Jogos play-to-earn estão se perdendo; aqui está como consertá-los

Um ecossistema play-to-earn mais sustentável e impactante precisa ser livre, justo, transparente e propositalmente descentralizado

CoinDesk

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*Por Jason White

No ano passado, uma nova categoria de jogos se tornou a queridinha das rodas de tecnologia, criptomoedas e investidores. A tese por trás dos jogos play-to-earn (P2E, na sigla em inglês) é simples e conhecida: jogadores ganham renda ou ativos através do jogo, graças às recompensas com base em blockchain, incluindo tokens e tokens não fungíveis (NFTs).

Grandes investimentos foram feitos nos principiantes Axie Infinity (Sky Mavis), Blankos Block Party (Mythical Games) e outros, chegando a centenas de milhões em valuation de unicórnios. Muitos desenvolvedores, de startups a grandes estúdios (como Zynga, Ubisoft e até Amazon) já indicaram que querem entrar no setor. Aficionados das criptomoedas começaram a sonhar com um futuro em que qualquer pessoa pode ganhar a vida trabalhando duro nesses jogos.

A premissa de jogadores receberem recompensas financeiras reais pelo seu tempo e atenção é profunda. P2E pode ser uma força poderosa para o bem, diminuindo a desigualdade, introduzindo milhões ao universo cripto livre de riscos e sendo potencialmente um aspecto da renda básica universal.

No entanto, agora muitas pessoas desconfiam que o jogos P2E são um esquema Ponzi ou de pirâmide e podem fazer mais mal do que bem. Para desvendar o verdadeiro potencial desses games, primeiro precisamos entender de onde vêm essas preocupações e, a partir disso, melhorar o design.

É tudo uma brincadeira até alguém perder a própria casa

A realidade dos jogos play-to-earn modernos é que, para ganhar, você precisa investir mais do que jogar. Primeiramente, jogadores precisam gastar uma quantia considerável, chegando a centenas de dólares, para comprar NFTs ou pagar uma associação terceirizada que alugue-os. Para receber um retorno, um grupo de futuros jogadores precisa gastar mais para manter a bola rolando. E assim por diante, para sempre.

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Segundo a teoria do mais tolo, essa dinâmica não vai terminar bem. Flutuações no sentimento do mercado podem dizimar o capital. Por exemplo, até a semana passada, os mercados de criptomoedas estavam despencando. Consequentemente, os dois tokens primários (AXS e SLP) usados no famoso jogo play-to-earn Axie Infinity também.

Quando o rendimento é baseado na apreciação, as quedas no mercado podem fazer com que jogadores percam tudo. Baita jogo, hein?

É contraditório que uma coisa desse tipo aconteça no modelo play-to-earn. E é complicado que os desenvolvedores desses jogos (mesmo que sejam boas pessoas com as melhores das intenções) consigam ganhar bilhões de dólares apesar do risco e da perda potencial.

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Todos nós já escutamos a narrativa de que a Web 3, a blockchain e a descentralização são os grandes equalizadores financeiros do nosso tempo — e eu realmente acredito nisso. Enquanto cresce a preocupação com automação, desigualdade global e estruturas de poder centralizado, o modelo P2E questiona se existe uma maneira de pessoas comuns ganharem e dividirem o valor que ajudaram a criar com seu tempo e atenção.

Mas a verdade é que a maioria dos jogos play-to-earn beneficiam uma operadora central às custas dos seus muitos jogadores individuais. É a antítese da Web 3.

Declaração dos direitos dos jogadores de P2E

A base da Web 3 é a divisão igualitária dos espólios em sistemas de partes múltiplas. Os verdadeiros aplicativos de Web 3 devem garantir que todos os stakeholders (usuários, jogadores, parceiros, membros da equipe, fornecedores, quem quer que seja) sejam justamente avaliados e recompensados, mas isso não vai acontecer de maneira acidental ou secundária se a única meta é o lucro.

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Isso não quer dizer que os jogos P2E têm que fazer caridade. Que fique registrado que um jogo precisa ser, acima de tudo, incrivelmente divertido e legal de jogar (e, idealmente, de assistir também). Senão, não tem recompensa que prenda a atenção dos jogadores. O que vai fazer com que os games da Web 3 sejam muito melhores do que os da Web 2 são as decisões que valorizam, de forma honesta, as contribuições e o bem-estar dos usuários.

A seguir, estão delineados quatro princípios que colocam o jogador em primeiro lugar e asseguram um ecossistema mais sustentável e impactante, digno dos ideais da Web 3:

1) 100% gratuito: O jogo deve estar separado dos gastos e dos investimentos como uma condição para ganhar dinheiro. Não há nada de errado com jogos onde os jogadores conseguem gastar e investir, mas não deveria existir uma vantagem, dentro do jogo, para quem faz isso. As mecânicas de “gastar para ganhar” não prestam. Os jogos ficam menos divertidos e sustentáveis e excluem muita gente que não pode arriscar capital.

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2) Extremamente justo: Um jogo P2E é um sistema econômico com atores diversos, interesses rivais e recursos finitos. Mecânicas que decidem quem ganha quanto devem ser justas e colocar todos os participantes no mesmo nível. Para garantir um impacto econômico real, os games devem poder ser aprendidos, jogados e razoavelmente ganhos por qualquer pessoa, independentemente da idade, gênero, cultura ou conhecimento de tecnologia. Roubar não pode ser uma opção.

3) Totalmente transparente: Todos os dados financeiros importantes devem ser compartilhados abertamente. A maneira como o dinheiro é gerado pelo sistema e como é distribuído/arrecadado deve ser clara. Se as recompensas forem compartilhadas igualmente entre os jogadores, a confiança, o engajamento e as oportunidades de rendimento aumentam.

4) Propositalmente descentralizado: A blockchain deve ser usada para beneficiar jogadores e desenvolvedores. Por exemplo, os resultados e as transações do jogo podem ser abertamente checadas na chain e jogadores podem se envolver, de forma significativa, na propriedade e na governança.

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Um futuro brilhante para o P2E

Esses diversos esquemas de investimento, que fingem ser um jogo divertido, são podem ser um desastre. Jogadores e até economias vão pagar caro, especialmente em comunidades frágeis e nações em desenvolvimento, onde a adoção é maior. Enquanto isso, aumenta o risco de ceticismo e intervenção regulatória em uma indústria que já é vista com maus olhos. Mas agora temos uma chance de aprender com nossos esforços do começo e corrigir o curso da história.

As pessoas falam demais sobre a Web 3. A descentralização é uma causa extremamente importante e vale a pena. Ela vai se tornar uma realidade quando a indústria se unir para construir sistemas que equilibrem, justa e honestamente, os espólios para todo mundo. Todos podem ganhar. E devem.

*Jason White é fundador e CEO da TallyUP, um novo jogo play-to-earn.

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