Localiza-Unidas: Superintendência do Cade recomenda “remédios” menos amargos do que o esperado para fusão e anima; ações fecham com salto de até 8%

Foco ficou no segmento de aluguéis de carros; Conselho do Cade pode votar a fusão até 6 de outubro, mas este prazo pode ser estendido até janeiro de 2022

Lara Rizério

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Depois de muitas especulações e temores entre os investidores, a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu parecer na noite da última segunda-feira (6) recomendando a aprovação da fusão entre Localiza (RENT3) e Unidas (LCAM3) mediante remédios.

A notícia animou os mercados: em um dia fortemente negativo para o Ibovespa, as ações RENT3 e LCAM3 foram destaque de alta, ainda que longe das mínimas. Os ativos RENT3 fecharam com alta de 8,03%, a R$ 59,88, enquanto os papéis LCAM3 saltaram 7,23%, a R$ 26,70. Na máxima do dia, os papéis da Localiza subiram 13,30%, enquanto os ativos da Unidas chegaram 10,92%.

Segundo o documento, o ato de concentração “gera riscos relevantes para o ambiente competitivo no mercado de locação de veículos (RAC)”, principal negócio da Localiza. De acordo com investigações da própria autarquia, a união entre Localiza e Unidas poderia resultar em uma concentração de mercado, no RAC, de aproximadamente 70%.

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Conforme o parecer, os mercados afetados pela operação são, além do RAC, gestão e terceirização de frotas (GTF) e venda de veículos usados no atacado e varejo (seminovos). “A presente operação acarreta sobreposições horizontais em todos os mercados indicados.”

No mercado de RAC, a análise demonstrou a existência de barreiras de entrada em todo o território nacional e, caso novos players entrem no segmento, isso não seria suficiente para contestar um eventual exercício de poder de mercado por parte das requerentes. “O mercado pós-operação seria altamente concentrado, contaria com apenas um outro concorrente com atuação nacional (Movida) e a franja, composta por players regionais e locais, e não seria capaz de rivalizar efetivamente com as locadoras nacionais.”

A autarquia recomendou a celebração de um ACC, um Acordo em Controle de Concentrações, com remédios estruturais e comportamentais, o que deve ser analisado pelo Tribunal do Cade e pelas empresas envolvidas na operação.

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O Conselho do Cade pode votar a fusão até 6 de outubro, mas este prazo pode ser estendido até 6 de janeiro de 2022.

Segundo análises da XP, do Credit Suisse e do Bradesco BBI, a decisão foi melhor do que a esperada, principalmente pelos remédios recomendados.

As restrições foram mais suaves do que os analistas apontavam. Dentre elas: 1) Unidas precisará reduzir o tamanho de sua frota de rent-a-car (aluguel de veículos) e vender algumas lojas; 2) cancelar a não concorrência com a Vanguard (ou seja, as marcas Enterprise, National e Alamo) e o acordo de referência mútua e 3) limitar a quatro marcas utilizadas em agências de viagens on-line.

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O Cade não solicitou à Localiza a venda da marca Unidas e nenhuma restrição foi imposta ao gerenciamento de frota e às lojas de seminovos.

Os analistas Regis Cardoso, Henrique Simoes e Alejandro Zamacona, do Credit Suisse, também destacaram que a sugestão da Superintendência do Cade foi de remédios estruturais e comportamentais menos severos do que inicialmente antecipados (e considerado nas estimativas do banco), com as preocupações antitruste se concentrando inteiramente no segmento de aluguel de carros.

Os remédios estruturais afetarão 136 cidades e 38 aeroportos em todo o país, destacam. Embora o número de carros na solução não tenha sido divulgado, as informações divulgadas dizem que o novo player terá mais de 20 mil carros, mas será o terceiro maior player do pais, ainda atrás da Movida (MOVI3).

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“Acreditamos que este remédio visa manter a estrutura de mercado com três grandes players nacionais, o que significa que não acreditamos que a Movida seja elegível para ser compradora da frota e lojas da Unidas. As recomendações da Superintendência também incluem remédios comportamentais que, embora não totalmente divulgados, indicam que poderia estar dispensando a não concorrência firmada com a Vanguard, o que impediu a empresa de entrar no mercado brasileiro; e usar no máximo 4 marcas em agências de viagens online por um determinado período de tempo (não divulgado)”, apontam.

Desse modo, os analistas comentam que veem este a noticia positiva tanto para a Localiza quanto para a Unidas, e que a decisão da Superintendência Geral aumenta as chances de o negócio passar pelo antitruste, mesmo que com remédios.

