Indústria brasileira de mineração tem queda do desempenho no 1º tri, mas espera recuperação

Redução das exportações para China teve forte influência nos resultados. Setor não espera mais desacelerações, apesar de lockdowns no país asiático.

Alexandre Rocha

Minério de ferro (Getty Images)
Minério de ferro (Getty Images)

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A produção, as exportações e o faturamento da indústria brasileira de mineração caíram no primeiro trimestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano passado e em comparação com os três últimos meses de 2021, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

A produção foi de 200 milhões de toneladas de minérios, um recuo de 13% sobre o primeiro trimestre de 2021 e de 29% em comparação com o último. As receitas do setor somaram R$ 56,2 bilhões, quedas de 20% e 31%, respectivamente. As vendas externas renderam US$ 9,4 bilhões, decréscimos de 22,8% e 21,3%. Os volumes exportados também foram menores.

O minério de ferro responde por cerca de 70% da produção e das exportações minerais do Brasil. De acordo com o presidente do Ibram, Raul Jungmann, o desempenho do primeiro trimestre de 2022 foi fortemente impactado pela desaceleração das importações da China, principal destino do produto brasileiro.

Tal redução ocorreu em função dos Jogos Olímpicos de Inverno, que ocorreram em Pequim em fevereiro. A atividade industrial foi reduzida na China no período. “Para melhorar as condições ambientais [do país]”, observou Jungmann.

Além disso, segundo o executivo e ex-ministro, a China tem exercido “maior controle” sobre os preços do minério de ferro, com efeitos no volume de produção e no faturamento do setor.

Ele acrescentou que “aspectos cíclicos” no Brasil também afetaram o desempenho nos três primeiros meses de 2022, como o excesso de chuvas no início do ano, principalmente em Minas Gerais, e paradas para manutenção de unidades produtivas.

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Mais recentemente, um novo surto de Covid-19 na China e o severo lockdown imposto na cidade de Xangai impactaram as exportações ao país.

Nos últimos dias, o preço da tonelada do minério de ferro recuou. Depois de chegar a quase US$ 162 no início de abril, a cotação da tonelada caiu para US$ 152,47 nesta segunda-feira (25). O valor é ainda bastante superior ao registrado no final de 2021.

Recuperação

Mesmo com o recrudescimento da pandemia na China – agora há receio de lockdown em Pequim -, Jungmann avalia que os indicadores da indústria tendem a crescer ao longo do ano.

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De acordo com o diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Ibram, Julio Nery, os fatores que deprimem a demanda chinesa não devem permanecer por muito tempo. Ele avalia que os números do segundo trimestre de 2022 já devem ser melhores do que os do primeiro.

“[A recuperação] não será rápida, mas não há indicação de desaceleração do crescimento chinês”, observou Nery. Ele acrescentou que, pelo contrário, a China tem ampliado o estoque de minério de ferro em seus portos por causa do receio de interrupção de cadeias de fornecimento com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Para Nery, o desempenho do setor este ano deve ter “ligeira recuperação” em comparação com 2021. Ele não acredita em reduções “significativas” no preço do minério. A cotação deve continuar acima de US$ 120 a tonelada.

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Jungmann acrescentou que o Brasil precisa diversificar sua produção de minérios e seus mercados para diminuir a vulnerabilidade da indústria de mineração por aqui.

Terras indígenas

Neste sentido, Jungmann  destacou que a Agência Nacional de Mineração (ANM) tem que ser fortalecida. Ele afirmou que o governo só tem repassado um décimo do valor que deveria ao órgão. “Não é aceitável que a agência não tenha plenas condições de prestar seus serviços”, declarou.

O executivo contou que recentemente a agência não conseguiu responder a uma consulta do Ibram sobre empresas que solicitaram autorização para pesquisa e lavra em terras indígenas.

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Nesta seara, ele criticou o Projeto de Lei 191/2020 do governo federal, que trata da exploração mineral em terras indígenas. De acordo com o executivo, não houve realização de audiências públicas com representantes de povos indígenas e o texto não se preocupa com a questão.

O ex-ministro acrescentou que um projeto de lei sobre o assunto tem que deixar claro que garimpo ilegal é crime, que destrói o meio ambiente e comunidades, “e não pode prosperar”. O Ibram critica também a tramitação do projeto em regime de urgência na Câmara dos Deputados.

Jungmann contou ainda que assumiu o comando da instituição há apenas 45 dias e que pretende ter a sustentabilidade e a segurança como prioridades de sua gestão. Ele anunciou o lançamento entre junho e julho de um aplicativo para dispositivos móveis que permitirá o acompanhamento em tempo real da situação de barragens de mineradoras. É uma ação para tentar evitar tragédias como as que ocorreram em Mariana e Brumadinho, em Minas.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney