JPMorgan: Brasil tem sido mais resiliente à correção e sinaliza mercado nas mínimas

Os riscos para essa visão são um pouso forçado da economia dos EUA (com uma desaceleração muito forte) ou o ressurgimento de problemas fiscais locais, aponta a equipe de estratégia do JPMorgan

Lara Rizério

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No começo de julho, o JPMorgan havia apontado que uma trégua no imbróglio fiscal marcou o fundo do mercado brasileiro e que uma recuperação era provável no segundo semestre à medida que os cortes do Federal Reserve se aproximavam. Um mês depois, contudo, o Ibovespa pouco variou, seguindo na casa dos 126 mil pontos. Contudo, a manutenção deste patamar no cenário recente de correção do mercado (notoriamente na segunda-feira) pode trazer boas indicações, conforme apontam os estrategistas do banco em relatório desta semana chamado “Se não o fundo, quase no fundo”.

“O Brasil tem sido mais resiliente do que outros mercados emergentes durante a correção do mercado, o que potencialmente sinaliza que o fundo do mercado está ‘com o Ibovespa’ em torno dos níveis atuais”, avaliam os estrategistas do banco.

Os riscos para essa visão são um pouso forçado da economia dos EUA (com uma desaceleração muito forte) ou o ressurgimento de problemas fiscais locais. Além disso, uma condição básica para que o Brasil tenha um bom desempenho é que o S&P se estabilize. O estrategista de ações de mercados emergentes do JPMorgan, Pedro Martins, e sua equipe apontam que, em 84% das ocasiões, as ações dos EUA e dos mercados emergentes tiveram retornos mensais na mesma direção. Quando as ações dos EUA estão caindo, os mercados emergentes também tendem a cair, embora os setores de mercados emergentes que tendem a ter um desempenho superior nessas condições sejam utilities (de utilidade pública, como energia e saneamento), bens de consumo e saúde.

Confira o que está no radar do JPMorgan que embasa uma visão mais positiva:

Cortes do Fed permitem rendimentos mais baixos e ações em alta localmente: O JPMorgan agora espera que o Fed faça dois cortes de 50 pontos base cada (setembro, novembro), seguidos por cortes de 25 pontos base até que os Fed Funds atinjam 3%, considerando a mudança para riscos de crescimento nos EUA, o que aumentou a probabilidade de recessão.

O banco acredita que o Brasil continua preparado para ter um desempenho superior na ausência de um “pouso forçado” nos EUA. “Se tudo correr bem, taxas mais baixas nos EUA permitem que o prêmio sobre os rendimentos brasileiros recue, resultando em ações mais fortes [no Brasil]”, aponta o banco.

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Brasil cortará juros no segundo semestre de 2025: os economistas do banco acreditam que as taxas no Brasil devem ser mantidas em 10,5% até meados de 2025. No entanto, a queda de juros pelo Fed, o crescimento doméstico mais moderado e alguma prudência fiscal devem permitir que o BC reduza as taxas em 100 pontos-base no segundo semestre de 2025. Embora o BC tenha expressado preocupação com o nível do real e o impacto disso nas expectativas de inflação, a realidade é que as expectativas ainda estão dentro da meta para períodos mais longos, embora mais altas do que o centro da meta. Além disso, as projeções do BC para a inflação no 1T26 estão em 3,2%, apenas 20 pontos-base acima da meta. Isso é importante porque o 1T26 é o período relevante para a meta de inflação neste momento, lembrando que houve uma mudança de meta de ano-calendário para meta móvel (18 meses à frente) em junho.

Prêmio na curva de rendimentos, posição em setores sensíveis a taxas: A preferência de ações não seria necessariamente em setores defensivos, mas principalmente nos setores sensíveis a taxas de juros, considerando que esses são os que mais se desvalorizaram e que se beneficiariam mais de uma redução na expectativa de aumentos de taxas de juros no Brasil.

O Índice de Surpresa Econômica do Brasil está em alta: A atividade econômica está indo muito bem, na visão do JPMorgan. Os economistas recentemente elevaram o PIB do Brasil para 2,5%, vindo de 1,6% no início do ano, o quarto ano consecutivo de revisões ascendentes do PIB. O Índice de Surpresa Econômica do Brasil está em uma tendência de alta desde meados de junho e limitando a queda do Ibovespa. Eventualmente, isso deve começar a levar a uma melhor receita para as empresas brasileiras.

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Aspectos Técnicos: Além disso, há que observar o fluxo e o posicionamento dos investidores em câmbio. Com relação aos fluxos, julho finalmente teve entradas de estrangeiros no valor de R$ 3,5 bilhões, embora as saídas em ações de mercados emergentes em geral continuem.
Sobre o real, o posicionamento está extremamente leve, com as posições vendidas sendo muito reduzidas no primeiro semestre. “Note que, semelhante ao Ibovespa, o real já era a moeda de mercado emergente com pior desempenho no acumulado do ano, então podemos pensar que o fundo tenha sido alcançado”, avaliam os estrategistas.

Sobre o valuation, ele permanece muito interessante, avalia o JPMorgan. O múltiplo de preço sobre lucro (P/L) esperado para 12 meses está em 7,3 vezes, o que é 1,4 desvio padrão abaixo da média. Há só 5 mercados emergentes mais baratos que o Brasil: Hungria, Turquia, Grécia, Egito e Colômbia. Excluindo commodities, o Brasil está sendo negociado a 9,5 vezes contra 11,8 vezes de média.

O banco aponta que uma boa estratégia seria ter uma “visão mais agnóstica” em relação aos setores e procurar ações que tenham valuations baratos e crescimento de lucros. “Continuamos com essa abordagem, embora haja uma temática importante que pode ser extraída da mudança na política do Fed e das expectativas mais agressivas de afrouxamento nos EUA. A consequência direta disso é que a curva de rendimentos no Brasil deve apagar pelo menos parte de seu prêmio, a menos que a história fiscal se deteriore ainda mais. Em outras palavras, considerando que achamos que as taxas não vão subir e, de fato, começarão a cair em meados de 2025, o potencial de alta em nomes sensíveis a taxas deve ser maior do que em outros setores”, avalia o banco.

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Além dos proxies de títulos (ações que se comportam como títulos), destaca também os setores financeiro e de utilidades. O primeiro está registrando índices de inadimplência mais baixos, ROEs (retorno sobre patrimônio líquido, ou rentabilidade) mais altos e alguma melhoria no NII (margem financeira), enquanto as utilities se saem bem tanto em um ambiente defensivo quanto em um cenário onde as taxas estão caindo.

O banco também não acha que agora seja o momento de estar em commodities. Embora o real esteja mais fraco, os preços das commodities também estão caindo.

O banco fez ainda cinco triagens com ações classificadas como overweight (exposição acima da média do mercado) por seus analistas. As triagens são as seguintes: 1) Ações de empresas que têm Dívida Líquida/Ebitda 2024 abaixo de 2 vezes; 2) Ações com um índice de liquidez corrente e rápida saudável, indicando capacidade de cumprir obrigações de dívida; 3) Ações que estão sendo negociadas abaixo de 10 vezes o múltiplo de preço sobre lucro a 12 meses à frente e têm crescimento de ganhos para 2025; 4) Ações cujo preço caiu mais nos últimos 12 meses; e 5) Ações que estão sendo negociadas próximas aos mínimos de 52 semanas.

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Dessas cinco triagens, o banco cita as seguintes ações que pertencem ao seu portfólio da América Latina: Vale (VALE3), Embraer (EMBR3), Rede D’Or (RDOR3), Gerdau (GGBR4), Marcopolo (POMO4), Lojas Renner (LREN3), Energisa (ENGI11) e PRIO (PRIO3). Não há ações que apareçam em todas as triagens. SLC Agrícola (SLCE3) aparece 4 vezes, enquanto Lojas Renner, Hypera (HYPE3), Cogna (COGN3), Eletrobras (ELET3), Oceanpact (OPCT3), Ser Educacional (SEER3) e Vale aparecem 3 vezes.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.