Itaú, Bradesco, BB, Santander: quais bancos se mostraram mais fortes para enfrentar a crise após o balanço do 1º tri?

Com exceção do Santander Brasil, todos apresentaram queda no lucro; contudo, analistas apontam que Itaú teve melhor resposta, enquanto BB tem dois "trunfos"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A temporada do primeiro trimestre de 2020 ainda contará com a divulgação de dezenas de balanços de empresas de diversos setores. Contudo, os quatro maiores bancos de capital aberto do Brasil já soltaram seus balanços, dando sinais bastante importantes sobre como estão reagindo à crise com a pandemia do coronavírus – e como devem enfrentar o trimestre seguinte, que promete ser ainda mais complicado.

Pelo critério de lucro recorrente, os quatro maiores bancos registraram queda acumulada de 28,2% no primeiro trimestre, já mostrando o forte impacto nos resultados, principalmente por conta do aumento das provisões para perdas com a pandemia.

O Banco do Brasil (BBAS3) reportou queda de 20% do lucro recorrente (R$ 3,2 bilhões), o Bradesco (BBDC4) teve baixa de 39,8% (R$ 3,8 bilhões), enquanto o Itaú Unibanco (ITUB4) registrou a maior queda do lucro, de 43% (a R$ 3,9 bilhões).

Dentre os grandes bancos, o único que registrou alta no lucro foi o Santander Brasil (SANB11): o principal motivo para isso, contudo, não foi algo muito animador na visão dos analistas. A operação brasileira do banco espanhol não fez provisões adicionais: apenas a matriz optou por aumentar a provisão no valor de 1,6 bilhão de euros. Isso foi visto como um sinal de que a operação brasileira terá que apoiar o grupo em breve.

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Desta forma, ao olhar apenas para os números do primeiro trimestre, a avaliação é de que seria cedo para tirar conclusões sobre a resiliência das operações do Santander Brasil, conforme ressaltou Marcel Campos, analista da XP Investimentos. Vale ressaltar que as provisões para perdas com empréstimos do Santander tiveram sim um aumento, de 19,2% ano a ano, para R$ 3,424 bilhões, mas foram consideradas pequenas, principalmente na comparação com a alta de 86% do Bradesco, para R$ 6,7 bilhões, e do Itaú, de 10,1 bilhões, um salto de 165% na base de comparação anual.

Durante a teleconferência com analistas, executivos do Santander foram muito questionados sobre os motivos para não aumentarem mais fortemente as provisões contra devedores duvidosos desde já, uma vez que é certa a expectativa de deterioração em meio ao ambiente de forte desaceleração econômica com o coronavírus. A justificativa dada foi de que o banco já havia se preparado para um momento mais difícil, o que levou a um aumento mais tímido das provisões, mas também por que não haveria clareza no cenário, gerando maior cautela. Com isso, apontou também que haverá revisões em breve, dependendo de como a crise evoluir.

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O Bradesco BBI corroborou a visão de cautela com resultados do Santander: “os investidores devem prestar mais atenção a outros pontos importantes do que apenas o lucro. Outros fatores, como aumento do custo de risco, deterioração dos principais indicadores de qualidade dos ativos, taxa tributária efetiva anormalmente baixa e índices de capital mais baixos devem desempenhar um papel mais importante no desempenho das ações do Santander”.

Isso porque houve queda nos patamares de capital regulatório nível I do banco, que engloba o patrimônio dos acionistas e os lucros retidos, que foram para 12,6% versus 14% ao final de 2019. “Soma-se a isso ao fato do banco estar com uma inadimplência baixa e não usual de 3,0%, enquanto sua carteira possui 69% de participação no segmento de varejo (mais arriscado). Por fim, acreditamos que essa combinação de uma carteira mais arriscada com menor cobertura e nível de capital pode impactar os próximos trimestres”, aponta o analista da XP. Desta forma, apesar da forte alta dos ativos após o resultado, de 11,5%, os especialistas apontaram que o resultado não foi tão bom como à primeira vista poderia parecer (veja mais sobre o balanço do Santander Brasil clicando aqui).

Enquanto isso, o Itaú, que registrou a maior queda do lucro na base anual, foi visto por analistas como o mais preparado para enfrentar a forte crise com o coronavírus, ao também apresentar as provisões mais altas, em um gesto que foi bem-vindo pelo mercado em meio aos sinais de forte desaceleração econômica e consequentemente impacto da inadimplência.

