Localiza traz série de surpresas negativa e ação desaba 17%: há luz no fim do túnel?

Surpresas negativas ocorrem principalmente devido ao ajuste substancial na depreciação dos seus veículos

Lara Rizério

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Um trimestre para testar o ânimo dos mais convictos, fazendo com que os ativos fechassem em queda de cerca de 17%. Na noite da última terça-feira (13), a Localiza&Co (RENT3) divulgou seus números do segundo trimestre de 2024 (2T24), trazendo uma série de surpresas extremamente negativas e que não se resumiu “apenas” ao prejuízo multiplicado mais de seis vezes no período na comparação com o 2T23, para R$ 570 milhões. Depois de ficar mais de 20 minutos em leilão, as ações RENT3 abriram em forte queda, que se estendeu por toda sessão. Os ativos fecharam com baixa de 16,84%, a R$ 40.

A XP aponta que, embora reconheça o esforço e o sucesso da empresa no aumento das tarifas de aluguel, vê desenvolvimentos principalmente negativos neste trimestre, nomeadamente: (i) As margens Ebitda (Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações sobre receita líquida) de aluguel, que caíram significativamente na base trimestral, apesar do desempenho positivo das vendas (RaC, ou aluguel de carros, com queda de 3,3 pontos percentuais, para 58,6 %, e Aluguel de Frotas, com baixa de 5,5 pontos, para 63,7%); e (ii) a Localiza reportou um grande impairment (baixa contábil) em sua base de ativos de cerca de R$ 1,8 bilhão (3,4% de seu ativo imobilizado), com uma pequena parcela relacionada às fortes chuvas no RS (~R$ 100 milhões).

Adicionalmente, a Localiza forneceu guidance de depreciação para os próximos três trimestres.

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A Genial Investimentos ressalta a série de surpresas extremamente negativas, principalmente devido ao ajuste substancial na depreciação dos seus veículos. As margens operacionais e o ajuste na depreciação dos veículos, tanto no segmento RAC (aluguel de carros) quanto no GTF (gestão de terceirização de frotas), culminaram no prejuízo de R$ 570 milhões, em contraste ante a expectativa do mercado de um lucro de R$ 655 milhões.

“Já estávamos mais cautelosos do que o mercado, projetando um prejuízo de R$ 120 milhões no período. Antecipamos a possibilidade de que a Localiza aproveitasse os impactos dos desastres no Rio Grande do Sul para realizar um ajuste relevante na depreciação, correção que, em nossa visão, era necessária. Contudo, o valor reportado pela empresa foi significativamente maior do que o esperado. Enquanto nosso cenário mais pessimista estimava um ajuste de R$ 800 milhões, a empresa reportou um impacto total de R$ 1,8 bilhão, muito acima das projeções, sendo R$ 1,4 bilhão referente à depreciação adicional e o restante por conta dos carros sinistrados”, avalia a equipe de análise da Genial.

Os resultados do segmento de locação de veículos mostraram um crescimento nas diárias, tanto na comparação anual quanto na trimestral, mas a receita líquida foi ligeiramente inferior às expectativas da Genial. O Ebitda e as margens operacionais também foram mais fracos do que o esperado, pressionadas pelos danos das enchentes e pelo alto volume de carros em preparação, dado o forte volume de compra e venda no trimestre. A depreciação média anualizada por carro no 2T24 foi significativamente superior às suas expectativas, com o RAC registrando R$ 19,98 mil versus R$ 9,88 mil (+102,2%) e o GTF R$ 12,21 mil versus R$ 6,85 mil (+78,3%).

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O Itaú BBA ressalta que houve uma baixa contábil em sua frota que levou a uma perda de R$ 570 milhões versus projeção de lucro de R$ 650 milhões do consenso. “Enquanto alguns investidores esperavam por um baixa contábil, alguns podem pensar que isso não deve ser suficiente para encerrar esta história por enquanto. Isso porque, embora a baixa contábil de cerca de R$ 1,7 bilhão anunciada no trimestre deva fornecer mais conforto em relação às estimativas do consenso para os lucros de 2025 (em R$ 3,8 bilhões), o guidance de depreciação para os próximos trimestres implica em uma ampla gama de impactos para as expectativas de lucro por ação (+20% ou -20% para nossos números, mantendo os números superiores e inferiores para o 1T25 para o resto do ano)”, avalia o banco.

Dito isso, a comunicação dos executivos deve ser importante para que os investidores definam suas expectativas sobre a trajetória de lucros e múltiplos justos. Para os analistas do banco, o segmento de aluguel deve enfrentar uma dor de curto prazo para um ganho de longo prazo.

O BBA mantém recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, ou equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 65, enquanto o BBI tem recomendação também de compra, mas com preço-alvo de R$ 80. Já a Genial tem recomendação de manutenção, com target de R$ 55.

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Luz no fim do túnel?

Após acompanhar a teleconferência da Localiza na manhã desta quarta, o Bradesco BBI apontou que pode haver uma “luz no fim do túnel” para a companhia. Dadas todas as mudanças discutidas pela empresa, o banco acredita que o pior pode ter passado.

Isso porque a baixa contábil bilionária da frota pressupõe um spread (diferença) estável entre os preços de carros novos e usados, mas o banco espera que este último melhore gradualmente nos próximos meses com o maior desembolso para financiamentos de automóveis, enquanto os OEMs (fabricantes que montam e desenvolvem os equipamentos) têm espaço limitado para aumentar os preços dos carros novos.

Dessa forma, vê o impairment feito no 2T24 como sendo suficiente para o cenário atual de preços de automóveis no Brasil, reduzindo o risco de orientação de depreciação da Localiza.
No curto prazo, a Localiza pode continuar a enfrentar pressão da aceleração da renovação da frota e dos custos de preparação associados, mas os preços de aluguel mais altos devem compensar esse impacto, levando a margens de aluguel de estáveis ​​para melhores.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.