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SÃO PAULO – O Ibovespa opera em forte queda nesta segunda-feira (22) apesar de ter amenizado levemente em relação à mínima do dia, quando chegou a recuar mais de 5% a 111.650 pontos.
A baixa de hoje ocorre em meio à incerteza gerada pela decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras (PETR3; PETR4) por conta do reajuste de preços nos combustíveis. O general Joaquim Silva e Luna foi indicado para substituir o economista Roberto Castello Branco na presidência da estatal.
Ontem, a XP rebaixou a recomendação das ações da Petrobras de neutro para “venda” revisando, ao mesmo tempo, o preço-alvo do papel para R$ 24,00, de R$ 32,00: “não há mais como defender”, apontam os analistas.
“Embora não possamos tecer conclusões preliminares se a política de preços da Petrobras mudará sob uma eventual gestão do Sr. Silva e Luna, o que importa é a mensagem que está sendo transmitida ao mercado: está se tornando cada vez mais difícil do ponto de vista político para a Petrobras implementar uma política em que os preços dos combustíveis variam de acordo com as variações dos preços do câmbio e do barril de petróleo (principalmente no caso do diesel, dadas as pressões da categoria dos caminhoneiros)”, disseram os analistas da XP.
Investidores não sabem ainda qual é a extensão da guinada intervencionista do governo, eleito sob uma pauta liberal capitaneada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. No entanto, as perspectivas não são muito otimistas, principalmente depois de Bolsonaro dizer a apoiadores que também agirá na energia elétrica. “Vamos meter o dedo na energia elétrica, que é outro problema também”, afirmou, algo que deve pressionar as ações da Eletrobras (ELET3; ELET6).
De acordo com reportagem publicada no domingo pelo jornal Folha de S. Paulo, o presidente pressiona as equipes econômica e de energia por medidas para baixar a conta de luz. A ideia é usar R$ 70 bilhões de um fundo setorial e tributos federais para reduzir as tarifas, em um movimento atento para a disputa pela reeleição em 2022, segundo o jornal.
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Segundo Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria, os cenários macroeconômicos traçados até a semana passada colocavam no balanço de riscos questões como a pandemia de coronavírus, a trajetória de aumento da dívida pública em relação ao PIB e o possível retorno do auxílio emergencial.
“O que esse evento com a Petrobras introduz no horizonte é uma alteração da política econômica, de modo que se materializam riscos não só de saída do [ministro da Economia] Paulo Guedes, como também de redução na relevância de toda a equipe econômica do governo”, avalia.
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Às 15h06 (horário de Brasília), o Ibovespa tinha queda de 3,95%, a 113.746 pontos. As ações da Petrobras caíam 18,8% após chegarem a desabar 20%.
Enquanto isso, o dólar comercial opera em alta de 1,28% a R$ 5,4539 na compra e a R$ 5,4544 na venda. Já o dólar futuro com vencimento em março se valoriza em 1,33%, a R$ 5,456.
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No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 sobe nove pontos-base a 3,53%, o DI para janeiro de 2023 tem alta de 18 pontos-base a 5,31%, o DI para janeiro de 2025 avança 26 pontos-base a 6,95% e o DI para janeiro de 2027 registra variação positiva de 28 pontos-base a 7,61%.
Lá fora, as bolsas têm leves quedas. Alguns investidores estão temerosos quanto à rápida alta dos juros de títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos, que subiram 0,14 ponto percentual na semana passada, indo a 1,34%, o patamar mais alto desde fevereiro de 2020.
A alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro reflete a expectativa de recuperação da economia dos Estados Unidos após os efeitos da crise do coronavírus, com a aceleração do ritmo de vacinação e o plano do presidente Joe Biden de lançar um pacote de estímulos no valor de US$ 1,9 bilhão.
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Mas essa alta pode ter o efeito colateral de aumentar os custos de endividamento de companhias de alto crescimento, que dependem de empréstimos abundantes. Pode também reduzir a atratividade, comparativamente, do investimento em papéis listados nas bolsas.
Os investidores continuam a acompanhar o noticiário em torno da vacinação pelo mundo, apontado por muitos analistas como um dos principais fatores a determinarem o ritmo da recuperação das economias.
No domingo (21), a Casa Branca afirmou que espera a distribuição de milhões de vacinas cuja entrega atrasou após uma tempestade de inverno prejudicar a logística.
No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson deve detalhar nesta segunda como pretende encerrar as medidas de lockdown gradualmente nos próximos meses, à medida que a distribuição da vacinação mantém um ritmo forte. Espera-se que Johnson foque em dados sobre o avanço da imunização e anuncie a reabertura das escolas em 8 de março.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, deve realizar uma coletiva de imprensa nesta segunda a respeito do estado atual da pandemia.
Na segunda, as bolsas asiáticas tiveram em sua maioria baixas, após a China manter sua taxa de juros referencial inalterada no final de semana, em 3,85%, em linha com a expectativa de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters. As bolsas chinesas lideraram as perdas na região, enquanto o índice japonês Nikkei 225 contrariou a tendência, com altas.
Além disso, o primeiro-ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, pediu na segunda que o governo americano deixe de implementar aquilo que chamou de “supressão” de empresas americanas de tecnologia, como condição para fazer avançar a cooperação entre os Estados Unidos e a China.
A gestão do ex-presidente americano, o republicano Donald Trump, estabeleceu sanções contra dezenas de empresas chinesas nos últimos três anos, sob a justificativa de defesa da segurança nacional.
A gigante de tecnologia Huawei é uma das empresas mais proeminentes a sofrerem essas sanções, o que contribuiu para que caísse da primeira posição como vendedora de celulares no mundo para o último lugar em 2020.
