Juro: há espaço para corte nos EUA; alta no Brasil não deve ser forte, dizem gestores

Gestores debateram sobre rumos das taxas de juros tanto no Brasil quanto nos EUA

Camille Bocanegra

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Cortes nos juros dos EUA são dados como certos. Tão certos quanto a necessidade de ciclo de alta no Brasil, ainda que não tão forte. Essa foi a principal conclusão do painel na Expert XP “Para onde vão as taxas de juros no mundo?” no último sábado (31), que contou com a participação de Guilherme Preciado, sócio e membro da equipe de gestão do Opportunity Total, Luiz Portella, sócio da Novus Capital e Bruno Marques, sócio e gestor de fundos multimercado da XP Asset. A mediação foi de Alberto Bernal, estrategista global da XP.

Na visão de Guilherme Preciado, do Opportunity, nos EUA, os balanços das empresas parecem ser saudáveis, os balanços das famílias parecem ser saudáveis e é possível esperar que haja de fato o antecipado “soft landing”. O cenário garante possibilidade de cortes pelo Federal Reserve.
Alberto Bernal citou a visão de Mohamed El-Erian é de que os EUA provavelmente verão uma queda de 75 pontos base (bps) neste ano e outros 75 no começo do próximo – a taxa básica americana atualmente está na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano.
“O cenário que eu vejo como mais provável é de uma atividade mais resiliente”, considera Preciado. É possível que a economia comece a reagir e nem sejam necessários mais cortes maiores, mas, no cenário dos EUA, há espaço para cortes.
Para Portella, a desaceleração da Europa, da China e, de forma mais lenta, dos EUA permite sim que mais cortes sejam realizados. “Se a economia desacelerar e os juros caírem, uma parte do ganho de política monetária não vai se materializar”, considera Marques. “Há um cenário construtivo para países emergentes e se o Banco Central aqui fizer o que precisa ser feito, esse cenário deve continuar”, acrescenta.
Preciado destaca que o impulso fiscal do ano que vem provavelmente será menor e, com isso, é possível ser bem construtivo com o real. “O problema é que a gente não consegue ter certeza dessa noção do fiscal bem comportado”, sustenta. A movimentação do governo sobre a questão do gás, na semana passada, é um dos exemplos que o gestor cita para considerar o real menos confiável.
Sobre as eleições nos EUA, Marques destaca que parece que Donald Trump se coloca melhor do que Kamala Harris em primeira análise. O gestor da Opportunity concorda e considera que é possível que a corrida siga bem dividida por enquanto. Em relação aos impactos pelos ativos, Trump tenderia a gerar um dólar mais forte no mundo, segundo os gestores.

Dentre os possíveis pontos de preocupação, está o aumento de impostos para corporações que é aventado na possibilidade de vitória de Kamala Harris. Preciado não considera que isso seria uma questão que requeira grande atenção, mesma visão de Bernal.


Juros no Brasil


A discussão de juros no Brasil fica permeada com ruídos na comunicação, em especial com indicações opostas de Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto. “A gente não gostou do posicionamento de ontem”, afirma o gestor da Novus. Em sua visão, a fala vista como mais dovish (mais voltada para uma política monetária mais frouxa) foi vista como “infeliz” pelo gestor da XP Asset também.
“Ainda não está no nível de juros que traz o arbitrador de volta”, pensa Marques. Mas, ao mesmo tempo, ele destaca que vê como positiva alta de juros “por credibilidade” mas sim por fundamentos que apontam a necessidade do movimento. Questões como potencial inflação mais alta no ano que vem, por exemplo, seria suficiente para justificar alta de juros.
“Não acreditamos que precisará ser um ciclo de alta tão forte assim”, pondera Preciado. “Se o governo resolver pisar o pé no acelerador e colocar muito estímulo, o cambio seguiria mais depreciado a despeito de juros mais altos”, acrescenta.