IRB (IRBR3) projeta “virada de chave” em 2023, com redução de sinistralidade e foco no Brasil; ação cai 1% após subir forte

Por outro lado, analistas seguem cautelosos com ações da companhia, ainda que vejam progressos nos resultados

Felipe Alves

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Após um 2022 difícil, com impactos de sinistralidade da Covid-19 e dos prejuízos climáticos ao agronegócio, o IRB (IRBR3) comemora a volta ao breakeven (equilíbrio financeiro entre receitas e despesas) com os resultados do primeiro trimestre de 2023. Para Marcos Falcão, diretor presidente da resseguradora, 2023 vai ser o ano da virada e em 2024 “vamos começar a ver a companhia do jeito que a gente quer”.

Após o balanço, as ações de IRBR3 tiveram uma terça-feira (16) volátil. Os ativos chegaram a subir 5,69%, a R$ 38,05, na máxima do dia, mas fecharam em queda de 1,11%, a R$ 35,60.

Em teleconferência de resultados nesta manhã, Falcão destacou que o breakeven veio mesmo com o acordo feito nos EUA com o United States Justice Department (DOJ), em que o IRB irá pagar US$ 5 milhões para pôr fim às acusações apresentadas pela SEC. Segundo Daniel Castillo, Vice-Presidente de Subscrição, o acordo “elimina incertezas que existem desde 2020” e “acarretará em melhorias em controles internos de conformidade” da companhia.

Destaques no trimestre para as renovações de contratos locais (que subiu para 88%), a reorganização da área de subscrição e a renovação de contratos do agro. Assim como nos trimestres anteriores, a diretoria do IRB reforçou o objetivo de reduzir cada vez mais a participação internacional e voltar os negócios para o Brasil e a América Latina.

Segundo Daniel Castillo, Vice-Presidente de Subscrição do IRB, o foco em carteira de maior qualidade e cada vez menos exposta ao internacional é o foco principal da empresa. A redução da participação internacional caiu de 46% (no 1T21) para 36,4% (1T23), assim como os prêmios de resseguros no exterior (caíram de R$ 764 milhões no 1T22 para R$ 576 milhões no 1T23). “Esses negócios não desejamos manter, pois entendemos que não estávamos sendo adequadamente remunerados”, pontua.

A companhia descarta novo aumento de capital e ainda trabalha em cima do follow on de R$ 1,2 bilhão captados em 2022.

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Se acordo com Falcão, a expectativa é que as ações em curso em relação à subscrição devem refletir números melhores nos próximos trimestres, ainda que o IRB tenha atividade volátil e com alguma sazonalidade. “Mas continuamos atentos às volatilidades das nossas atividades”, destacou o CEO.

Índice de sinistralidade: tendência de melhora

O índice de sinistralidade do IRB (IRBR3) no 1T23 (de 77,3%) foi um dos menores desde o início de 2020 e, segundo Wilson Toneto, vice presidente técnico e de operações, a expectativa é que o índice deva ter uma melhora gradativa nos próximos trimestres.

Toneto destacou que é mais importante focar na tendência do índice do que efetivamente o resultado do trimestre. Mas relembrou que os últimos trimestres de 2022 foram impactados pela catástrofe do agro no Brasil – o índice de sinistralidade chegou a 124% no 2T22. Na comparação de 2022 com 2023, há estabilidade de sinistralidade, na ordem de R$ 933 milhões. “Não houve efeitos relevantes no agro e poucos sinistros de Covid-19 neste trimestre”, afirma.

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Expectativa sobre índices regulatórios

Em 2022, o IRB foi desenquadrado do padrão regulatório por conta da Suficiência de Patrimônio Líquido e da Cobertura de Provisões Técnicas. No fim do ano passado, a empresa conseguiu se reenquadrar e não voltou a ser desenquadrada.

“As projeções indicam que os índices regulatórios devem permanecer dentro do padrão”, afirma Thaís Peters, Diretora de Controles Internos, Riscos e Conformidade. Ela destacou que tanto o índice de solvência total da companhia (105%) quanto cobertura de provisões técnicas (R$ 238,8 milhões) continuam dentro das regras.

Otimismo com renegociação de debêntures

O IRB possui cerca de R$ 450 milhões em debêntures que vencem em outubro deste ano, o que tem gerado preocupação em alguns investidores, devido aos recentes problemas financeiros da companhia.

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Segundo Marcos Falcão, a diretoria está otimista com discussões que estão acontecendo de refinanciamento das debêntures. Segundo ele, a empresa “está confortável com as alternativas existentes” e deve apresentar uma solução “em breve” aos acionistas sobre as debêntures.

O que os analistas acharam do balanço?

O JPMorgan apontou que, sem contabilizar o acordo de US$ 5 milhões do IRB com o DoJ, a empresa reportou lucro de R$ 34 milhões, praticamente em linha com os R$ 29 milhões esperados pelo banco.

Já a receita caiu 21% anualmente, o que os analistas não veem como necessariamente ruim, pois pode ser indicativo de empresa agora priorizando contratos lucrativos às custas de volume. O índice de sinistralidade mostrou alguma melhora para 77% contra 81% há um ano e 94% no 4T22. Especificamente, o rural esteve entre os principais destaques, com a sinistralidade em queda para 62%, versus 112% no 1T22.

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“No geral, vemos os resultados melhorando, mas já antecipados pelos dados mensais divulgados à Susep [agência reguladora do setor]”, apontam os analistas. Olhando para o futuro, esperam um 2T23 mais desafiador no segmento rural, enquanto veem a ação cara após a disparada recente, o que motivou o rebaixamento dos ativos IRBR3 para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) pelo JPMorgan na semana passada.

A Genial, por sua vez, destacou que o lucro de R$ 8,6 milhões ficou abaixo das suas estimativas. Os analistas apontam que o resultado do trimestre poderia ter sido melhor não fosse o impacto do acordo nos EUA. “No entanto, nossas projeções já contemplavam essa despesa que foi anunciada em abril”, avalia.

O pequeno lucro do período foi assistido principalmente pelo resultado financeiro, já que o resultado operacional do IRB continuou negativo, com um índice combinado acima de 100%, apontam os analistas. Eles ainda destacam que a resseguradora consumiu R$ 411 milhões de caixa no trimestre. A forte queima de caixa foi devido o alto volume de pagamentos de sinistros e retrocessão, exibindo um retrocesso em relação ao 4T22 que apresentou um alívio, com geração de R$ 220 milhões de caixa.

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“Continuamos com uma visão mais pessimista para a companhia, que não tem conseguido reverter o prejuízo operacional e estancar o forte consumo de caixa. Dessa forma, reiteramos nossa recomendação de venda, com preço alvo de R$ 28,20”, apontam.