“Ilha de prosperidade”, agronegócio deve voltar a bater recorde de produção em 2017

Presidente da SNA vê condições melhores de clima e confiança dos produtores

Fernando Ladeira

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Se o cenário para a economia brasileira como um todo ainda é um tanto nebuloso para o próximo ano, não se pode dizer o mesmo sobre o agronegócio. A perspectiva é de crescimento da safra e retomada da confiança, em um setor que se apresenta protegido contra as incertezas provocadas pela administração de Donald Trump nos EUA. Essa é a visão de Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

“O agronegócio é uma ilha de prosperidade”, afirma. Alvarenga projeta a safra girando em torno de 215 milhões de toneladas para 2017, número ligeiramente mais otimista do que a segunda estimativa apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 210,1 milhões de toneladas. Esse seria um crescimento de 16,9% ante as 183,9 milhões de toneladas previstas para 2016 pelo IBGE. Se confirmado esse número, o Brasil voltará a bater o recorde de safra após o hiato desse ano, superando os 209,7 milhões de toneladas registrados em 2015.

Para o presidente da SNA, o setor não está imune à crise vista em outros setores, mas tem a vantagem de estar muito mais atrelado ao mercado internacional de alimentos. Soma-se a isso o fato de as incertezas que o primeiro ano de governo de Trump traz para o restante do mundo não serem tão expressivas nesse setor. Informações compiladas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a partir de dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mostram que o mercado norte-americano representa apenas 7% das exportações do agronegócio brasileiro no ano até outubro. O maior parceiro comercial do setor é a China, respondendo por 26% das vendas para o exterior.

A despeito desse cenário, o otimismo para o próximo ano tem duas explicações centrais: clima e confiança. Para o presidente da SNA, a confiança do setor melhorou após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. “A situação ainda é muito ruim, a dificuldade para sair dessa situação é grande, mas pelo menos o Brasil não vai passar por tantos sobressaltos como no passado”, explica. Para ele, anteriormente havia um elevado grau de incerteza sobre quais políticas econômicas o governo seguiria.

O novo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, também tem parcela de “culpa” por esse otimismo. “Ele pode surpreender positivamente o governo como um dos poucos ministros que está mostrando resultado”, afirma, elogiando a postura de apresentar uma agenda própria, voltado para a abertura de mercados internacionais para o agronegócio brasileiro.

Também pesa a favor o fato de a safra passada ter sido vendida a um dólar mais caro, o que ajudou a capitalizar os agricultores. Com mais recursos em caixa, muitos deles optaram por investir em máquinas, fertilizantes e na expansão da área plantada.

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A melhora do clima complementa o quadro para aumentar a confiança do setor, tendo em vista que, após os problemas climáticos enfrentados na safra em 2016, as projeções para 2017 são de um cenário mais normalizado.

Críticas e demandas

Mas nem tudo é otimismo no setor. O principal temor é de que elevação tributária nas exportações do agronegócio. “Isso é um verdadeiro absurdo, o setor não pode admitir isso, espero que o ministro Blairo Maggi consiga segurar qualquer ímpeto tributarista”, diz Alvarenga. Esse é um dos itens na pauta da reforma da Previdência, que atualmente prevê a isenção da contribuição previdenciária sobre as exportações rurais.

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Mas as principais críticas envolvem o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho. “A qualidade da gestão caiu demais, ele tem determinados conceitos ultrapassados do agronegócio em relação ao meio ambiente.” Uma das ações criticadas pelo presidente da SNA envolve a recente quebra do sigilo fiscal dos produtores agrícolas. “É como se o ministro da Fazenda divulgasse dados do Imposto de Renda da população”, ataca. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entrou com representação na Procuradoria-Geral da República contra o ministro por conta desse caso.

Quando se olha para o futuro, Alvarenga lista três demandas: reforma trabalhista, liberação na venda de terra para estrangeiros e melhorias na infraestrutura. O primeiro desses pontos está em discussão no governo de Michel Temer, mas a proposta deve ser enviada ao Congresso apenas no segundo semestre do próximo ano, segundo declarações do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. A venda de terras para estrangeiros também é tratada em projeto de lei, ainda a ser apreciado pela Câmara.

Já o último dos três pontos, as demandas quanto à infraestrutura, parece demorar mais para surtir efeito. “Nossa infraestrutura é muito ruim e leva muito tempo para consertar; tem melhorado, mas ainda é um fator de prejuízo muito grande”, alerta o presidente da SNA.

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