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E, se a quantidade provisionada foi sem precedentes, Cândido Bracher, CEO do banco, destacou em teleconferência pós-balanço que pode haver ainda mais nos próximos trimestres. “Não temos como dizer hoje quanto tempo durará a crise, mas sabemos que vai durar muito tempo ”, disse Bracher, acrescentando que uma recuperação econômica total após a pandemia de coronavírus é improvável e apontando que a economia do país pode cair até 6,5% em 2020 com a crise.

Assim, no dia após a divulgação do balanço (terça-feira) as ações da companhia tiveram ganhos, de 3,70%. Vale ressaltar, contudo que, antes disso, na sexta-feira, o Bradesco havia apresentado os seus números do primeiro trimestre. As altas provisões (que também levaram à queda do lucro) foram bem-vindas, assim como no caso do Itaú. Contudo, a reação ao resultado foi bem negativa, com baixa de 7% dos ativos.

A principal diferença entre as duas instituições é que a inadimplência do Bradesco teve um crescimento acima do esperado no primeiro trimestre e em todos os segmentos, levando a uma queda do índice de cobertura do banco – relação entre empréstimos inadimplentes e provisões – de 41 pontos na base anual, para 228%. Isso foi inesperado já que houve apenas cerca de 15 dias de isolamento social, com um impacto ainda não muito forte para o resultado efetivo dos primeiros três meses do ano.

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Por outro lado, no caso do Itaú, a inadimplência acima de 90 dias subiu, mas apenas 5 pontos-base anualmente, para 3,1%, e o banco decidiu prospectivamente aumentar o nível de provisões para enfrentar eventuais aumentos nos índices. A formação de reservas de provisões aumentou R$ 7,3 bilhões no trimestre para R$ 47,1 bilhões.
Assim, o banco possui agora R$ 27,4 bilhões em reservas extras para enfrentar eventuais aumentos na inadimplência, levando a um índice cobertura de 239% versus 229% no quarto trimestre de 2019.

Desta forma, avaliam analistas, a mensagem mostrada tanto pelo Bradesco quanto pelo Itaú de como eles estão se preparando para a crise foi positiva, mas a elevação da inadimplência logo no primeiro trimestre foi visto com preocupação no caso do primeiro banco.

Despesas controladas 

Já no caso do Banco do Brasil, mesmo com uma queda do lucro acima do esperado, alguns pontos foram destacados como positivos no balanço da instituição financeira estatal.

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Destaque para as despesas de pessoal subindo abaixo da inflação anualmente em 1% e caindo 11% trimestralmente pra R$ 4,9 bilhões. Outras despesas administrativas também apresentaram boa queda de cerca de 20% anualmente e trimestralmente para R$ 3,6 bilhões. O banco está trabalhando com 360 menos agências e 4 mil funcionários a menos desde o primeiro trimestre do ano passado.

O quesito despesas, aliás, também foi outro ponto acompanhado de perto pelo mercado em relação aos resultados dos bancos, com as instituições apertando os cintos em meio ao cenário de crise. No caso do Bradesco, os gastos administrativos, operacionais e com pessoal vieram acima do esperado, uma vez que a expectativa era de menores gastos não relacionados a pessoal nesse período de isolamento. A gestão apontou que os gastos com investimentos prejudicaram o resultado, uma vez que a depreciação dos mesmos está aumentando. De forma geral, as despesas no trimestre foram de R$ 7,359 bilhões, 17% acima frente o mesmo trimestre de 2019 e 59,2% acima do quarto trimestre.

Já no caso do Itaú, o bom controle de custos foi elogiado por analistas. As despesas operacionais diminuíram 7%, para R$ 12,1 bilhões. Na mesma linha, as despesas administrativas, gerenciais e outras despesas operacionais do Santander Brasil foram o destaque positivo, com uma queda trimestral de 8% para R$ 9 bilhões. Atenção maior para despesas não relacionadas a pessoal, que apresentaram uma queda de 9% para R$ 6,7 bilhões.

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Os trunfos de cada banco

Voltando ao Banco do Brasil, mesmo com o cenário desafiador pelo frente, a visão dos analistas é de que a estatal está reforçada para os eventuais desafios criados pela pandemia. Marcel Campos, analista da XP, destaca três pontos: i) cobertura de inadimplência de 200%; ii) maior índice de capital nível I entre os bancos incumbentes em 13,9%; e iii) uma carteira de crédito mais defensiva, com 40% entre crédito consignado e rural. O Itaú BBA também reforça o valuation atrativo dos papéis: “é a ação mais barata entre a que cobrimos”.

