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Investidor estrangeiro da Bolsa se assusta com fiscal, mas paga para ver “sem outras opções”

Ibovespa está mais atraente em relação a pares de mercados emergentes

Rodrigo Petry

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Após quase três semanas de retiradas, o investidor estrangeiro voltou a ser comprador líquido da Bolsa brasileira no acumulado de março – ao menos por enquanto. A sequência desse movimento positivo vai depender, sobretudo, de maiores detalhes sobre o novo arcabouço fiscal, previsto para sair ainda este mês.

Mesmo com todo esse pesar interno, porém, o Brasil segue no radar do estrangeiro, que já aportou mais de R$ 11 bilhões em 2023. Conforme relato do JPMorgan, obtido em reuniões em NY, em termos relativos, a Bolsa brasileira está mais atraente em relação a pares de mercados emergentes.

“A oportunidade existe porque os investidores já se deram bem na China e não querem ficar lá por mais tempo”, descreve o JPMorgan, em relação à percepção de investidores estrangeiros. “Se eu vender uma ação no Brasil, não sei onde comprar outra”, acrescentou.

No entanto, os próximos passos serão essenciais para saber se o movimento de retorno é pontual, ou se haverá uma nova debandada de recursos da Bolsa. “O pacote fiscal será o referendo do Brasil”, relatou um investidor.

“Se o Brasil não mostrar alguma melhora na política, pode-se tornar muito difícil investir em ações (no Brasil)”, completou.

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Ibovespa de meados de fevereiro até hoje

Investidor estrangeiro na B3
Gráfico da Bolsa mostra forte queda do Ibovespa a partir de meados de fevereiro, coincidindo com saída de estrangeiros. Fonte: Clear Trader

Volta ao positivo

Em fevereiro, na B3, o gringo retirou cerca de R$ 1,6 bilhão, no pior resultado desde o primeiro semestre de 2022. O impacto disso, como observado no gráfico acima, foi o de desvalorização da Bolsa, que caiu 7,5% mês passado, indo aos 104,9 mil pontos.

Nas últimas sessões, porém, o fluxo estrangeiro voltou a ficar positivo na B3, segundo dados da Bolsa. Assim, em março, até o último dia 6, o saldo virou para entradas líquidas de R$ 189 milhões. Enquanto isso, no acumulado de 2023, o gringo já aporta mais de R$ 11 bilhões.

A principal contrapartida é o investidor institucional que sacou mais de R$ 11,2 bilhões da Bolsa neste ano, sendo R$ 463 milhões apenas nos primeiros dias de março.

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Assim como os estrangeiros, destaque positivo para o investidor pessoa física, que já acumula ingressos líquidos de R$ 969 milhões na Bolsa em 2023 e de R$ 91,5 milhões em março, até dia 6.

Veja abaixo o desempenho do fluxo de recursos à B3

Fonte: B3. Elaboração: Credit Suisse

Preocupações fiscais

Segundo a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a Bolsa foi sustentada em 2022 e no início de 2023 pela forte entrada capital estrangeiro.

Para ela, essa recente saída (em fevereiro) é atribuída às preocupações com a política econômica, que podem levar à uma maior deterioração das contas públicas.

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Em relação à sequência do fluxo gringo ao Brasil, ela é reticente.

“É difícil saber, se isso é pontual ou vai se manter”, disse. “Acho que precisamos ter uma melhora na perspectiva (fiscal) daqui para frente”, acrescentou.

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“A questão fiscal é a que mais impacta, pois os investidores se sentem inseguros quanto a isso”, afirmou Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas.

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Conforme ele, a desaceleração recente do fluxo gringo na B3 é resultado, sobretudo, de problemas internos, mas também do desconforto do mercado – e o consequente impacto nas curvas de juros (DIs) – com a pressão do governo sobre o BC, em relação à Selic.

Saldo acumulado de recursos estrangeiros

Fonte: B3. Elaboração: Credit Suisse

Falta de tendência da Bolsa

Na avaliação de Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, ainda é precipitado falar de reversão de fluxo gringo para o Ibovespa.

“O Ibovespa começa a encontrar pontos de suporte, baratos por fundamentos, a mercê de ruídos políticos e do viés internacional bastante incerto ainda”, disse.

Para Cozzolino, os movimentos erráticos, seja de entrada maciça em janeiro ou de debandada em fevereiro, mostram que falta uma tendência definida para a Bolsa.

“Há uma névoa (sobre o mercado), em que ninguém consegue enxergar dois metros à frente. Quando se sai um pouquinho, anda dois metros, volta ao nevoeiro, e se reduz a marcha”, comparou.

Saldo de fluxo gringo na Bolsa

Bolsa brasileira vence por W.O.

Já Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, vai mais adiante. Ele ressalta que, desde as eleições, com a vitória de Lula, se vê um fluxo crescente, principalmente pela visão de que o Brasil está bem posicionado, dado o contexto global.

“Entre os pares emergentes, a gente acaba sendo o melhor, não porque o Brasil está bom, mas porque outros países estão piores”, disse.

Komura citou como exemplos os casos da Rússia, que está em guerra com Ucrânia, e da China, cada vez mais centralizadora e em constantes atritos com EUA. Ambos, disputam recursos com o Brasil.

Ademais, acrescentou ele, fora o México, que também se antecipou ao ciclo de aperto monetário (e tem situação semelhante ao Brasil, mas menos endividado), outros países como Chile, Colômbia e África do Sul, não têm demonstrado fundamentos suficientes para virar alternativa à B3.

Rodrigo Petry

Coordenador de Projetos Editoriais. Atuou como editor de mercados e investimentos no InfoMoney, liderando o Ao Vivo da Bolsa e o IM Trader. Antes, foi editor-chefe do portal euqueroinvestir, repórter do Broadcast (Grupo Estado) e revista Capital Aberto. Também foi Gestor de Relações com a Mídia do ex-Grupo Máquina e assessor parlamentar.