José Serra dá “aula” sobre Bitcoin, mas diz que moeda “não é confiável como reserva de valor”

Senador escreveu artigo bastante didático em que levantou questões sobre o Bitcoin, mas exaltou o uso do blockchain no futuro

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – O senador José Serra publicou um artigo no jornal O Estado de S. Paulo na última quinta-feira (22) em que mostra que sabe bastante sobre o Bitcoin e seu funcionamento. Apesar de algumas críticas e adotar um tom mais negativo, ele evita ser duro e mostra que esta tecnologia tende a surpreender os “futurólogos”.

Por outro lado, ele exalta o blockchain, dizendo que isso fará parte do futuro, embora o mundo ainda não saiba direito como. “O mérito do bitcoin não é ter inaugurado uma nova linhagem de moedas, mas o de ter introduzido o blockchain, inovação técnica que poderá, com aperfeiçoamentos, reduzir custos de transações financeiras, de registros de propriedade e de contratos”, diz Serra no texto.

Quer investir em ações pagando só R$ 0,80 de corretagem? Clique aqui e abra sua conta na Clear

Boa parte de seu artigo serve para recontar a história da criptomoeda. Serra lembra da história da venda de duas pizzas a 10 mil bitcoins, o que é considerada a primeira transação comercial com a criptomoeda. Ele destaca ainda que muitas pessoas comparam o bitcoin a bolhas especulativas, como aconteceu com as tulipas na Holanda.

Serra não explica direito, mas chama de problema o fato deste sistema ser descentralizado. “Se a transferência for criptografada sem o uso da chave privada do legítimo emissor, os mineradores detectarão a fraude e rejeitarão a transação. Pressupõe-se que a senha privada não seja roubada. E aí está um problema: no bitcoin não há uma autoridade central que tenha poder de reverter transações ilegítimas”, afirma.

Por outro lado, ele exalta o fato de ser um sistema sem chance de fraude: “quem quisesse fraudar os registros teria de ter capacidade de processamento maior do que a soma dos demais participantes, pois precisaria refazer todo o encadeamento de autenticações em velocidade superior à dos demais mineradores. Impossível”.

Continua depois da publicidade

Já no fim do texto, Serra passa a criticar mais a criptomoeda. Para ele, como meio de pagamento, o bitcoin é ineficiente, enquanto como unidade de conta, ele tem um problema ter seu valor oscilar muito. “Como reserva de valor, o bitcoin não é confiável. Embora o sistema preveja uma oferta final de 21 milhões de bitcoins, nada impede que outras criptomoedas inundem o mercado, reduzindo o valor de todas”, opina o senador.

Por fim, ele destaca que é difícil saber o que será desta tecnologia e quais usos serão adotados. “As aplicações de novas tecnologias na economia são absolutamente imprevisíveis. A indeterminação é a regra […] O caminho para sua utilização prática é tortuoso, dramático e surpreendente, em geral fazendo chacota dos futurólogos. Suas aplicações práticas – os produtos que vão inspirar e os mercados que vão moldar – são sempre imponderáveis. Com o blockchain e o bitcoin não é nem será diferente”. conclui Serra.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.