IFACC já liberou US$ 240 milhões para apoiar práticas sustentáveis no agro

Recursos estimularam sobretudo ações no Cerrado; meta é chegar a US$ 1 bilhão até o fim de 2025

Fernando Lopes

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A iniciativa Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC), lançada em novembro de 2021, durante a COP26 de Glasgow (Escócia), por The Nature Conservancy (TNC), Tropical Forest Alliance e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, fechou seus dois primeiros anos de atuação com o desembolso de US$ 240 milhões para financiar práticas agrícolas sustentáveis na Amazônia e no Cerrado. O objetivo, agora, é ganhar tração é chegar a US$ 1 bilhão até o fim de 2025 e a US$ 10 bilhões até 2030.

A IFACC conta, hoje, com 16 signatários, entre os quais a gigante de insumos Syngenta e o banco Santander, e juntos eles lançaram 11 produtos financeiros voltados a estimular a sustentabilidade no campo, incluindo restauração de florestas, recuperação de terras degradadas e estímulo a projetos com produtos florestais não madeireiros. Cerca de 95% dos recursos já liberados foram para ações no Cerrado. A diferença foi destinada a atividades na Amazônia. com foco em bioeconomia. O Chaco ainda é alvo de estudos e não foi contemplado.

Desenvolvido por Syngenta e Itaú, o programa Reverte, que oferece crédito de longo prazo (dez anos, com três de carência)  para a expansão da produção sustentável de soja em áreas de pastos degradados no Cerrado, com o uso de técnicas da agricultura regenerativa, é o principal cartão de visitas da IFACC até agora. O programa já liberou US$ 116,9 milhões – US$ 97,5 milhões em 2023 – e motivou a conversão de quase 83 mil hectares, mas tem a ambição de que essa área alcance 1 milhão de hectares nos próximos anos.

“Essa parceria entre uma grande empresa da cadeia do agro e uma instituição financeira é muito bem vista pelo mercado”, afirmou Marcela Paranhos, diretora de finanças agrícolas da TNC, ao IM Business. “Para realmente mudar o perfil de uso da terra, é preciso que o produtor tenha apoio financeiro. Estamos atuando pelo lado das finanças positivas, sobre quatro pilares: reconhecimento do valor da floresta em pé, pagamento direto pela área conservada, financiamento e assessoria para a regularização ambiental e fundiária, com assistência técnica”, disse ela.

Marcela Paranhos, diretora de finanças agrícolas da TNC (Divulgação)

Também estão sob o guarda-chuva da IFACC fundos de impacto, o programa SIMFlor, que provê suporte para a implementação das regras do Código Florestal brasileiro e remunera a conservação voluntária de excedentes de Reservas Legais, uma linha de financiamento de longo prazo (dez anos) do Rabobank Brasil voltada à adoção de boas práticas para a conversão de pastos degradados e uma emissão “verde” realizada pela fabricante de etanol de milho FS para que seus fornecedores do grão evitem desmatar suas fazendas, entre outras iniciativas. “Já temos instrumentos inovadores, e pretendemos continuar criando novos produtos, de preferência que possam ser replicados. Nosso foco principal, hoje, é ganhar escala”, afirmou Marcela.

Para esse ganho de escala, realçou, é importante atrair crédito subordinado, de forma que esse capital “catalítico” acelere os desembolsos e as metas para 2025 e 2030 sejam alcançadas. “Há muito apetite por ‘blended finance’, mas na maior parte dos casos há dificuldade em atrair crédito subordinado. Temos que corrigir esse gargalo. Um crédito mais ‘paciente’, com prazo de pagamento de dez anos, por exemplo, pode resultar em condições mais vantajosas para os financiamentos”, disse a executiva. No momento, destacou, a IFACC analisa diversas propostas de produtos apresentadas por gestoras e securitizadoras e a expectativa é diversificar o portfólio de instrumentos.