Os analistas do Credit possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) tanto para Localiza quanto para Unidas, com preço-alvo de R$ 74 para Localiza, o que já considera uma chance de 60% de uma aprovação com remédios. Em um cenário de negócio rejeitado o preço-alvo iria para R$ 60. Já no caso de uma aprovação sem remédios, o preço-alvo seria de R$ 83.

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Já para a Unidas, os analistas do banco suíço possuem preço-alvo de R$ 33, vendo chance de 60% de aprovação com remédios, R$ 25 no caso de negócio rejeitado e R$ 38 em caso de aprovação sem remédios.

Na avaliação dos analistas do Bradesco BBI, Victor Mizusaki, Andre Ferreira e Pedro Fontana, a Ouro Verde pode ser a compradora natural de ativos de aluguéis de carros, embora seja uma das empresas que contestam a incorporação da Localiza-Unidas.

A Ouro Verde é de propriedade da Brookfield e tem como foco a gestão de frotas de veículos leves e pesados. A aquisição desses ativos pode permitir à Ouro Verde replicar a estratégia de crescimento bem-sucedida da Unidas, criando uma oportunidade para esta empresa abrir o capital.

Já sobre a Movida, os analistas do BBI apontam que a empresa está reduzindo trimestre a trimestre a diferença de tamanho versus Localiza e Unidas e, de acordo com as estimativas deles, se assumirem que a Unidas pode precisar vender 50% de sua frota rent-a-car com base nos números do quarto trimestre de 2020, a Movida teria 38% do tamanho da frota da Localiza-Unidas no quarto trimestre de 2021, contra 26% quando o o negócio foi anunciado em setembro de 2020.

“Não esperamos que a Movida adquira os ativos da Unidas, já que a empresa estaria comprando carros usados ​​e lojas de aluguel de carros com alguma sobreposição”, apontam. Os analistas mantiveram as recomendações outperform para Localiza, com preço-alvo de R$ 86, ou um potencial de alta de 55%, e para Unidas, com preço-alvo de R$ 39, ou potencial de 57% em relação ao último fechamento. A recomendação também é outperform para Movida, com preço-alvo de R$ 34, ou potencial de alta de 86%.

Também avaliando o parecer como positivo, a XP destaca possuir recomendação positiva para as empresas do setor e ressalta que as sinergias entre Unidas e Localiza estão não precificadas.

“Embora o spread LCAM3/RENT3 tenha convergido para o nível de proposta de negócio de cerca de 0,45, continuamos a ver a fusão como não precificada devido a (i) ações terem desempenho inferior ao do principal índice de ações do Brasil, Ibovespa (entre alta de 8% e18% desde 22 de setembro de 2020, versus alta de 21% do benchmark da Bolsa); e (iii) o fluxo de notícias locais pesou sobre as ações, reduzindo as expectativas de aprovação.

Pedro Bruno, Lucas Laghi e Gabriela Ferrante, analistas da XP que assinam o relatório, acreditam que a nova empresa tem sinergias importantes para extrair das operações combinadas, de cerca de R$ 7,8 bilhões de valor presente líquido no total.

Isso por conta: (i) redução de custos de RaC e aluguel de frotas (cerca de R$ 3,3 bilhões); (ii) economia de custos na operação de Seminovos (cerca de R$ 1,3 bilhão); (iii) redução do custo financeiro (por volta de R$ 1,3 bilhão); e (iv) amortização de ágio (cerca de R$ 1,9 bilhão), que pode ser dedutível para fins fiscais no Brasil.

Azul também é beneficiada? 

Além do impacto nas empresas do setor, o BBI aponta que a ação da Azul (AZUL4) também pode se recuperar com a fusão da Localiza-Unidas.

Isso porque as restrições negociadas no caso das empresas de aluguéis de automóveis podem reduzir a concentração de mercado e ao mesmo tempo torná-la mais fácil para um terceiro jogador com escala competir com Localiza-Unidas e Movida.

Este negócio corroboraria a visão da casa de que a Azul poderia sim adquirir a Latam Airlines Brasil. Em julho de 2021, o mercado doméstico combinado nos últimos doze meses atingiu 65%, em linha com a Localiza-Unidas.

“A nosso ver, as restrições devem depender da devolução de alguns slots nos aeroportos de Congonhas e Santos Dumont”, apontam os analistas do BBI, que possuem recomendação outperform para a Azul, com preço-alvo de R$ 72, ou potencial de alta de 98% em relação ao último fechamento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.