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Uma tempestade perfeita, um trimestre para ser esquecido, a chegada do período fraco para a companhia. Essa é a análise do mercado sobre os resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) da JBS (JBSS3), que registrou lucro líquido de R$ 2,349 bilhões no quarto trimestre de 2022 (4T22), uma redução de 63,7% em relação ao reportado no mesmo intervalo de 2021. Com isso, as ações fecharam em queda de 3,24% nesta quarta-feira (22), a R$ 18,52, após chegarem a ter baixa de mais de 5% na mínima do dia e de quase zerarem as perdas no melhor momento das negociações intradiárias.
Conforme destaca o Credit Suisse, a JBS havia saído do radar da maioria dos investidores em função de uma expectativa de piora no ciclo, que chegou. O banco aponta que este momento chegou e o resultado mais fraco já era esperado e deve continuar ao longo de um primeiro trimestre historicamente mais fraco.
O nível de receita líquida caiu 4,5% na base anual, para R$ 92,9 bilhões. A operação de Beef US teve uma queda de 12,3% na base anual em reais, parcialmente impactada por uma apreciação do real de 5,9%.
O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado totalizou R$ 4,574 bilhões no 4T22, uma diminuição de 65,2% em relação ao 4T21 e teve queda anual em todas as unidades de negócios, aponta o banco, tendo uma baixa relevante em relação às estimativas de mercado.
O impacto em suínos nos EUA e Austrália foi menos relevante, mostrando alguma melhora de margem. Já o desbalanceamento em oferta e demanda pode ser justificado por níveis de inflação altos nos principais mercados e pressão dos custos de insumo.
A Eleven Financial avalia que a JBS reportou um resultado fraco (para se esquecer), ainda que em linha com suas expectativas, refletindo aumento nos custos de aquisição de gado norte americano e dos grãos. No entanto, ainda que se esperasse margens mais baixas principalmente na Seara e no segmento de bovinos no Brasil, esses dois segmentos surpreenderam negativamente, o que foi compensado por uma margem levemente acima do esperado no segmento de suínos nos EUA.
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Na Seara, o aumento de 9% no ano no faturamento não foi suficiente para compensar os custos elevados dos farelos de soja e milho, fazendo com que a unidade reportasse uma queda de 38% anual no Ebitda, com margem de 6,4% (-4,8% ao ano). Em bovinos Brasil, mesmo com o aumento de 1,4% no ano na receita refletindo repasse de preços e maior volume de exportação, a piora do mercado chinês no final de 2022 e um desequilíbrio de oferta e demanda no segmento de couro pressionaram o resultado da operação, que apresentou uma queda de 51,2% anual do Ebitda.
Já na operação bovina norte americana, conforme esperado, foi vista uma normalização das margens devido às mudanças no ciclo do gado, com maior número de abate de fêmeas, que oferece uma maior disponibilidade no curto prazo, porém, diminui a disponibilidade de gado no médio/longo prazo.
“Em suínos, por sua vez, mesmo com a alta nos preços dos grãos, aumento nos custos de frete e redução do abate, a demanda resiliente e melhora de mix conseguiram sustentar bons patamares de preços”, avalia.
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O resultado da Pilgrim’s que já tinha sido reportado nos EUA foi fortemente impactado pela queda nos preços dos Big Birds e desequilíbrio entre oferta e demanda no México. Assim, a unidade apresentou uma queda de margem Ebitda de 6,2 pontos percentuais (p.p.) na base anual.
Ciclo dos EUA deve continuar pressionando
A Eleven avalia que, apesar de continuar enxergando uma demanda global positiva por proteínas, principalmente por conta da abertura da China e possível novo surto de febre suína africana no país asiático, a reversão de ciclo nos Estados Unidos e preços de soja e milho elevados devem continuar pressionando as margens da companhia no curto prazo.
“Assim, mesmo com um upside de 46% em relação ao nosso preço-alvo de R$ 28,00, mantemos a recomendação Neutra esperando sinais mais claros do início de reversão de ciclo de gado antes de alterar a recomendação”, aponta o BBI.
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O Bradesco BBI também segue com recomendação neutra para JBSS3, com preço-alvo para 2023 de R$ 30, vendo os múltiplos da ação negociados em linha com a média histórica.
