IRB: quais as recomendações de analistas para as ações, após polêmicas com balanço e Buffett?

Nesta quinta-feira, nove casas recomendavam compra do papel, quatro, a manutenção, e duas, a venda; três tinham IRB "em revisão"
Warren Buffett
Warren Buffett

SÃO PAULO – Em meio ao imbróglio envolvendo a resseguradora IRB (IRBR3), que resultou nas renúncias do presidente e do CFO da empresa na quarta-feira (4), analistas começam a alterar suas recomendações para o papel, seja recomendando sua venda ou colocando a tese “em revisão”.

A tensão inicial gerada no mercado pelos questionamentos das práticas contábeis da empresa pela gestora de recursos Squadra se somou mais recentemente à contestação de que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, teria papéis do IRB.

Após reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, a informação de que a Berkshire teria aportado capital na companhia chegou a ser confirmada por executivos da resseguradora em conferência com analistas na última segunda-feira (2), mas foi desmentida pela empresa americana um dia depois. As ações voltaram a desabar, em meio à desconfiança de investidores com relação à governança corporativa do IRB.

Entenda o caso completo aqui.

Ontem, as ações da resseguradora caíram caíram 32%, a R$ 19,05, com uma perda de R$ 8,37 bilhões em valor de mercado. Nesta quinta-feira (5), as quedas continuaram, desta vez de 16,2%, para R$ 15,97. No ano, o papel acumula desvalorização de 59%.

Diante de tantas incertezas em torno da companhia e de preços mais baixos, como analistas de mercado estão se posicionando?

Enquanto alguns seguem otimistas com o ativo, enxergando a baixa das ações como uma oportunidade de entrada, outros veem um horizonte incerto e passam a questionar suas posições, chegando até a recomendar venda para o papel.

Dados da Bloomberg mostram que, nesta quinta-feira, nove casas recomendavam compra (Ativa Investimentos, Banco do Brasil, Brasil Plural, Eleven Financial, Itaú BBA, Morgan Stanley, Planner Corretora, Santander e William O’Neil+Co); quatro tinham indicação de manutenção (Bradesco BBI, BTG Pactual, Credit Suisse e JPMorgan), enquanto Safra estava com a ação em revisão. Nenhuma casa recomendava venda para o ativo. 

Além dessas, o InfoMoney apurou que mais duas instituições financeiras estão com a avaliação sobre o IRB em revisão (Bank of America e XP), enquanto Guide e Rico recomendam a venda dos papéis. 

O InfoMoney conversou com analistas de bancos, corretoras e casas de análise para entender suas teses de investimento e recomendações. Confira:

Mentiu, saiu

No grupo de instituições que ficaram mais pessimistas com as ações do IRB, a Guide Investimentos retirou, na quarta-feira, os papéis das carteiras recomendadas de ações e dividendos. Segundo os analistas da casa, apesar de resultados robustos no quarto trimestre de 2019 e de um desconto no patamar de preço do ativo, o fato de a empresa ter divulgado informações falsas justifica a venda dos papéis.

“Mantemos nossa opinião de que a empresa vem apresentando fortes resultados e que operacionalmente deve se manter como grande líder no segmento. Entretanto, a relevante falta de confiança do mercado em torno do management da empresa nos leva a tomar a decisão de retirar o ativo de nossas carteiras”, escreveu, em comunicado por e-mail, o time de análise.

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Na Rico, a resposta não foi diferente: “A empresa mentiu e perdeu a confiança do mercado, então saiu da carteira.”

Matheus Soares, analista da corretora, afirma que a mudança na diretoria pode ser o começo de uma reestruturação, mas que ainda é cedo para afirmar os próximos passos. Agora, o momento é de tentar entender como a nova gestão irá atuar e agir diante desta turbulência, diz.

