“Já se esperava início caótico do governo” com reflexo no mercado, diz CEO da Genial Investimentos

Rodolfo Riechert diz não acreditar que será um período de forte entrada de capital estrangeiro e destacou quais serão as boas opções de investimento

Estadão Conteúdo

(Shutterstock)
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A primeira semana do mercado financeiro no novo governo de Lula (PT) foi turbulenta. Na segunda e terça-feiras, o Ibovespa fechou em queda, à medida que investidores reagiam com pessimismo às primeiras sinalizações da nova gestão. Falas contra o Teto de Gastos e a retirada da Petrobras (PETR3;PETR4) do plano de privatização do governo, por exemplo, entre outras falas consideradas polêmicas, intensificaram a volatilidade.

No meio da semana, porém, o humor virou. Houve declarações na direção de maior estabilidade fiscal e contra a interferência na Petrobras; sinalizações que fizeram o índice de referência da B3 encerrar com altas de 1,12%, 2,19% e 1,23% na quarta, quinta e sexta-feiras, respectivamente. No acumulado, o Ibovespa cedeu 0,70%, encerrando a primeira semana de 2023 aos 108.963,70 pontos.

As movimentações em direções variadas ilustram o que Rodolfo Riechert, CEO da Genial Investimentos, considerou como um início de governo “caótico, mas esperado”. Ele diz não acreditar que será um período de forte entrada de capital estrangeiro e destacou quais serão as boas opções de investimento.

Na primeira semana do governo Lula, o Ibovespa teve pregões mistos: ora de queda acentuada, ora de altas. Que leitura o sr. faz?

Não deveríamos analisar apenas essa primeira semana, já que o mercado vem acompanhando o novo governo desde novembro, quando a eleição foi decidida. Mas olhando só para essa semana, diria que foi um início bem caótico, mas esperado. Os discursos depois da posse são até menos relevantes nesse sentido, porque o governo foi eleito por uma determinada plataforma e nesse primeiro momento tem de seguir isso. O antigo governo era muito pautado pela economia, tinha até um superministro. Nesse governo, são as pautas sociais. E obviamente o mercado gosta muito mais daquele que foi eleito com foco na agenda econômica.

Qual é o principal temor do mercado em relação ao Lula 3?

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Me chamou a atenção que, quando o Lula subiu a rampa, subiram junto todo tipo de personagem que deveria representar a sociedade brasileira. Mas faltou um empresário classe média alta que emprega um monte de gente e está preocupado com o desenvolvimento; e isso não está presente no discurso do novo governo. Quando o mercado vê que a pauta social justifica qualquer tipo de coisa, parece que não vai dar muito certo. É esse discurso que ainda parece antagônico. Para o pobre, a justiça social. Para o empresário, o imposto de renda. Não deveria ter esse tipo de confronto, o ideal é uma sociedade única desenvolvendo o País.

O target da Genial para o Ibovespa em 2023 é um dos mais baixos do mercado (109 mil pontos). Quais fatores levam a essa visão mais conservadora da Bolsa?

Levamos em consideração alguns temas. Primeiro, é um governo que está se dizendo gastador. Se isso acontecer, não vamos ter uma queda da inflação, porque é mais dinheiro em circulação. Isso provavelmente fará com que os juros não caiam no ano que vem. O segundo evento é que a Bolsa é muito impactada pelas commodities e estamos vendo uma desaceleração global, que faz reduzir a demanda e deveria fazer com que os preços dos insumos caiam. Isso impacta a Vale, a Petrobras e empresas de papel e celulose. O outro grande setor, que seriam os bancos, pode sofrer com a alta da inadimplência, causada pela continuidade dos juros altos e o crescimento baixo da economia. É um ciclo que hoje se mostra mais negativo. Vai ter pouco interesse para tomar grandes posições aqui, ainda mais com o atual patamar da renda fixa, fica difícil de competir. Por isso, acreditamos que o fluxo vai ser baixo e o nosso cenário é a Bolsa encerrar 2023 mais ou menos no patamar onde está.

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Enquanto a volatilidade perdurar, quais são as melhores oportunidades de investimento?

No Brasil, a oportunidade sempre esteve em uma carteira mais diversificada. Mas para o investidor pessoa física hoje existem títulos de renda fixa que são relativamente curtos, de empresas boas, que não têm impostos no rendimento, um negócio quase imbatível em termos de aplicação. O cara mais animado poderia olhar para a aplicação nas DIs longas, um papel IPCA +6% ou +7%, por exemplo, parece no longo prazo algo maravilhoso a se fazer. Na Bolsa, sempre tem empresas que me parecem baratas, mas para ser um bom investimento vai ter que ganhar quase 14% na renda fixa. Quem não tem investimentos internacionais deveria colocar um pouco de dinheiro em dólar.