IRB (IRBR3): entre oferta de ações prevendo forte desconto e salto de “vendidos”, o que esperar para a companhia?

Ações da companhia tiveram alta após anúncio de oferta de ações de até R$ 1,2 bilhão amplamente esperado, mas analistas seguem cautelosos

Lara Rizério

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O anúncio da noite da última quarta-feira (24) marcou mais um capítulo da saga da resseguradora IRB (IRBR3) em busca de sua recuperação. Confirmando as especulações de mercado das últimas semanas e os estudos confirmados pela própria companhia, ela informou que irá fazer mais um aumento de capital, desta vez de um valor de até R$ 1,2 bilhão, para se reenquadrar aos indicadores regulatórios estabelecidos pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Conforme destacado no resultado do segundo trimestre, o IRB registrou insuficiência do patrimônio líquido ajustado em relação ao capital mínimo requerido no montante de R$ 614 milhões. Também houve não enquadramento da cobertura de provisões técnicas e liquidez regulatórias de R$ 730 milhões.

A reação das ações, a princípio, foi positiva, uma vez que o movimento já era amplamente esperado – a especulação sobre a operação ganhou força desde que a companhia divulgou seus resultados, em 15 de agosto de 2022 com um prejuízo de R$ 373,3 milhões. Os papéis subiram 2,49%, a R$ 2,06, chegando a uma alta máxima de R$ 7,46% no intraday, a R$ 2,16. Contudo a expectativa é que o follow-on possa ter um desconto elevado e causar diluição aos acionistas, enquanto analistas avaliam que ele pode não ser a solução para os problemas da companhia.

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A companhia lançou uma oferta primária com esforços restritos de, inicialmente, 597 milhões de ações, com base no preço de fechamento dos ativos da véspera, de R$ 2,01. Contudo, o montante pode ser elevado em até 200%, quase 1,2 bilhão de ações, prevendo assim a possibilidade de um desconto significativo para os ativos. A definição do preço por ação da operação ocorrerá em 1 de setembro.

“A sinalização é de que eles estão esperando um desconto relativamente alto para conseguir captar esses recursos, o que faz sentido já que a companhia continua queimando caixa. Mesmo com o resultado financeiro mais favorável e mais robusto [do segundo trimestre], o operacional ainda está muito ruim, abaixo do que esperávamos para este ano”, avalia Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Financial.

A companhia destacou em teleconferência de resultados que o segundo trimestre foi “drasticamente impactado” pela seca histórica que afetou a região Sul, levando a um índice de sinistralidade que foi o principal detrator do prejuízo no trimestre, acima de 100%. “O impacto não ocorreu por conta de contratos antigos e sim de contratos novos, rurais, trazendo um sinal amarelo na nossa avaliação sobre a qualidade da originação deles”, ressalta Daltozo.

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Analistas do BTG Pactual destacaram, em relatório, que, se o IRB acabar emitindo o número máximo de ações permitido, para chegar a R$ 1,2 bilhão, “estaríamos falando de um preço de ação de R$ 0,66”.

Eles afirmaram ainda gostar da marca, de equipe e dos contratos do IRB, mas fizeram a ponderação de que a BB Seguridade (BBSE3), um de seus principais clientes, está reduzindo sua exposição, aumentando ainda mais o desafio da empresa de continuar elevando prêmios para melhorar os resultados futuros.

A Genial Investimentos acrescentou que, “potencialmente, o desconto exigido deve ser elevado, podendo diluir ainda mais o (acionista) minoritário”. Para o Safra, a operação pode causar uma diluição significativa para os acionistas que não participam da oferta, que pode ficar entre 32% e 59%.

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Contudo, consideram que a demanda pode não ser tão baixa, pois alguns investidores utilizariam a oferta para cobrir posições vendidas.

Esta é uma das apostas que está no radar para o sucesso da oferta de ações da companhia, em um momento em que a companhia viu uma disparada no aluguel de suas ações desde que as especulações sobre um novo follow-on entraram no radar.

Na última quarta-feira, as ações do IRB estiveram muito perto do limite de posições alugadas, de 25% do free float (ações em circulação do mercado), com muita demanda de investidores para “shortear” (tomar posições vendidas, apostando na queda) o papel.

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Um investidor pode apostar na queda do preço de um ativo alugando o papel de alguém comprado e, na sequência, vendendo-o. Porém, será necessário fazer a recompra para que no futuro haja a devolução ao proprietário original. Nesta operação, o “vendido” espera  que o preço do ativo caia para que possam ser recomprados por um valor menor futuramente.

O interesse por essa operação em IRB teve forte elevação. Assim, a taxa cobrada para empréstimo das ações da resseguradora disparou em cerca de um mês, de 20% para 45%.