Soares, contudo, ressalta que seguirá acompanhando os acontecimentos e assinala que a empresa poderá voltar a integrar a carteira recomendada “A companhia possui bons fundamentos e agora está bem barata. Se acharmos que faz sentido, ela pode voltar para a carteira, mas, por enquanto, preferimos ficar de fora.”

Otimistas inveterados?

Otimistas com os fundamentos da companhia, a avaliação de instituições financeiras como Morgan Stanley e Eleven Financial é de que as quedas de preços recentes deixaram a relação entre risco e retorno mais interessante.

Para a equipe do Morgan Stanley, se, de fato, as demonstrações financeiras publicadas forem reflexos verdadeiros do poder de lucro da companhia, há uma oportunidade significativa de captura de valor para os investidores mais pacientes.

A casa não alterou sua recomendação, que segue em overweight (exposição acima da média do mercado), com preço-alvo de R$ 49 – o que implicaria em um potencial de alta de 206,8% em relação ao fechamento desta quinta-feira.

A Eleven cortou o preço-alvo para as ações de R$ 54 para R$ 38 para o fim deste ano, o que implica valorização de 138% em relação à cotação atual, mas segue com recomendação de compra. Na visão da casa de análise, os números divulgados foram assinados por auditores e conselheiros e, portanto, são consideradas informações de “fontes fidedignas”. Além disso, reforça que a projeção divulgada prevê a continuidade do ritmo de crescimento da companhia.

Na avaliação de Alexandre Marques, analista da Elite Investimentos, a forte queda de preços na quarta-feira é consequência de um momento de pânico. Os fundamentos da empresa, bem como o fato de ter como acionistas principais o Bradesco Seguros e o Itaú Unibanco, justificam a permanência do ativo na carteira. O papel faz parte da seleção recomendada pela corretora desde setembro de 2017.

Apesar do otimismo, Marques afirma que ficará de olho nas providências a serem adotadas pela empresa para retomar a confiança dos investidores e destaca que a mudança de diretoria, ainda que positiva, não sustenta sozinha a manutenção do papel na carteira. “As próximas semanas serão essenciais para definirmos se a ação permanecerá na carteira ou não.”

Nem venda, nem compra

Com uma nova diretoria e dúvidas ainda pendentes sobre dados da resseguradora, outras instituições financeiras têm colocado a recomendação para o papel “em revisão”. É o caso do Bank of America, do Citi e do Safra.

Diante de um horizonte mais incerto pela frente, analistas do Safra pedem, em nota a clientes, mais tempo para analisar o cenário para a companhia e destacam que estão revisando as projeções para a ação.

Enquanto isso, a equipe do Citi reduziu a recomendação para o papel de “compra” para “neutra”, cortando o preço-alvo em mais de 53%, de R$ 38 para R$ 18 para dezembro deste ano, potencial de alta de 12,7% em relação ao preço atual.

“Nossa tese de investimento não é mais válida. As recentes explicações da administração da empresa para a expansão do retorno sobre o patrimônio (ROE) precisam ser melhor investigadas.”

  • Felipe Salomão, analista do Citi, em relatório

O BofA chegou a reiterar a recomendação de compra para os papéis na segunda-feira, elevando o preço-alvo de R$ 41 para R$ 44. Na quarta-feira, entretanto, o banco colocou os papéis “em revisão”.

Na XP, a opção por colocar IRB sob “revisão” partiu em fevereiro, após a divulgação das cartas pela Squadra. Com a mudança na diretoria, Marcel Campos, analista da XP, afirma que o impacto é grande, principalmente quando considerado que ainda não há um novo presidente nem da companhia nem do Conselho. O anúncio poderia, segundo ele, dar melhor percepção ao mercado sobre como serão as novas práticas do negócio.

“Uma nova administração sempre pode mudar os rumos de uma companhia. Porém, a perda de um presidente, diretor financeiro e o presidente do conselho em menos de uma semana é uma mudança bastante drástica para o mercado assimilar”, diz.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.