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SÃO PAULO – Os quatro cavaleiros que trazem consigo o Apocalipse para o setor agropecuário são: pragas, safras ruins, protecionismo e recessão.
Por um excesso de má sorte, o mundo enfrenta todos eles simultaneamente em 2019, mas como a crise de uns é a oportunidade para outros, a equipe de análise do Itaú BBA fez um relatório explicando o que o investidor deve ter na carteira para sobreviver a mais este fim do mundo.
Em primeiro lugar, é preciso explicar quem são os cavaleiros do Apocalipse do momento. A praga à qual o research se refere é a peste suína africana, que atingiu de maneira dramática a China, dizimando 25% da população mundial de porcos.
A safra ruim, por sua vez, é nos Estados Unidos, que tem sua pior colheita em sete anos. O protecionismo, obviamente se refere à guerra comercial entre Estados Unidos e China, e a recessão é um risco de desaceleração econômica generalizada que fica cada vez mais forte no cenário global, preocupando bancos centrais.
“Como tomar decisões quando estamos de frente a eventos que ocorrem uma vez a cada geração?”, questionam os analistas Antonio Barreto, Gustavo Troyano e Renan Moura, do Itaú BBA.
Para eles, é preciso levar as incertezas para níveis administráveis, com uma análise detalhada e profunda da conjuntura, que os leva a ver um cenário positivo para as empresas brasileiras exportadoras de proteína animal.
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As exportações de carne do Brasil e dos EUA estão começando a crescer superando expectativas. A China está importando 41% a mais por ser um país muito impactado com a peste suína, porém boa parte das compras que o gigante asiático vem fazendo são de países que não conseguem aumentar as exportações no segundo semestre deste ano, de acordo com o relatório.
Outro ponto importante, as importações de aves pela China, um substituto da carne de porco, ainda não começaram. “A China precisa importar de 29% a 330% mais de carne de aves do que a taxa atual”, avalia o Itaú.
Além disso, as importações mensais de suínos pelos chineses subiram 61% em maio, porém, a taxa de compras deve aumentar ainda de 28% a 87%. “Canadá é o destaque, mas os EUA apertaram o passo em maio, apesar das tarifas de 62%, e o Brasil precisa contribuir mais.”
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Nos EUA, houve revisão para baixo nas projeções para a safra de milho, o que deve levar a commodity a ter um aumento de 15% a 30% no preço. Ao mesmo tempo, o preço do grão de soja cairá de 10% a 15% devido ao excesso dos estoques.
Diante desse cenário, os players brasileiros no mercado de proteína animal são os vencedores, pois terão que suprir a demanda chinesa. Eles devem ganhar fatia de mercado contra os fazendeiros e atingir um maior Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, na sigla em inglês) por tonelada.
Tábuas de salvação
A top pick apontada pelo Itaú BBA para ganhar esse cenário é a JBS (JBSS3) que, apesar de não ter um posicionamento tão bom no mercado de carnes quanto a BRF (BRFS3) para se beneficiar dos impactos da gripe suína africana, tem um fluxo de caixa livre ao acionista capaz de pagar mais de 50% da sua dívida.
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O preço-alvo para as ações da JBS foi elevado para R$ 32,00, de R$ 15,00 anteriormente. Na segunda-feira (22), os papéis do frigorífico fecharam o pregão cotados a R$ 24,85, ou seja, levando a um potencial de valorização de cerca de 29% em relação ao último fechamento.
Por outro lado, apesar de esperarem um desempenho mais fraco para as ações da BRF, os analistas do Itaú BBA elevaram a recomendação dos papéis para outperform (performance acima da média do mercado) pela primeira vez em 4 anos e reajustaram o preço-alvo de R$ 23,00 para R$ 37,00. No último pregão, as ações do frigorífico fecharam em R$ 34,55.
“Há muito vemos o turnaround da BRF como uma estrada longa e tempestuosa depois da última gestão. A empresa tem a melhor combinação entre notícias e resultados após o surto de gripe suína africana”, comentam.
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A Minerva (BEEF3), também está na corrida. Para a companhia, o Itaú BBA mantém recomendação outperform e preço-alvo em R$ 11,00 (contra R$ 8,56 atuais).
“Nós acreditamos que a Minerva irá pagar 30% da sua dívida líquida no ciclo de 2019 a 2021 e se beneficiará mais que os concorrentes da emissão de dívida barata no mercado brasileiro, com baixas taxas de juros e melhorando seu perfil de risco ao reduzir a exposição a dólar”, destaca o research.
Marfrig (MRFG3), no entanto, corre por fora. O Itaú BBA mantém recomendação market perform (desempenho dentro da média do mercado) e preço-alvo de R$ 7,00 para a ação da companhia. O preço de fechamento ontem foi de R$ 6,36.
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O grande problema da empresa é a linha do resultado que fala sobre “outros resultados financeiros”. “A oportunidade trazida pela gripe suína e um ciclo econômico melhor que o antecipado nos EUA são completamente ofuscados pela queima de fluxo de caixa livre ao acionista nos últimos 12 meses.”
Na hora de escoar essa produção de carne que a China demanda, a operadora de ferrovias Rumo (RAIL3) se beneficia, e isso deve se refletir no valor de suas ações na Bolsa.
Fora isso, a companhia ainda vê uma melhora expressiva na sua rentabilidade com a Selic mais baixa no longo prazo (o Itaú BBA espera uma taxa básica de juros em 5% ao ano).
“O consumo chinês de feijão de soja cairá nos próximos anos, mas o aumento da formalização da produção chinesa de porcos significará um maior consumo da commodity no futuro”, explica.
Já quem pode esperar muito sofrimento no cenário que se desenha é a SLC Agrícola (SLCE3), para quem a equipe de analistas mantém recomendação underperform (abaixo da média do desempenho do mercado). O preço-alvo foi revisado para baixo de R$ 30,00 para R$ 18,00 pelo Itaú BBA. Ontem, os papéis fecharam em R$ 17,04.
Apesar de se beneficiar da gripe suína africana no longo prazo, a SLC terá dois anos muito difíceis pela frente por conta da cotação do grão de soja. “A deterioração nos lucros devido a preços mais baixos do algodão e crescimento econômico global mais lento deveria ter um impacto maior na SLC.”
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