Após o fechamento do mercado ontem, a B3 anunciou ter elevado de 25% para 30% do free float o limite para o aluguel de ações, enquanto cortou de 35% para 30% o limite para opções com papéis da companhia. No comunicado, a B3 informou ter tomado a medida para atender ao aumento da demanda por operações em um mercado específico. Segundo a Bolsa, se o novo limite for atingido vai interromper o registro de novos contratos e determinar o encerramento de operações para que o limite inicial volte a ser respeitado.

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Com o custo do aluguel disparando e com a oferta podendo ir a preços baixos, os “shorts” (vendidos) poderiam cobrir a sua posição com a aquisição no follow-on.

Neste sentido, Daltozo, da Eleven, destaca que um ponto que chamou atenção neste comunicado em relação à oferta anterior, de 2020, foi de que os acionistas relevantes Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) não sinalizaram explicitamente desta vez que iriam acompanhar o aumento de capital no montante relativos a suas respectivas participações, de 15,8% e 11,5%.

Contudo, avalia, eles provavelmente seguirão as suas participações e vão fazer o aporte de recursos novamente. De qualquer forma, os dois acionistas devem subscrever no limite de suas posições, o que deve levar a um aporte de menos de R$ 400 milhões. Assim, serão necessários mais recursos para que a operação seja bem sucedida, que poderiam vir dos acionistas com posição vendida.

Cabe ressaltar que, desde dezembro do ano passado, os fundos brasileiros de ações e multimercados estão mais “vendidos” do que “comprados” nos papéis do IRB, conforme informações da Economatica. Os dados mais recentes são abril deste ano, já que os gestores têm até 90 dias para informar a composição de suas carteiras à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Nos 12 meses até abril, o saldo entre as posições “long” (ações compradas) e “short” (ações alugadas) chegou a ser positivo em R$ 139,6 milhões em maio de 2021, mas diminuiu progressivamente até novembro. Em dezembro de 2021, os “vendidos” passaram a predominar e o saldo ficou negativo em R$ 27,3 milhões. O número aumentou mês após mês, até alcançar -R$ 169 milhões em abril.

Na semana passada, a gestora Squadra – responsável por revelar as fraudes contábeis do IRB em fevereiro de 2020, que culminaram com uma queda das ações na Bolsa de mais de 90% desde então e diversas trocas na gestão -, destacou em carta que, no primeiro semestre de 2022 continuou a deter uma posição short na empresa. Contudo, em um tamanho muito menor devido à forte queda de valor de mercado.

Futuro da companhia

Em um cenário de operacional ainda bastante afetado (e que sofreu um forte revés com a seca no trimestre passado) e com os constantes aumentos de capital, a visão dos analistas de mercado ainda é de bastante ceticismo sobre a companhia, com recomendações para os investidores seguirem cautelosos em IRBR3.

“Uma questão é de se realmente esses valores de R$ 1,2 bilhão vão resolver o problema da companhia, uma vez que o operacional ainda não mostrou sinais de melhora, a sinistralidade segue elevada para os padrões da própria companhia, com índice combinado acima de 100%. O resultado operacional ainda é deficitário e provocando os prejuízos, mesmo com a tendência mais favorável do resultado financeiro por conta da alta da Selic”, avalia Daltozo. Atualmente, a Eleven tem a recomendação do IRB em revisão.

O BTG Pactual também destaca estar cauteloso com o ativo. “É certo que esperávamos que o IRB estivesse em uma situação mais confortável agora e sinalizamos que nossa capacidade de prever resultados até agora se mostrou muito baixa”, apontou a equipe de análise da instituição.

Já a equipe da Genial destacou ser difícil saber o futuro do IRB, que pode até abrir portas para um fechamento de capital ou mudança de controle. “Em meio a ambiente conturbado e incerto, reiteramos a recomendação de vender”; o preço-alvo da casa para os ativos é de R$ 2,10 (alta de 4,5% até o fechamento da véspera).

O Safra reduziu o preço-alvo da ação após o anúncio do follow-on de R$ 3,10 para R$ 2,40 (upside de 19,40%), mantendo recomendação neutra, apontando que não descartam outro ajuste no preço-alvo a depender do resultado da oferta de ações.

“Em nossa visão, as ações podem continuar sob pressão no curto prazo, refletindo seu momento negativo de resultados, com uma pressão adicional advinda do aumento de capital”, avalia.

Na véspera, o Citi já havia cortado o preço-alvo para as ações IRBR3 de R$ 2,40 para R$ 1,60 (queda de 20,40% frente o fechamento de quarta), reiterando recomendação de venda, destacando que o impacto dos contratos em revisão devem seguir por algum tempo, prejudicando a visão de longo prazo da casa para a rentabilidade da resseguradora.

De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de sete casas que cobrem o papel, quatro recomendam venda e três manutenção, com preço-alvo médio de R$ 2,96 (ainda um considerável potencial de alta de 47% frente o fechamento da véspera). O futuro de IRB ainda segue incerto.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.