Inflação de julho medida pelo IPCA deve vir mais alta com combustíveis, diz analista

Inflação de junho abaixo do esperado animou mercado, mas expectativas seguem desancoradas, enquanto governo tenta cortar gastos

Augusto Diniz

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Conteúdo XP

A surpresa positiva do IPCA de junho foi forte. O mercado esperava 0,30% de variação mensal, e veio 0,21%. Mas no horizonte, as estimativas de inflação seguem longe da meta.

Por outro lado, forças do governo tentam dar uma resposta aos gastos, que podem comprometer a meta fiscal. Mas ainda não há medidas práticas anunciadas.

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Impacto do RS foi ‘devolvido’

Alexandre Maluf, economista da XP, participou nesta quinta-feira (11) do Morning call da XP e destacou no IPCA de junho, divulgado na véspera (10), a queda no item alimentação do índice.

“Em maio veio forte (item alimentação) por conta da tragédia no Rio Grande do Sul e junho já começa a aparecer uma devolução”, disse. “A inflação de alimentação de maio subiu quase 4% e já devolveu 1% de queda em junho”, complementou.

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Para ele, a queda de alimentos deve continuar em julho, mostrando a recomposição da produção agrícola do Rio Grande do Sul. Mas não foi o item alimentação que mais animou o mercado.

“Quando a gente olha para aquelas métricas mais voltadas para a política monetária, que o Banco central presta mais a atenção, a gente viu especialmente serviços recuando na margem na comparação mensal, especialmente os intensivos em mão de obra, que recuaram pelo quarto mês consecutivo”, destacou.

O economista chama a atenção, no entanto, a parte de indústrias do IPCA, que voltou a subir. “A gente esperava isso. Os preços ao produtor voltaram a subir, as commodities em reais voltaram a subir”, comentou. “No geral, foi uma boa leitura da inflação que tivemos em junho”, afirmou.

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Mas política monetária não deve mudar

Mas, segundo Alexandre Maluf, esse quadro não muda com relação à política monetária. Para ele, os desafios adiante são grandes. “Tem que levar em conta que as expectativas de inflação no Boletim Focus seguem desancorando para um horizonte relevante do Banco Central, que são os anos 2025 e 2026”, ressaltou.

Para julho, inclusive, o economista aponta que deve ter uma reaceleração na métrica mensal de inflação. “O IPCA de julho, além dos efeitos dos combustíveis (por conta do aumento anunciado pela Petrobras essa semana da gasolina e do gás), tem a consequência da bandeira tarifária amarela de energia elétrica”, disse.

“O Banco Central deve seguir com seu plano de voo, manter a Selic em 10,5%, que é a estratégia mais condizendo com o cenário em que as expectativas estão acima das metas e incertezas, sobretudo fiscais, ainda são muito fortes”, complementou.

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‘Batalha’ do corte de gastos

Paulo Gama, head de análise política da XP, que também participou do programa Morning Call desta quinta, comentou que segue a “batalha” do Ministério da Fazenda de convencimento interno do governo de medidas para rever despesas obrigatórias.

“Essa batalha parece parcialmente ganha. A gente tem visto nas últimas duas semanas o presidente Lula e outras forças do governo sendo tolerantes, incentivando essa discussão. Mas falta colocar no papel essas medidas e como elas seria implementadas”, comentou.

O analista afirma que o governo tem apostado na revisão de benefícios concedidos indevidamente. “Esse continua sendo o primeiro esforço do governo”, afirma.

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“O fato do governo ter trabalhado nessa direção de rever despesas, ainda que não de maneira estrutural, mas de despesas que estão sendo feitas desnecessariamente ou indevidamente, trouxe algum alívio, pela estimativa que isso pode trazer na pressão do limite de gastos do arcabouço”, concluiu.