Inflação do Ethereum cai e já é menor do que do Bitcoin duas semanas após Merge, mostram dados

Redução da taxa de inflação do ETH é atribuída à eliminação das recompensas de mineração e à “queima” das taxas de transação, segundo especialistas

CoinDesk

(Kanchanara/Unsplash)
(Kanchanara/Unsplash)

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O Ethereum (ETH) ganhou os holofotes há duas semanas por completar com sucesso sua tão esperada atualização Merge (Fusão, em português), uma mudança histórica que abandonou a mineração a favor de um mecanismo mais ecológico que reduziu drasticamente o consumo de energia da rede – cerca de 99%, segundo algumas estimativas.

Agora, a segunda maior blockchain parece estar provando ser mais atrativa em meio a cenários inflacionários, uma característica que geralmente está mais associada ao maior e mais conhecido rival do Ethereum, o Bitcoin (BTC).

Nos dias seguintes à Fusão, a taxa de emissão líquida anualizada da criptomoeda nativa do Ethereum, o ETH, caiu para uma faixa de 0% a 0,7%, estima Lucas Outumuro, chefe de pesquisa da empresa de análise e dados de criptomoedas IntoTheBlock. Antes da Fusão, a taxa era de cerca de 3,5%.

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A taxa de emissão líquida, também conhecida como taxa de inflação, é basicamente a nova oferta dos tokens no mercado dividida pela oferta já existente. De acordo com o site Ultra Sound Money, a taxa de inflação anualizada do Ethereum está em 0,19%, com cerca de 8.100 ETH adicionados à oferta total desde a atualização Merge.

Em um contexto onde os bancos centrais do mundo todo estão lutando para conter a inflação – diante de trilhões de dólares em impressão de dinheiro e gargalos severos na cadeia de suprimentos –, a taxa de emissão reduzida do Ethereum é vista como capaz de atrair investidores de criptomoedas e de mercados tradicionais.

“O nível de novos tokens que chegam à rede reduziu substancialmente”, escreveu Simon Peters, analista de mercado da trading eToro, em nota na segunda-feira (26).

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O Ethereum não tem um limite de emissão de novos ETH, ao contrário do Bitcoin, cuja rede gerará, no máximo, 21 milhões de unidades, de acordo com regras pré-programadas em seu código. Segundo dados recentes, no entanto, a taxa de inflação anual do Ethereum está caindo pouco a pouco e já seria menor do que a do Bitcoin, que é atualmente de cerca de 1,75%, de acordo com o site Woobull.com.

Inflação e ETH

A queda na taxa de inflação do Ethereum vem de dois fatores: uma redução de novas emissões como resultado da mudança no sistema blockchain e um mecanismo separado conhecido como “EIP 1559”, onde as taxas pagas por transações na rede são “queimadas”, ou eliminadas de circulação.

Antes da Fusão, a emissão de recompensas pagas pela mineração no mecanismo de consenso de prova de trabalho (PoW) do Ethereum era de cerca de 13.000 ETH por dia, de acordo com a Ethereum Foundation.

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Depois dela, sem o modelo de mineração, entrariam as recompensas de staking, que teoricamente seriam de cerca de 1.600 ETH por dia – uma queda de 90% na nova emissão.

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Taxa de emissão de ETH desde atualização Merge, na comparação com a do Bitcoin (Ultra Sound Money)

Normalmente, a quantidade de ETH a ser “queimada” depende da taxa básica ajustada pela lotação dos blocos de dados em um determinado dia. Quando há mais transações, a taxa básica costuma ser mais alta.

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Para que o Ethereum realmente se torne deflacionário na atual taxa de emissão (antes da queima no mercado), a taxa básica de transação teria que ser de pelo menos 15 Gwei (unidade de medida das taxas de ETH), de acordo com Daniel Kostecki, analista sênior de mercado da empresa de investimentos Conotoxia. A taxa de transação era da ordem de 10 Gwei no momento desta publicação, de acordo com o Ultra Sound Money.

A taxa de inflação líquida ainda é “mais alta do que o ETH deflacionário que muitos esperavam”, disse Outumuro, da IntoTheBlock.

Ironicamente, de acordo com Alexandre Lores, diretor de pesquisa de mercado de blockchain da Quantum Economics, futuras atualizações da rede podem reduzir as taxas, o que pode resultar em “uma oferta maior e inflacionária”.

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“No entanto, espero que o crescimento da rede equilibre esse fator a longo prazo”, disse Lores, “e estou otimista com a Ethereum como a principal rede de camada de aplicativos descentralizada do mundo”.

Temores sobre a SEC

Embora elogiada, a transição do Ethereum para o novo sistema de staking trouxe o receio de que a rede possa atrair mais atenção da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (a SEC), já que o ETH, agora emitido em um mecanismo de renda passiva, poderia começar a se assemelhar a valores mobiliários.

Além disso, os benefícios do Merge “ainda podem ser ofuscados pelos temores dos investidores sobre a SEC, que pode finalmente reconhecer a criptomoeda como um título”, disse Kostecki, da Conotoxia. “Isso pode afetar todos os projetos que funcionam com base na tecnologia ETH”.

Mesmo assim, disse Kostecki, os apoiadores do Ethereum, liderados por Vitalik Buterin, provavelmente estão satisfeitos que os primeiros dados estejam mostrando uma taxa menor de aumento na oferta da criptomoeda. “A confiança dos investidores pode estar crescendo.”

“Se o Ethereum se tornar deflacionário, podemos ver muito dinheiro institucional investido na cripto nos próximos dois anos”, disse Maximiliano Stochyk Duarte, chefe de marketing da ChainPort e investidor em criptomoedas desde 2014.

“O BTC ainda será a melhor criptomoeda para armazenar valor sem a grande volatilidade do mercado, mas acho que tanto o ETH quanto o BTC podem jogar juntos se quisermos uma adoção em massa”, acrescentou.

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