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SÃO PAULO – O dólar tenta esboçar um alívio nesta quinta-feira (24) após quatro sessões de forte alta, período em que saiu de R$ 5,23 para R$ 5,58, uma alta de 6,81%. Esta queda na cotação, além de uma melhora externa, também foi puxada por um leilão de títulos públicos realizado hoje.
O Tesouro Nacional reduziu a oferta de LFT (Tesouro Selic) para 100 mil papéis, ante 500 mil de operações recentes, e elevou a disponibilidade de NTN-F (Tesouro prefixado com pagamento de juros semestrais), que sempre atrai a demanda de investidores estrangeiros.
Esta mudança foi elogiada pelo mercado já que o volume e disposição de leilões recentes causaram instabilidade no mercado de renda fixa, o que acabou contaminando o câmbio.
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Camila Abdelmalack economista-chefe da Veedha Investimentos, avalia que, conforme aumentou o debate sobre a política fiscal, também os temores sobre ruptura do teto de gastos foram elevados, assim como a falta de clareza com o Orçamento. Esses fatores, aliados à piora de humor no exterior, fizeram com que os investidores pedissem por melhores taxas de rendimento.
“Os investidores exigem um prêmio maior quando há percepção de risco. Tivemos sinalizações de que não vai ter pressão inflacionária e de que os juros devem ficar baixos”, destaca ela.
Camila explica ainda que com a NTN-F, o investidor estrangeiro compra e gera fluxo de compra de reais, o que impacta no dólar, pois o real se valoriza, por isso esse efeito no câmbio nesta quinta.
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Além disso, ela aponta que, mais importante ainda foi o fato do Tesouro disponibilizar menos LFT no leilão. Isso acabou mostrando que o governo não está precisando “desesperadamente” do dinheiro dos investidores para se financiar, o que é um bom sinal da parte fiscal.
Após iniciar o dia em alta e chegar na marca de R$ 5,62, o dólar comercial virou, fechando com perdas de 1,38%, cotado a R$ 5,5090 na compra e R$ 5,5100 na venda.
Câmbio segue pressionado
Apesar deste alívio, o cenário ainda é de maior pressão para a moeda brasileira, que sofre com fatores domésticos e registra o pior desempenho do ano entre seus pares emergentes globais, com o dólar subindo 37% ante a moeda nacional.
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Nos últimos dias, o desempenho do dólar tem sido de alta contra praticamente todas as moedas diante do aumento da aversão ao risco e a forte queda das bolsas dos Estados Unidos, puxadas pelas ações de tecnologia.
Segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco OuroInvest, nesta semana o principal driver para o câmbio foi o cenário externo, que contou ainda com o aumento dos temores de uma segunda onda do coronavírus na Europa, em especial em países como Espanha e Reino Unido, que já caminham para novas medidas de isolamento.
Outro ponto que tem afetado o humor dos investidores nos últimos dias, segundo ela, são as falas de dirigentes do Federal Reserve (banco central dos EUA), que comentaram sobre como irão enfrentar a atual crise. Powell, presidente da autoridade monetária, tem sinalizado que o Fed já teria feito boa parte do papel que lhe cabe durante a pandemia e destacando a necessidade de mais apoio fiscal à economia dos EUA, ação esta que partiria do Congresso.
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“Acredito que teremos mais apoio fiscal, não vou discutir quando e quanto”, afirmou Powell na véspera, em audiência na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. “Houve progressos nos últimos meses, mas ainda há 16 milhões de pessoas que perderam empregos, ou estão trabalhando em período parcial”, disse. Contudo, falta consenso entre democratas e republicanos no Congresso sobre uma nova rodada de estímulos fiscais.
E o combate à pandemia deve ser um assunto ainda mais forte conforme se aproximam as eleições presidenciais nos EUA, conforme o atual presidente Donald Trump luta para ser reeleito.
E isso, segundo José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, deve aumentar a volatilidade do câmbio. Além disso, ele afirma que estamos também em um período em que sazonalmente há maior saída de dólares do país – com duração até dezembro – com remessas das empresas multinacionais.
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Por outro lado, Bruno Lavieri, economista e sócio da 4E Consultoria, aponta que, apesar de sentir o impacto externo, o desempenho do dólar ante o real tem refletido mais as questões domésticas, em especial o risco fiscal.
Segundo ele, as recentes dificuldades enfrentadas pelo governo, como o não-lançamento do programa Renda Brasil, elevou a visão de que os ajustes necessários, se ocorrerem, não deverão ser tão fortes quanto era esperado.
“É difícil falar se o dólar vai subir mais ou não, mas espaço sempre tem […] O risco de um cenário mais pessimista é maior que do mais otimista”, afirma Lavieri, que diz ainda que a atuação do Banco Central tem sido correta, no sentido de evitar atuar no câmbio sem necessidade, deixando a moeda flutuar.
Na mesma linha, a equipe do Bank of America se diz mais cautelosa com o real no nível atual porque a volatilidade pode aumentar. A preocupação dos analistas também se dá pela questão fiscal doméstica.
“O governo apresentou recentemente o orçamento de 2021 ao Congresso, dando início a uma conversa sobre as prioridades fiscais para o próximo ano. A principal questão é se o teto de gastos será cumprido em 2021, depois de ser elevado este ano durante o estado de calamidade”, disseram os analistas.
“Embora nossa linha de base seja a permanência das principais âncoras fiscais, acreditamos que o processo provavelmente será ruidoso até o final do ano, o que pode trazer novos surtos de volatilidade do real”, completam.
Apesar das preocupações, Lavieri vê o dólar perdendo força nos próximos meses, terminando o ano em nível mais baixo que o atual, “mais próximo de R$ 5”. Já o BofA vê a divisa em R$ 5,40 ao fim de 2020.
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