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Em um país no qual todo tipo de mercadoria depende de transporte rodoviário para chegar ao consumidor, subir os preços dos combustíveis aumenta os riscos de uma inflação mais elevada e disseminada. Segundo a Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), o diesel é o insumo mais utilizado nas operações de transporte de carga, chegando a compor mais de 40% de todo o custo operacional das empresas que oferecem o serviço.
Desde o último sábado, com o anúncio de mais um reajuste pela Petrobras (PETR3;PETR4), o preço médio de venda do diesel para as distribuidoras passou de R$ 4,91 para R$5,61 por litro, representando um aumento de 14,2%.
“Diferentemente da Petrobras, que é detentora de um monopólio, as empresas de logística não conseguem repassar os aumentos de preço imediatamente, o que pode levar um ou dois meses para acontecer, e a negociação muitas vezes não ocorre na totalidade do aumento”, disse a Abol em nota de posicionamento, após o último ajuste anunciado pela petrolífera.
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Ao InfoMoney, Marcella Cunha, diretora executiva da Abol, explicou que as empresas estão perdendo a capacidade de absorver os aumentos dos preços de combustíveis, pois já não conseguem mais fazê-lo sem comprometer de forma relevante sua margem de lucro.
“É algo o que as empresas vem fazendo nos dois últimos anos, principalmente. Atualmente, pouquíssimas vão conseguir fazer, talvez algumas de grande porte. A opção inevitável é o repasse desse custo adiante, havendo um aumento, portanto, no frete que o consumidor irá pagar, seja qual for a mercadoria, além de causar um aumento generalizado na cadeia de suprimento e logística das empresas”, explica Marcella.
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Segundo ela, esses efeitos tendem a ser percebidos em diferentes tipos de transporte que dependem do diesel – seja na carga fracionada, que ocupa uma parte do caminhão, ou seja na carga fechada, quando o veículo é utilizado para transportar mercadoria de apenas um cliente.
“Isso inevitavelmente vai afetar o custo Brasil, em termos de logística, e vai agravar, como consequência, o quadro inflacionário do país, que já é alto”, diz a diretora da Abol.
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Marcella explica que, ao compartilhar o aumento do combustível de forma parcial ou integral com o cliente, as transportadoras correm o risco de perder contratos importantes com grandes empresas, que não aceitam o repasse de custo.
“O que alguns prestadores de serviços logísticos têm feito é incluir cláusulas em novos contratos, prevendo revisões de preços acordados a cada dois meses. Tem empresa prevendo reajustes mensalmente”, afirma a executiva. O desafio do setor é não perder negócios e a Abol acredita que empresas menores tendem a ser as mais prejudicadas, correndo risco de falência, por terem menos capacidade de repasse de custo.
“Ficamos completamente reféns das políticas adotadas pela Petrobras. Somos tratados como se não fossemos um elo importante na cadeia de suprimento e o aumento no combustível fosse algo completamente absorvível pelas empresas, o que não é verdade”, conclui Marcella.
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Combustível mais caro x ICMS
A redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), pretendida pelo governo, também perde força quando a Petrobras sobe o preço dos combustíveis, explicam os economistas.
“O corte do ICMS continua contando pra diminuir o preço na bomba. Mas o problema é que não há garantia de que o preço do petróleo vai se manter como está”, explica Paulo Azevedo, professor de Finanças Corporativas do Ibmec-SP. Para ele, caso a cotação internacional da matéria-prima se mantenha nos atuais patamares, a Petrobras conseguiria se manter alinhada aos preços do exterior sem fazer novos ajustes e a redução do ICMS manteria seu desconto real. “Mas essas medidas dependem de cenários que a gente não controla”, explica.
A inflação da cesta básica deve ser a primeira a acelerar com o combustível mais caro. Isso acontece porque muitos alimentos que chegam aos centros de distribuição, sobretudo de hortifrutigranjeiro, são produzidos por médios e pequenos produtores e transportadores por operadores logísticos de porte semelhante.
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“Uma parte da inflação do transporte é, sim, jogada pra frente, mas no caso dos alimentos, é coisa de uma duas semanas”, diz o professor.
Impacto para as concessionárias
Renato Hallgren, analista de transporte e logística, acredita que novos aumentos nos preços dos combustíveis poderão impactar o fluxo nas rodovias, sobretudo o de veículos leves, abastecidos à gasolina. No último sábado, o preço médio do combustível às distribuidoras passou de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro, uma alta de 5,18%.
“Não é algo que temos observado ainda. Por enquanto o fluxo desses veículos têm se reaproximado de patamares de antes da pandemia”, explica Hallgren. Mas a continuidade desse movimento vai depender de até quando os motoristas serão capazes de absorver a alta dos preços dos combustíveis.
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Os veículos leves respondem por cerca de metade de receitas de concessionárias como CCR (CCRO3) e EcoRodovias (ECOR3) e seu fluxos tem maior elasticidade – a demanda é mais sensível à variação de preços. Na opinião de Hallgren, a escalada dos combustíveis pode estar próxima de provocar um estrangulamento de demanda.
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