Durante teleconferência com o mercado, os executivos do Banco do Brasil destacaram que as lições aprendidas com crises anteriores fizeram o banco ficar mais preparado para cenários como o atual, o que o deixou em condições de prever um crescimento menor dos índices de inadimplência nos próximos meses.

“O BB tem uma posição relativamente privilegiada em relação aos demais bancos, considerando a origem de seus resultados”, disse Rubem Novaes, CEO da instituição.

A potencial vantagem reside na exposição relativamente baixa da carteira do banco a pequenas e médias empresas, público diretamente afetado pela crise atual; a forte fatia do consignado no crédito a pessoas físicas; e o fato de mais da metade do empréstimo do agronegócio ter mitigadores de risco. O banco apontou que o índice pode subir, mas não deve ir muito além do pico de 4,11% atingido no meio de 2017.

Assim, dentre os “trunfos” do BB destacados pelos analistas, saltam aos olhos do mercado principalmente a carteira mais defensiva e o valuation considerado bastante atrativo.

Porém, um outro ponto (e que inclusive acaba por influenciar o desempenho das ações) sempre é levado em conta para aqueles mais cautelosos com o BB: o fato de ser uma empresa estatal.

“Somos cautelosos quanto ao risco de ter o Banco do Brasil desempenhando um papel mais anticíclico durante esta crise”, afirmam os analistas do Bradesco BBI, que possuem recomendação neutra para os papéis.

Marcel Campos, analista da XP, que tem o banco estatal como top pick do setor bancário, aponta que o fato da instituição ser estatal sempre é algo colocado no radar por ser controlada pelo estado e que isso fica agravado em momentos de crise. “Mas o que nós vimos até então é diferente: o banco tem originado pouco crédito e parece estar fazendo sua gestão de risco com responsabilidade”, avalia.

Com todo esse cenário no radar, a avaliação é de que as instituições financeiras têm respondido de forma robusta à crise, com destaque para o Itaú (que teve a melhor resposta) e o Bradesco em meio às fortes provisões, sendo que o último será acompanhado de forma mais cautelosa pelos investidores em meio à alta inesperada da inadimplência.

Enquanto isso, o BB pode se destacar por ter uma carteira de crédito menos suscetível à crise, em um cenário em que todos os bancos viram ampliação das suas carteiras com empresas em busca de liquidez no ambiente de crise. Já no caso do Santander Brasil, o resultado foi considerado bom, mas a mensagem passada ao não fazer provisões consideráveis não foi positiva.

De qualquer forma, o balanço dos resultados das grandes instituições já com os primeiros impactos do coronavírus pode ser considerado positivo, com a ponderação de que mais provisões para as perdas devem estar por vir e que o segundo trimestre será o mais impactado.

Enquanto XP e Itaú BBA destacam BB como um ativo barato, o Morgan Stanley reitera sua recomendação com “alta convicção” no Itaú. O banco americano destaca ainda que, em conversa recente com investidores em mercados emergentes, alguns deles apontaram algumas oportunidades em grandes bancos, com Itaú também sendo mencionado algumas vezes.

Porém, o sentimento no geral é misto. Há quem veja que os valuations estão atrativos, mas há a preocupação de que os bancos possam ser armadilhas de valor devido ao risco regulatório, maior concorrência, taxas de juros mais baixas e alta inadimplência. Já os mais otimistas apontam que a rentabilidade dos bancos pode se recuperar fortemente em 2021, com as grandes provisões excedentes já existentes no balanço, além de destacarem a melhor eficiência de custos e os spreads (diferença entre o que as instituições pagam para captar dinheiro e o que cobram quando o emprestam) mais altos.

De acordo com a compilação feita pela Bloomberg com analistas que cobrem o setor, a visão geral é positiva, com a maior parte das casas de análise reforçando recomendação de compra para as ações das quatro instituições, como pode ser observado abaixo. A visão para o setor bancário segue sendo positiva – porém, a forma de reação à crise e o ritmo de recuperação no pós-pandemia serão determinantes para entender quais companhias devem se destacar. O resultados do primeiro trimestre já trouxeram os primeiros sinais de quem pode ganhar mais força em meio à crise.

Confira todas as recomendações de casas de análise para cada uma das ações de bancos segundo dados da Bloomberg

Empresa Ticker Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda
Banco do Brasil BBAS3 16 4 0
Bradesco BBDC4 19 1 0
Itaú Unibanco ITUB4 14 6 0
Santander SANB11 10 8 1

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.