JPMorgan reitera compra em ações do Brasil com volatilidade à frente no México

Banco adotou postura mais defensiva, preferindo exposição ao setor financeiro, utilities e exportadoras

Felipe Moreira

(Getty Images)
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Com expectativa de maior volatilidade nos mercados do México, após a eleição da indicada do presidente López Obrador, Claudia Sheinbaum, e maioria do Congresso de partidos de esquerda, o JPMorgan reiterou recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra) para Brasil.

O banco disse ter adotado uma postura mais defensiva, preferindo exposição a ações que se beneficiam de moedas mais fracas e que poderiam ver seus lucros aumentar mesmo em um ambiente onde as taxas acabam sendo mais altas do que o esperado.

Com isso, banco aposta com maior peso no financeiro, em vez do imobiliário, considerando que removeu muitas ações sensíveis a taxas de juros no Brasil (Cyrela CYRE3, Allos ALOS3).

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Dentro do setor financeiro, a preferência do banco é por empresas que podem entregar bons resultados mesmo em um ambiente de altas taxas: no Brasil, adicionou Stone (STOC31) e Porto (PSSA3) em vez de XP (XPBR31) e no México substituiu Gentera por Banorte.

Para segmento industrial, o banco tem uma visão otimista para companhias aéreas da América Latina, além de Embraer (EMBR3), Marcopolo (POMO3), GAP e Localiza (RENT3).

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Analistas também comentaram preferir bens de consumo básicos em vez de discricionários, adicionando JBS (também pela exposição ao dólar) e no México trocando de KOF para Arca. Nos discricionários, o banco prefere evitar Vivara (VIVA3) e escolheu SmartFit (SMFT3).

Com relação a commodities, o JPMorgan segue overweight em materiais, agora adicionando GCC e Gerdau (GGBR4). Mas cortou a classificação do setor de energia para underweight, pois removeu a Petrobras, devido o real mais fraco representar um problema se os preços do petróleo subirem, ao mesmo tempo em que a empresa pode agora ter uma direção diferente. Também está otimista em utilities (serviços de utilidade pública) no Brasil, com Sabesp (SBSP3) e Energisa (ENGI11).

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Com relação ao valuation, segundo cálculos do JPMorgan, o Brasil está negociando com um desconto de 40% em relação aos mercados emergentes, enquanto o México negocia a par. Ainda assim, ambos negociam com o mesmo desconto (cerca de 25%) em relação à média de 10 anos.

O banco espera um crescimento dos lucros do México na casa dos dois dígitos, enquanto o do Brasil é estável, no melhor dos casos, com rentabilidade (ROE) semelhante para ambos. “Embora a dívida seja baixa em ambos os mercados, é maior no Brasil (2,1 vezes dívida líquida/Ebitda)”, aponta.

Em termos de dados, não há uma grande diferenciação aparente no crescimento, trajetória da inflação, taxas de juros, na avaliação do JPMorgan. “As contas externas também são bastante semelhantes e não representam uma vulnerabilidade para nenhum dos dois países”, explica.

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Segundo relatório, a questão que surge para o México, um país com grau de investimento, é uma velha conhecida do Brasil: o México está tendo a maior expansão fiscal da América Latina em 2024 (+1,6% do PIB). A dúvida é se a nova administração conseguirá controlar isso. Ainda assim, a situação fiscal no Brasil é muito pior e torna o país mais volátil e vulnerável a mudanças políticas e choques externos.

No geral, de acordo com JPMorgan, o México tem lidado com um ambiente macro relativamente estável nos últimos 20 anos, o que não é o caso do Brasil.

Analistas também ressaltam que a temática do nearshoring (deslocamento da produção para um local mais próximo de onde a mercadoria é vendida, para reduzir custos e dificuldades logísticas) levou o México a ter um desempenho muito melhor que o Brasil nos últimos anos.

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Ao mesmo tempo, o crescimento muito saudável dos EUA deu suporte às ações de consumo do México, enquanto as empresas de construção e do setor imobiliário mexicanas também colheram os benefícios do impulso de infraestrutura dos EUA.

O Brasil, por sua vez, sofreu com o declínio do crescimento chinês pós-Covid e um consumidor alavancado. Enquanto o real enfraqueceu mais de 30% nos últimos 5 anos, o peso mexicano ganhou 10%. O Brasil é um mercado mais profundo que o México, tendo o dobro do valor de mercado e liquidez (ADTV) quase 4 vezes superior.

Estrangeiros são atores importantes em ambos os países (cerca de 50% de participação, mais ou menos), com o mercado local sendo maior no Brasil, mas aumentando no México.

O JPMorgan ainda comenta que a política é uma parte essencial dos mercados da América Latina e o quadro é o mesmo nos dois países, mas o filme pode ser diferente. A maioria no congresso obtida pelo Morena dá-lhe poder para implementar uma agenda já anunciada que pode promover menos independência institucional, talvez até dificultando uma eventual alternância de poder.

Por outro lado, com todos os seus problemas, o Congresso brasileiro tem sido um contrapeso para ideias mais radicais da administração, como reversões de reformas, etc. Além disso, as eleições brasileiras devem ser um tema importante para o mercado novamente em cerca de um ano.