminando intermediários. Os tomadores, no entanto, não se deram conta disso.

São pequenas e médias empresas atendidas pela fintech CloudWalk, unicórnio do setor de pagamentos dono da maquininha InfinitePay. Unicórnio é o nome dado a startups que ultrapassam o valor de mercado de US$ 1 bilhão.

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Os empréstimos, de até R$ 6 mil, são oferecidos via aplicativo, de modo que os clientes não precisam lidar com interfaces pouco amigáveis típicas de protocolos DeFi – eles não percebem, por exemplo, que estão usando criptoativos e carteira de Web 3.0.

“Por trás, a wallet de Web 3 que o lojista usa obtém a stablecoin [pareada em real] BRLC do pool [contrato inteligente que armazena criptos] a uma taxa de juros baseada em uma determinada quantidade de produtos que ele vende”, explica Luis Silva, fundador e CEO da CloudWalk, em entrevista ao InfoMoney CoinDesk. “Ele usa DeFi sem saber”.

O Brasil vem figurando como destaque global na adoção das finanças descentralizadas. Este mês, a MetaMask, dona da carteira cripto mais popular do mundo, revelou que o Brasil só perde para os Estados Unidos em uso de DeFi. Já a Accenture mostrou em estudo que o país tem forte potencial para essa inovação financeira.

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Ponte com finanças tradicionais

Stablecoins e empréstimos são os principais casos de uso até agora da CloudWalk Network, uma blockchain lançada pela fintech no mês passado. Segundo Silva, o objetivo do projeto é integrar as finanças descentralizadas com as tradicionais, preenchendo uma lacuna de usabilidade que ainda representa um desafio para a adoção dessa nova tecnologia.

“Nosso objetivo como companhia é construir uma ponte entre esses dois mundos”, conta o executivo.

Ao contrário do que acontece normalmente no DeFi, em que empréstimos só podem ser obtidos com o depósito de garantia, a CloudWalk concede o crédito de acordo com uma previsão de fluxo de caixa do lojista avaliada por um algoritmo. Após a aprovação, o empréstimo é creditado na carteira do usuário em BRLC, uma cripto que tem paridade com o real.

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“É um protocolo fork [derivado] do Compound, bem famoso em DeFi, mas o usuário vê o processo de empréstimo e cobrança do modo tradicional”, explica Silva.

A CloudWalk Network é uma rede de pagamentos, mas a empresa nega que tenha a pretensão de competir com as parceiras Visa e Mastercard. A ideia é que a blockchain funcione como um registro público e imutável das transações dos lojistas, incluindo as realizadas com cartões.

Segundo o CEO, a blockchain também tem caráter aberto e busca atrair desenvolvedores com um ecossistema que, apesar de novo, já nasce com 500 mil carteiras ativas e alguns bilhões de reais de movimentação financeira mensal. Em breve, a rede promete trazer seus primeiros produtos de rendimento e poupança em cripto.

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Centralização

Apesar da sigla DeFi indicar o contrário, a rede da CloudWalk tem um nível considerável de centralização. A blockchain conta até agora com seis validadores (computadores que verificam as transações), todos controlados pela empresa. Silva, porém, promete convidar instituições externas para operar nós da rede.

Segundo o fundador da CloudWalk, a estrutura atual permite aumentar a velocidade de processamento e elimina cobranças por transações – qualquer operação na blockchain tem custo zero, diferentemente do que acontece em blockchains como Ethereum (ETH) ou Solana (SOL), por exemplo.

“O brasileiro quer ter dinheiro rápido, fácil, barato e com comodidade”, conta Silva. “Eu acredito na descentralização, mas também considero que a experiência do usuário é muito importante. Quando a descentralização sacrifica a experiência, que é o que comumente acontece em DeFi, o cliente final tem muita dificuldade”.

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Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas