JP e BBA veem ataques no DF com impacto de curto prazo no mercado, mas avaliam desdobramentos e apontam quais ações devem se destacar

Para o JP, situação no Brasil é diferente do 6 de janeiro de 2021 nos EUA; BBA avalia que, nesse cenário, papéis de exportadoras devem se destacar

Lara Rizério

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“Um domingo frio em pleno verão brasileiro já é um acontecimento inusitado. Mas nada nos preparou para as imagens que vimos em nossas televisões: a depredação dos prédios que representam os três ramos da governo: a Suprema Corte, o Congresso e o Palácio Presidencial”, destacou o JPMorgan em relatório que traçou as suas principais visões sobre as invasões e depredações da véspera em Brasília por bolsonaristas radicais.

O presidente Lula determinou uma intervenção na segurança do Distrito Federal (Brasília) até 31 de janeiro, o que coloca o tema no comando do governo federal (sendo necessária a aprovação do Congresso).

Os estrategistas do JP Emy Shayo, Cinthya Mizuguchi e Pedro Martins Junior, que assinam o relatório, apontam que, depois de ouvir consultores políticos e ler várias análises, acham que esta é uma história ainda em desenvolvimento e suas conclusões até agora são de que o evento de domingo não  é um 6 de janeiro, ou seja, é diferente do visto nos EUA com a invasão ao Capitólio.

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“Diferente do que vimos nos EUA em 2021, não há uma demanda clara. Temos aqui uma situação que o presidente já tomou posse, o gabinete foi nomeado e o governo está funcionando por 8 dias agora. Há uma diferença crucial entre os edifícios, que estavam praticamente vazios no momento da invasão no Brasil, limitando assim os danos em termos de número de feridos e perdas de vidas. Foi mais um evento midiático do que qualquer outra coisa”, afirma.

Porém, considerando a enorme cobertura que o evento teve e a surpresa que todos tiveram, os mercados devem reagir negativamente, mas isso deve ser curto prazo, avalia. À medida que o trabalho diário do governo é retomado, a atenção deve  voltar às questões macro que vêm ganhando importância e, aos poucos, mas com firmeza, as mudanças microrregulatórias que começam a ganhar mais espaço nas discussões governamentais.

Ainda assim, o impacto político poderia ser mais prolongado, apontam os estrategistas. “Os eventos de 8 de janeiro devem encorajar Lula. À medida que o presidente fica mais forte e a oposição mais fraca, pode-se ver uma maior radicalização da esquerda, talvez levando a agenda mais longe do que se imagina, embora o Congresso continue a ser dominado pelos partidos de centro que, pelo menos em teoria, seriam uma força contra a radicalização”, aponta a equipe de estratégia do banco.

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Em seguida, é preciso observar se esses protestos aparecerão novamente, e se sim, a intensidade deles, afirmam. “Os protestos de ontem foram centralizados em Brasília e é fundamental que não se espalhem em larga escala para outros estados ou que não causem um efeito cascata, como uma greve de caminhoneiros”, avaliam os estrategistas.

Na agenda macro, os eventos relevantes daqui para frente incluem 1) a substituição de dois diretores do banco central cujos mandatos expiram em 28 de fevereiro; 2) o novo plano econômico, que deverá ser apresentado pelo Ministro da Fazenda Fernando Haddad em um futuro próximo; 3) a forma e o formato da reforma tributária.

“Tem sido uma jornada difícil para as ações brasileiras, já que a volatilidade aumentou devido às idiossincrasias locais. Isso está ocorrendo em um momento em que a reabertura da China deve levar o Brasil a uma melhora dos ativos (o minério de ferro disparou mais de 50% desde a eleição de Lula). Continuamos a pensar que, assim que a poeira baixar, principalmente em termos de visibilidade macro/fiscal, o cenário global (reabertura da China, pico das taxas de juros nos EUA) deverá tomar o lugar de frente na determinação de preços”, avalia.

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Para eles, o cenário político parece bem precificado, mas a incerteza doméstica limita os ativos por enquanto. “Gostamos de empresas do setor financeiro, bens de consumo discricionários (principalmente aqueles que atendem à população mais pobre), alimentos e bebidas e de matérias-primas. Estamos um pouco mais céticos agora em relação aos papéis proxies de títulos, considerando a curva de rendimento e a mudança na visão sobre os juros [vendo as taxas mais altas por mais tempo]”, avalia.

O Itaú BBA também acredita que este evento pode enfraquecer a oposição, aumentando o apoio político ao governo federal. No entanto, poderia fazer o governo federal ser mais hesitante em implementar medidas impopulares, como aumento dos impostos sobre os combustíveis, no início do ano. “O governo provavelmente se voltará no sentido de reforçar o seu apoio institucional, em vez de políticas econômicas”, avalia.

“Esperamos que os preços dos ativos brasileiros sofram, dado o aumento do prêmio de risco institucional, mas com o tempo o impacto tende a diminuir, já que o o foco provavelmente retornará ao debate sobre política econômica. Devemos esperar que os mercados de ações sofram, os juros subam e o real se desvalorize, ainda que não por muito tempo, como aconteceu em episódios semelhantes em outros países”, apontam.

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Eles acreditam que o call de ações de exportadoras devem superar ações sensíveis a taxas no curto prazo, dada a provável alta da curva de juros e a desvalorização do real. “Dito isso, acreditamos que nomes de commodities como Suzano (SUZB3) , Vale (VALE3) e Gerdau (GGBR4) são bons nomes para se ter neste ambiente”, avaliam os estrategistas do banco.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.