Johnson & Johnson: unidade pede recuperação judicial e ação não reage; por quê?

Analistas veem que pedido de "Chapter 11" é mais um passo para resolução de litígio envolvendo processos de câncer de ovário

Equipe InfoMoney

Frascos de talco para bebês da Johnson's são exibidos em uma loja na cidade de Nova York, EUA, em 22 de janeiro de 2019. REUTERS/Brendan McDermid/Foto de arquivo
Frascos de talco para bebês da Johnson's são exibidos em uma loja na cidade de Nova York, EUA, em 22 de janeiro de 2019. REUTERS/Brendan McDermid/Foto de arquivo

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A notícia de que uma subsidiária da Johnson & Johnson (J&J) entrou com pedido de recuperação judicial (Chapter 11) pela terceira vez na sexta-feira (20), enquanto a gigante da saúde busca avançar com uma proposta de acordo de aproximadamente US$ 8 bilhões, gerou reação entre os consumidores da tradicional marca de produtos farmacêuticos e de higiene, mas trouxe pouco efeito no mercado de ações.

As ações da companhia, cujo ticker é JNJ e são negociadas na bolsa de valores de Nova York (NYSE), registravam queda de 0,82%, a US$ 162,82, às 16h10 (horário de Brasília).

Mas porque o mercado teve uma reação “tímida” ao pedido de proteção?

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Cabe destacar que a Johnson & Johnson tem enfrentado uma série de processos judiciais relacionados a alegações de que o uso de seus produtos à base de talco mineral causou câncer de ovário. Assim, a empresa já tentou três vezes colocar a subsidiária que detém todos os passivos relacionadas ao pó de talco, a Red River Talc, em recuperação judicial. Contudo, as tentativas foram rejeitadas por juízes que consideraram que a unidade não estava em dificuldades financeiras.

Desta vez, o pedido contou com o apoio de aproximadamente 83% dos credores (acima do limite necessário de 75%). A J&J espera que a terceira tentativa seja bem-sucedida, uma vez que tem o apoio maciço dos potenciais reclamantes, além de ver o plano como justo e equitativo para todas as partes. A J&J já teria resolvido cerca de 95% dos casos judiciais sobre o tema e tenta realizar acordos para encerrar as reclamações restantes.

A J&J enfrenta processos de mais de 62.000 reclamantes que alegaram que seu talco para bebês e outros produtos de talco estavam contaminados com amianto e causaram diversos tipos de câncer, dentre eles o de ovário. A J&J nega as acusações e disse que seus produtos são seguros.

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O JPMorgan vê o novo pedido como mais um passo em direção à resolução das responsabilidades da companhia relacionadas ao talco, mas acredita que a resolução completa (e a normalização total das métricas para as ações da J&J) ainda levará tempo, dada a complexidade e a abrangência deste caso, além da necessidade de que o acordo passe pelo sistema judicial.


“Além das questões relacionadas ao talco, observamos um aumento no interesse e na melhora do sentimento em relação às ações da JNJ, que acreditamos ter sido impulsionado pela recente rotação para as ações e pelo progresso contínuo da empresa em seus outros negócios (particularmente sua franquia farmacêutica)”, avaliam os analistas. Embora o crescimento em 2025 seja deprimido devido à perda de exclusividade do medicamente Stelara, o banco prevê que o crescimento da receita retorne a mais de 5% a partir de 2026.

Sobre o acordo em si com os credores, o JPMorgan vê um passo positivo em direção à eventual resolução do longo litígio com a oferta final incluindo aproximadamente US$ 10 bilhões a serem pagos ao longo de 25 anos (equivalente a um valor presente de cerca de US$ 8 bilhões). Esta oferta foi elevada em US$ 1,75 bilhão (+US$ 1,1 bilhão para credores + US$ 650 milhões para cobrir honorários legais) em relação à oferta anterior de abril, o que ajudou a ganhar o apoio de um dos grupos de demandantes opostos e trouxe o total de apoiadores para 83% (contra os 75% necessários para a confirmação do plano de Chapter 11). Se aprovado pelo tribunal, o acordo resolverá todas as disputas relacionadas ao caso com relação ao câncer de ovário (99,75% de todos os casos restantes, sendo o restante mesotelioma).

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“Os tribunais do Texas (caso atribuído ao juiz Christopher Lopez) devem ser mais receptivos ao uso do Chapter 11 pela JNJ em comparação com Nova Jersey, onde os casos anteriores foram apresentados. Além disso, a oferta de acordo também foi apoiada pelo Representante de Demandas Futuras, um advogado independente nomeado pelo Tribunal de Falências, o que ajuda a fortalecer o caso para a resolução. No entanto, 17% dos demandantes permanecem contra o acordo, e esperamos que desafios eventualmente surjam no Tribunal de Apelações”, avalia o JPMorgan.

Assim, os analistas do banco esperam que a resolução final das questões relacionadas ao talco ainda leve tempo para se concretizar, mas seu impacto nas ações da JNJ provavelmente diminuirá com o tempo.

“Embora esta atualização seja um desdobramento positivo, esperamos que os advogados dos demandantes opositores busquem bloquear o acordo. Assim, e dada a complexidade e a abrangência deste caso, acreditamos que a resolução total das questões relacionadas ao talco pode ainda levar algum tempo. Enquanto isso, estamos vendo investidores começando a olhar além do talco e esperamos que o foco da história da JNJ comece a se deslocar para os fundamentos centrais em vez do litígio (o que acreditamos ser um passo claro na direção certa para as ações)”, conclui o banco, que tem recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de US$ 180, ainda uma alta de 10% frente o fechamento de sexta-feira.