“Achamos que o Ebitda ajustado de R$ 4,6 bilhões, reportado para o 4T22, ficou em linha com as expectativas do mercado. Em nossa opinião, a JBS teve um Ebitda mais fraco do que o esperado pelo mercado para a Seara e para sua divisão de carne bovina brasileira (impactado negativamente pelos preços mais fracos do couro), compensado por um Ebitda acima do esperado para suínos nos EUA e bovinos na Austrália”, aponta.
O lucro líquido no 4T22, por sua vez, foi de R$ 2,214 bilhões, bem acima da estimativa do Bradesco BBI de R$ 943 milhões, e do consenso Bloomberg de R$ 1,3 bilhão, devido a um impacto positivo relevante de créditos fiscais.
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A XP avalia que a JBS apresentou resultados fracos no 4T22, uma vez que uma tempestade perfeita se formou em toda a empresa.
Além disso, embora os resultados tenham ficado acima de suas estimativas, vieram abaixo do consenso, o que pode desencadear novas reações negativas nos preços das ações, embora os papéis já tenham sofrido recentemente com a piora das expectativas.
“Saudamos a diversificação geográfica e de proteínas da JBS, pois essa estratégia provou ser acertada, uma vez que a diversificação ajudou a compensar a queda nas margens de US Beef nos últimos trimestres. No entanto, no 4T22 todas as operações pioraram, o que levou a JBS a reportar um Ebitda ajustado de R$ 4,5 bilhões, queda de 65% ano ano, (+10% versus a estimativa da XP, mas 20% abaixo do consenso)”, avalia.
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Os analistas da casa seguem cautelosos com os frigoríficos diante de um cenário mais desafiador no curto prazo, com overhangs (pressão sobre as ações) que devem continuar afetando negativamente os ativos, como o recente caso atípico de mal da vaca louca no Brasil, além do avanço da gripe aviária em países da América Latina.
Executivos da JBS afastam temores
Apesar de o resultado da JBS ter sido mal recebido pelo mercado, os executivos da companhia, durante a teleconferência de resultados, minimizaram os temores.
“Nós temos uma presença robusta nos Estados Unidos, de onde vem nosso maior faturamento, no Brasil, na Austrália e na Europa. Em todos esses lugares, com várias proteínas”, comentou Gilberto Tomazoni, diretor executivo (CEO) da companhia no evento, que aconteceu na manhã de hoje. “Cada um desses negócios tem ciclos diferentes. Mas nós mostramos a estabilidade dos resultados. Os negócios individualmente têm volatilidade, mas nossa margem só cresce. Mesmo com o ciclo dos EUA que está acontecendo agora, nós apresentamos resultados sólidos e teremos crescimento de margens. E isso não está precificado. Estamos ainda investindo em valor agregado e marca”.
O recuo das ações por essas questões, vistas como pontuais, leva os executivos a acreditarem que os papéis estão subvalorizados no mercado. Apesar disso, porém, eles estão mais cautelosos em fixar um programa de recompra, por conta do cenário macroeconômico mundial.
“A recompra de ações fazemos quando temos geração de caixa. Se não conseguimos gastar em greenfields e M&As, retornamos valor aos acionistas. Fazemos a recompra quando podemos captar a custos baixos. Agora, devido ao cenário macroeconômico, seremos mais seletivos. Há momentos e momentos para o gasto de caixa, e esse é de prudência”, disse o CEO.
Isso não quer dizer, no entanto, que os executivos não estão otimistas. Como motivos para ânimo, eles veem, por exemplo, uma melhora no cenário interno, a reabertura da China para a carne bovina brasileira e a virada de ciclo na Austrália.
Em 2023, a JBS também pretendente ter “menos despesas fora do esperado”. Segundo o CEO, os gastos com despesas financeiras, por exemplo, devem diminuir após a movimentação de levar parte das dívidas para fora do Brasil, o que reduz os gastos com hedge. Além disso, a JBS também deve ser mais atenta com o Capex, em meio ao cenário macro.
“No quarto trimestre, já liberamos capital de giro. Estoques, passamos um tempo acima do normal por conta das dificuldades. Por fim, aumento do preço dos grãos faz com que a gente tenha maior consumo”, explica Tomazoni. “Nesse ano, não esperamos aumento do preço dos grãos. Se fala mais em estabilidade, apesar de não termos como prever. Questão dos estoques, também está endereçada”, comentou o executivo”.