Wang defendeu que os Estados Unidos removam tarifas e sanções, e “abandonem a supressão irracional do progresso tecnológico da China, criando as condições necessárias para a cooperação entre China e Estados Unidos”.
Relatório Focus
Os economistas do mercado financeiro reduziram suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, mostrou o Relatório Focus do Banco Central. A mediana das expectativas para o crescimento da economia caiu de 3,43% na semana passada para 3,29% agora. Já para 2022 a previsão se manteve em expansão de 2,50%.
Em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 a mediana das projeções subiu de 3,62% para 3,82%. Para 2022 as estimativas se mantiveram em avanço de 3,49% no medidor oficial de inflação.
Sobre o dólar, a projeção mediana dos economistas aumentou de uma taxa de câmbio de R$ 5,01 para R$ 5,05 ao final deste ano. Para o final de 2022 a expectativa é de que o dólar corresponda a R$ 5,00.
Por fim, as projeções para a taxa básica de juros, Selic, também foram elevadas. Se na semana passada a expectativa era de Selic em 3,75% ao ano no final de 2021, agora espera-se uma taxa em 4,00% ao ano no mesmo período. Para 2022 a mediana das projeções se manteve em 5,00% ao ano.
Pandemia e entrave sobre imunizantes
O consórcio de veículos de imprensa que sistematiza dados sobre Covid coletados por secretarias estaduais de Saúde no Brasil divulgou, às 20h de domingo (21), o avanço da pandemia em 24 h no país. A média móvel de mortes em 7 dias foi de 1.038, marcando 32 dias com a média acima da marca de mil mortes, alta de 2% em relação ao patamar registrado 14 dias antes. Em apenas um dia houve 554 mortes.
A média móvel de casos confirmados em 7 dias foi de 47.658, alta de 4% frente ao período encerrado 14 dias antes. Em apenas um dia foram registrados 29.035 casos.
Até o momento, 5.811.528 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid no Brasil, o equivalente a 2,76% da população. A segunda dose foi aplicada em 1.172.208 pessoas, ou 0,55% da população. Analistas vêm apontando a velocidade da imunização como um dos fatores a influenciarem a retomada da economia.
No domingo, o Ministério da Saúde divulgou uma nota em que afirma que mantém interesse em comprar imunizantes produzidos pela Janssen e parceria entre as farmacêuticas Pfizer e BioNTech, mas que as propostas “vão além da sua capacidade de prosseguir negociações”.
Em audiência no Senado na semana passada, o general Eduardo Pazuello, que comanda a pasta, afirmou que as cláusulas da Pfizer seriam “impraticáveis”, e que o laboratório impôs condições “leoninas”. A farmacêutica afirmou que as condições são as mesmas dos contratos de venda para outros países do mundo, inclusive na América Latina.
Na nota divulgada no domingo, o Ministério da Saúde afirmou que espera entre esta segunda e sexta uma orientação da Casa Civil da Presidência sobre como proceder para solucionar impasses nas negociações, que foram iniciadas em abril de 2020.
No sábado, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que deve se reunir nesta segunda com os representantes dos laboratórios Johnson & Johnson, dono da Janssen, e Pfizer, para realizar uma “ponte entre essas indústrias e o governo federal, porque há um entrave jurídico, há uma cláusula no contrato que diz que a indústria não se responsabiliza pelos efeitos negativos da vacina. E o governo não quer assumir esse risco”.
Na nota, o secretário-Executivo do ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou: “queremos salvar vidas e comprar todas as vacinas comprovadamente efetivas contra o coronavírus aprovadas pela Anvisa. Desde abril de 2020, começamos a conversar com a Janssen e um mês depois com a Pfizer, mas as duas empresas fazem exigências que prejudicam interesses do Brasil e cederam pouquíssimo nisso, ao contrário de outros fornecedores”.
Com o entrave nas negociações, o foco do governo federal continua sendo o imunizante desenvolvido pela parceria entre AstraZeneca e Universidade de Oxford, que ainda não começou, no entanto, a ser produzida no Brasil pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a Fiocruz deve receber mais dois milhões de doses do imunizante enviadas pela Índia. Outras oito milhões de doses devem ser importadas em dois meses pelo governo.
Além disso, em entrevista publicada nesta segunda no portal UOL, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), afirmou que o estado só tem recursos para manter o sistema de saúde funcionando para tratar pacientes de Covid por até três meses. O estado vive seu pior momento na pandemia, com internações em alta e hospitais lotados.
Cameli afirma que há queda no financiamento federal de leitos de terapia intensiva, pouca remessa de vacinas, e pede ajuda do governo. O estado foi atingido por enchentes que agravaram a crise humanitária marcada pela chegada de imigrantes haitianos barrados na fronteira com o Peru.
Radar corporativo
Além de monitorar Petrobras, os investidores acompanham o noticiário sobre as demais estatais. A Petrobras teve a recomendação reduzida para equivalente à venda pela XP Investimentos, Credit Suisse e Bradesco BBI, enquanto o Morgan Stanley retirou a sua recomendação para os ADRs da estatal. Já o Credit Suisse reduziu a recomendação para Eletrobras e para o Banco do Brasil para neutro.
Os investidores também monitoram a repercussão do anúncio na última sexta-feira de que a Lojas Americanas (LAME4) e B2W (BTOW3) irão criar comitês especiais independentes para avaliarem uma combinação de suas operações. A decisão ocorre em um momento de forte avanço do comércio eletrônico por conta da pandemia do coronavírus. Em comunicado, as empresas disseram que o resultado da combinação dos negócios será chamada Universo Americanas. Não houve detalhes, porém, de quando o movimento deve ocorrer.
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