SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira (29), encerrando uma semana bastante positiva, com ganho acumulado de 6,36%. Assim, o principal índice da Bolsa brasileira fechou o mês de maio no azul, contrariando o ditado “sell in may and go away”, com um avanço de 8,57%, o maior para um mês de maio desde 2009, quando o índice subiu 12,49%, segundo levantamento da consultoria Economatica.
Já o dólar comercial caiu 4,19% na semana e 1,79% no mês. Segundo Bruce Barbosa, analista da Nord Research, o dólar já tinha subido demais com uma busca de proteção pelos investidores.
Analistas apontam como os principais drivers do otimismo na Bolsa em maio a correção da queda de 45% do principal índice da B3 do topo de 12 de fevereiro ao ponto mais baixo deste ano em 23 de março, dia em que o Ibovespa fechou cotado em 63.569 pontos.
Além disso, Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset, ressalta a injeção de dinheiro por bancos centrais do mundo. “Há um pouco de artificialidade nessa alta, uma vez que os BCs despejaram US$ 14 trilhões nos sistemas financeiros globais para estimular a economia. Boa parte desse capital acabou investido no mercado financeiro.”
Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, concorda com essa visão, ressaltando que o Ibovespa espelhou parte dos ganhos do Dow Jones e do S&P 500 no mês. Os índices americanos, segundo ele, responderam muito bem aos estímulos promovidos pelos bancos centrais.
Outro fator de alívio para o mercado foi a redução momentânea nas tensões políticas após o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril se mostrar menos prejudicial ao presidente Jair Bolsonaro do que se antecipava.
A divulgação da gravação se deu ao mesmo tempo em que o governo acenava com uma pacificação das relações com o Congresso, que já se estremeceram novamente por conta das ameaças de Bolsonaro e seus aliados ao Supremo Tribunal Federal (STF) depois de operação da Polícia Federal que teve como alvos apoiadores do presidente da República.
De acordo com o analista da Nord, o vídeo reduziu drasticamente a chance de um impeachment de Bolsonaro no curto prazo, o que permite um respiro na Bolsa. Barbosa ressalta ainda que o “sell in may” é um fenômeno estatisticamente relevante, mas não uma lei.
Olhos no Trump
No pregão desta sexta, o grande fator que levou à alta das ações foi o alívio com a coletiva de imprensa do presidente americano Donald Trump, que não indicou qualquer intensão de desistir da primeira fase do acordo comercial fechado com a China no ano passado mesmo diante do recrudescimento das tensões com o país asiático.
Trump falou apenas que estuda restringir a entrada de chineses no país, mas sem dar detalhes sobre as restrições, e criticou a diferença de governança entre empresas americanas e chinesas com ações negociadas na bolsa de Nova York.
Com isso, o Ibovespa registrou alta de 0,52%, a 87.402 pontos, após chegar a cair mais de 1,5% no intraday por causa dos temores em torno do que Trump diria na coletiva de hoje. O volume financeiro negociado no pregão foi de R$ 40,739 bilhões.
Já o dólar comercial teve queda de 0,84% nesta sexta-feira, a R$ 5,3387 na compra e R$ 5,3404 na venda. O dólar futuro para julho caía 1,25%, a R$ 5,35, no after-market da B3 em dia de fechamento da Ptax.
No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 11 pontos-base, a 3,13%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de 14 pontos-base, a 4,22%, e o DI para janeiro de 2025 recuou também 14 pontos-base, a 5,97%.
Ontem, o Legislativo chinês aprovou uma lei de Segurança Nacional para a cidade de Hong Kong, que concentrou protestos contra Pequim no início do ano.
A medida irritou a administração de Trump, que acusa os chineses de tolher direitos e liberdade de expressão das pessoas de Hong Kong, uma ilha que possui relativa autonomia em relação a Pequim se comparado aos territórios continentais da China.
Por outro lado, o líder dos EUA causou alguma preocupação ao investir pesado contra as redes sociais. Hoje ele voltou à carga no Twitter escrevendo que a rede “não fez nada sobre as mentiras e propagandas da China ou do partido Democrata de esquerda radical”. Na opinião de Trump, o Twitter e outras plataformas de comunicação atacam apenas republicanos e conservadores.
Ele ameaça revogar a Seção 230 da “Communications Decency Act of 1996 (CDA)”, segundo a qual nenhum provedor de internet ou plataforma pode ser responsabilizado por discursos difamatórios.
Por aqui, foi divulgado o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que registrou uma contração de 1,54%, em linha com a mediana das projeções dos economistas compilada no consenso Bloomberg. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pegam o início dos impactos do coronavírus na economia brasileira.
Câmbio
Na noite de quinta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autarquia estava preparada para atuar de mais intensa no mercado de câmbio, mas que o real passou a se valorizar.
“Nós fizemos intervenções maiores, até estávamos preparados em algum momento para fazer uma intervenção maior, acabou que o câmbio voltou recentemente um pouco”, disse em transmissão pela internet realizada pelo BTG Pactual.
Apesar de estar preparado para intervir, Campos Neto reforçou que o câmbio é flutuante. O presidente do BC falou ainda que mesmo com os juros baixos, em 3% ao ano, a política monetária não está esgotada.
Noticiário corporativo
O varejo segue sendo um dos setores mais afetados pelas medidas restritivas geradas pelo coronavírus. A piora dos resultados têm sido mais intensa nas empresas desse segmento.
A Lojas Marisa registrou no primeiro trimestre do ano um prejuízo líquido de R$ 107,1 milhões, antes R$ 32,4 milhões nos primeiros três meses de 2019.
A receita líquida somou entre janeiro e março R$ 571,7 milhões, uma queda de 5,4%. O desempenho do canal de venda eletrônico contribuiu para amenizar à queda das vendas nas lojas físicas a partir de meados de março. O aumento foi de 47,3%.
Já a Cia. Hering registrou no primeiro trimestre do ano um lucro líquido de R$ 5 milhões, queda de 89,2% na comparação com igual período de 2019.
A empresa informou que cerca de 30% de suas lojas estão abertas atualmente e que as operações fabris foram parcialmente retomadas.
Já a fabricante de móveis Unicasa, dona das marcas Dell Anno e Favorita, teve prejuízo de R$ 108 milhões, ante R$ 2,973 bilhões de lucro em igual período do ano passado.
No caso da Cosan Logística, prejuízo líquido foi de R$ 80 milhões no primeiro trimestre do ano, ante lucro de R$ 7 milhões em igual período do ano passado.
A Eletrobras, por fim, reportou lucro líquido de R$ 306,83 milhões no primeiro trimestre de 2020, o que representa queda de 77,23% na comparação com o lucro líquido de R$ 1,347 bilhão de igual período do ano anterior.
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